A tradição perde-se no tempo, remonta a épocas distantes, resiste contudo, na pequena aldeia de Podence, o entrudo chocalheiro, o carnaval dos caretos, o mais genuíno de Portugal, reconhecido pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade, não deixou de assinalar a quadra e fê-lo em três momentos distintos.
No domingo os caretos engalanados com os seus fatos coloridos, mostraram-se à varanda e á janela, soltaram os seus gritos de guerra, chocalharam figuras transeuntes imaginários, sorriram para as fotos e para as imagens transmitidas pela redes sociais e media, sem público, mas com a alma e orgulho com o peso da história escondido pela máscara.
Na segunda-feira foi a vez de vários carnavais UNESCO se juntarem numa conferência Internacional (online), para troca de experiências e apresentar as suas manifestações culturais de carnaval e mascaradas de outras zonas do mundo, nomeadamente da Bélgica, Grécia, França, Hungria, Colômbia, Brasil e Espanha. Daqui saiu o desafio para no futuro estes carnavais se juntarem para um evento de cariz mundial. Todas estas tradições já reconhecidas pela UNESCO, são um parente, primos distantes dos caretos de Podence.
Na terça, dia de carnaval, foi assinalado pelos caretos com uma homenagem a todos os portugueses na pessoa do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a apresentação de um mural “Sentir Portugal”, naquela que é a rua mais colorida de Portugal, com treze grandes murais e não param por aqui.
Depois foi o dia da queima do coronavírus, a tradicional queima do entrudo que este ano simbolizava o malfadado vírus que paralisa o mundo e que reduziu de 50 mil para zero o público em Podence. Na cerimónia só estavam os caretos e a comunicação social, mas deu para sentir o quão arreigada é esta tradição e a esconjura de todos os males nas labaredas que assinalam o fim da zona escura e o inicio da primavera ancestral.
António Carneiro, o Presidente da Associação de Caretos, lamenta a ausência de outras manifestações tradicionais, como os casamentos e outras atividades do entrudo chocalheiro, em declarações ao Diário de Trás-os-Montes disse “foi o entrudo possível, não quisemos deixar de assinalar a data, dentro das normas da DGS, sempre com distanciamento e sem público”.
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