Foto: Albano Soares |
As zonas húmidas são uma reserva de biodiversidade de importância capital para o funcionamento dos nossos ecossistemas, explica Albano Soares, entomólogo do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal.
Graças a elas podemos avaliar qual a saúde dos nossos recursos hídricos e de toda a vida no planeta que depende diretamente da disponibilidade de água.
“Sabemos hoje que quanto mais biodiversos forem esses ecossistemas, maior será a funcionalidade das cadeias tróficas. Isso significa um ambiente mais saudável para todos, inclusive para a nossa própria espécie.”
Hoje, Portugal tem 31 Zonas Húmidas de importância internacional, reconhecidas pela Convenção de Ramsar. Juntas representam uma área de 132,487 hectares. A sua importância é celebrada a 2 de Fevereiro, no Dia Mundial das Zonas Húmidas.
Ainda assim, as zonas húmidas são áreas onde a atividade humana exerce grandes pressões.
“As áreas costeiras estão sujeitas à pressão imobiliária, turística, hortícolas em estufas, etc., e a todo um arco de más opções relacionadas com o crescimento populacional e necessidades económicas inerentes: desordenamento, poluição, introdução de espécies invasoras. Nas últimas décadas, também enfrentam a ameaça das alterações climáticas que sabemos serem fruto da ação humana.”
Nos últimos anos têm sido “notórias as preocupações com as zonas húmidas por parte de várias entidades” e há “legislação para a proteção desses ecossistemas”. Contudo, “ainda muito necessita ser feito e nunca é demais insistir na proteção dessas áreas, tão frágeis e vitais para todos nós”.
Alguns dos animais e plantas dessas áreas estão já no limite.
“Nos insetos, a ordem Odonata (libélulas e libelinhas) por imperativos da sua biologia são um dos grupos mais ligados a grande parte das zonas húmidas.”
Cerca de 17 espécies de libélulas e libelinhas poderão estar ameaçadas e algumas até no limite, segundo os trabalhos ainda provisórios da Lista Vermelha dos Invertebrados de Portugal Continental.
Deste grupo, estas seis espécies têm pouco mais de um punhado, ou até menos, de locais conhecidos em território nacional:
Lestes-das-marismas, Lestes macrostigma (Eversmann, 1836):
Foto: Albano Soares |
Conhecem-se meia dúzia de pontos onde esta espécie tem registos no nosso território. Em metade desses pontos já não é observada há anos. Reproduz-se em lagoas costeiras, algumas até com influência marítima, no Algarve. Está ameaçada por alterações no habitat devido à grande pressão urbanística que se faz sentir também naquela região do pais.
Tira-olhos-dos-juncos, Aeshna juncea (Linnaeus, 1758):
Foto: Albano Soares |
Em Portugal conhecem-se populações no planalto central da Serra da Estrela e uma única população numa lagoa na Serra do Gerês. No sul da Europa, esta espécie está limitada às montanhas com relevante habitat subalpino e alpino. A espécie é ameaçada pelas alterações climáticas e, no caso da Serra da Estrela, pelo turismo que pressiona as lagoas de altitude onde se reproduz.
Tira-olhos-peludo, Brachytron pratense (Muller, 1764):
Foto: Albano Soares |
Espécie que habita valas e lagos costeiros. Conhecem-se hoje 7 pontos no mapa onde esta espécie tem registos. Os habitats onde se reproduz estão ameaçados por pressão da construção imobiliária e por plantas aquáticas invasoras que atapetam agora grande parte das lagoas e valas.
Libélula-delgada, Libellula fulva Muller, 1764:
Foto: Albano Soares |
Em Portugal só se conhecem populações na área lagunar do pinhal entre Mira e Quiaios (Centro) e no Algarve. No centro, os efetivos parecem reduzirem-se de ano para ano, da mesma forma que o tapete de plantas aquáticas invasores vai aumentando.
Libélula-de-asas-vermelhas, Sympetrum flaveolum (Linnaeus, 1758):
Foto: Albano Soares |
No nosso território só são encontradas populações no planalto central da Serra da Estrela. Os fatores de ameaça são as alterações climáticas e o turismo que pressiona as lagoas de altitude onde se reproduz esta libélula.
Libélula-preta-do-Algarve, Selysiothemis nigra (Vander Linden, 1825):
Foto: Albano Soares |
Esta espécie tem cinco pontos no mapa do território nacional onde são conhecidos registos. Está ameaçada por perda de habitat para a construção imobiliária nas áreas costeiras onde se encontram a maior parte das populações.
Libélula-das-cascatas, Zygonix torridus (Kirby, 1889):
Foto: Albano Soares |
Esta espécie só foi observada em 4 pontos, todos no Algarve. Em três desses pontos nunca mais foi reencontrada e só se conhece um ponto onde se reproduz regularmente e com sucesso, um ribeiro na Serra de Monchique.
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