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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

O que procurar no Inverno: o salgueiro-preto

 A natureza começa a dar os primeiros sinais da chegada da estação mais florida do ano.


As pequenas mudanças que já se sentem indicam que o inverno está quase a terminar e que a primavera está a dar os primeiros passos. Algumas plantas começam a formar os primeiros rebentos e as primeiras folhas, outras começam a brindar-nos com as suas flores.

O salgueiro-preto (Salix atrocinerea) é uma das espécies que começam agora a florir, ainda antes de formar as suas primeiras folhas.

Salgueiro-preto

O salgueiro-preto, também conhecido como borrazeira-preta ou cinzeiro, é uma espécie nativa que pertence à família das Salicaceae, que engloba muitas outras espécies presentes em Portugal, tais como o choupo-negro, o choupo-branco, ou o salgueiro-branco. 

É uma pequena árvore de folha caduca, que raramente ultrapassa os 10 metros de altura. A copa destas árvores é pouco densa e a casca do tronco é cinzenta e lisa e vai-se tornando mais fendida e acastanhada, com a idade.

Foto: Krzysztof Ziarnek/Wiki Commons

As folhas são simples, ligeiramente lanceoladas, com a forma da ponta de uma lança, e um pouco mais largas na zona do ápice, ou seja, na sua extremidade. São verdes na página superior e esbranquiçadas na página inferior, o que se deve à presença de pelos brancos, compridos e macios, misturados com algum indumento avermelhado.

Foto: AnRo0002/Wiki Commons

Quanto às estípulas, são bem pronunciadas. Trata-se de estruturas semelhantes a pequenas folhas, geralmente aos pares, que se encontram na base do pecíolo (haste que prende a folha ao caule ou ao ramo) ou do limbo (parte principal da folha), e que têm como função a proteção dessas zonas.

A floração ocorre entre janeiro e abril e as flores podem apresentar tons verdes, brancos ou amarelados. É uma espécie de floração dióica – com flores masculinas e femininas, que ocorrem em indivíduos diferentes – e que se encontram agrupadas em inflorescências. As flores muito pequenas surgem em espigas longas e verticais – chamadas amentilhos – antes das folhas que se abrem da base para o topo. As flores são desprovidas de pétalas e são cobertas de pelos longos e macios.

Foto: Krzysztof Ziarnek/Wiki Commons

Já o fruto do salgueiro-preto é uma cápsula pilosa, também ela coberta de pelos, e que abre em duas valvas ou metades. A sua maturação ocorre entre abril e maio.

Espécie ribeirinha

O salgueiro-preto é uma espécie nativa da Europa atlântica e norte de África. Em Portugal pode encontrar-se em todo o território nacional, particularmente junto às margens de linhas de água e em locais húmidos e alagados. Forma, em associação com outras espécies, como o amieiro e outros salgueiros, bosques característicos das zonas ribeirinhas, as chamadas galerias ripícolas.

É uma espécie de luz, com necessidade permanente de humidade no solo. Tem preferência por solos ácidos, é pouco tolerante a temperaturas extremas, mas suporta bem ventos fortes. É uma árvore muito resistente à poluição urbana.

Foto: AnRo0002/Wiki Commons

O habitat preferencial desta espécie e algumas características morfológicas muito particulares são responsáveis pela sua designação científica. O nome do género Salix deriva do celta Sal-, que significa “próximo”, e -lis de “água”, ou seja, “próximo da água”, locais permanentemente húmidos. O restritivo específico atrocinerea deriva do latim, do prefixo atro-, que significa “escuro” e de –cinereus, que significa “cinza”, em referência ao aveludado acinzentado que cobre as suas folhas e ramos jovens. 

Botanicorum crux et scandalum

O género Salix compreende cerca de 500 espécies, a maioria das quais apenas com desenvolvimento arbustivo. Em Portugal, constitui o principal elemento da flora ripícola, não só pela sua frequência nestes ecossistemas mas sobretudo pelo número elevado de espécies que o compõem, além da enorme capacidade que tem de hibridar com outras espécies do mesmo género.

Este é considerado um dos géneros mais complexos da Flora, sendo apelidado por muitos botânicos de botanicorum crux et scandalum, que significa “o botânico cruza o obstáculo”. Apesar da inúmera bibliografia especializada sobre o género e mesmo com a evolução do conhecimento científico, da botânica em particular, dos estudos moleculares e genéticos, a sua correta identificação e determinação continua a ser um problema.

Foto: AnRo0002/Wiki Commons

Esta pequena árvore tem múltiplas aplicações. É uma planta melífera, importante pela sua floração precoce, e devido ao seu extenso e profundo sistema radicular é muito utilizada para estabilizar terrenos e para combater a erosão. Tem assim um papel importante na engenharia biofísica, na recuperação e estabilização de margens ribeirinhas, e constitui também uma boa barreira contra o vento. 

Os seus ramos, por terem muito nós, são utilizados em cestaria, enquanto que a sua madeira clara é utilizada em marcenaria. As suas folhas são um óptimo alimento para os animais.

Do ponto de vista medicinal, sendo uma espécie do género Salix, sabe-se que o salgueiro-preto contém salicina, substância extraída da casca do tronco, a partir da qual se obtém o ácido acetilsalicílico, utilizado no tratamento de febre, dores de cabeça, diarreia, etc. É a substância base da Aspirina, comercializada desde 1899, e é considerada uma das cem mais importantes descobertas do século XX.

Foto: AnRo0002

Nos últimos anos, esta planta tem sido experimentalmente utilizada no tratamento de águas poluídas, devido à sua capacidade de absorção e de transformação de substâncias poluentes em matéria orgânica. 

Por outro lado, a este género Salix são atribuídas algumas características mágicas e feitiçarias. Um exemplo disso é a palavra inglesa “witch”, que significa bruxa e que provém da designação dos salgueiros em inglês “willow”, por se acreditar que era debaixo destas árvores que as bruxas faziam as suas magias e feitiçarias.

Na mitologia romana, o salgueiro também teve um importante papel. Era uma árvore consagrada à deusa Juno, rainha dos Deuses, e representava a união, a fidelidade e a proteção às mulheres. Tinha propriedades para deter hemorragias e para evitar o aborto.

 Na China, onde é cultivado com a finalidade de criar barreiras contra o vento e proteger os campos agrícolas, é tradicionalmente símbolo de imortalidade.

Lembrem-se, a natureza está cheia de histórias por desvendar e as espécies nativas têm um papel importante nos nossos ecossistemas, pelo que temos de as preservar.

Carine Azevedo

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