Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 15 de outubro de 2022

O que procurar no Outono: as pereiras-bravas

 Carine Azevedo apresenta-nos duas curiosas plantas nativas, pertencentes ao mesmo género e que partilham o mesmo nome comum, cujos frutos por estes dias alimentam as aves e outros animais.


O outono chegou e com ele chegaram também as castanhas, as uvas, as abóboras, as tangerinas, os marmelos, as peras e as maçãs.

Os dias ficam mais curtos do que as noites, as temperaturas começam a descer, os ventos também aumentam e há uma maior probabilidade de ocorrência de nevoeiros. Em anos normais também é natural que ocorram períodos mais prolongados de chuva.

As folhas de algumas árvores começam a mudar de cor, passando para tons de amarelo, vermelho ou castanho, acabando por cair sobre o solo, deixando os ramos despidos. 

A transformação e a queda das folhas é a característica mais marcante da estação e trata-se de uma estratégia das plantas para se protegerem do frio do inverno. Com esta estratégia as plantas reduzem ao máximo o seu gasto de energia, entrando num período de repouso vegetativo.

Mas nem todas as plantas perdem as suas folhas no outono. A queda das folhas só ocorre em algumas plantas – caducifólias. As plantas perenifólias conservam as folhas ao longo de todo o ano. Nestas plantas o processo de renovação das folhas é quase imperceptível. Estas plantas crescem o ano inteiro, embora o seu crescimento seja mais lento na estação mais desfavorável.

Além disso, é nesta estação que muitas plantas amadurecem os seus frutos, resultado dos meses de primavera e de verão, altura em que floriram e os formaram. O Outono é por isso também conhecido como a estação de produção de muitos frutos, fundamentais para a vida selvagem, mas também ao ser humano.

A pereira-brava (Pyrus cordata) é uma das árvores cujos pequenos frutos amadurecem no final do verão e no outono. Venham conhecer melhor esta interessante espécie nativa.

Rosaceae

A pereira-brava é uma espécie da família Rosaceae, que inclui cerca de 6000 espécies distribuídas por 144 géneros botânicos. 

A família Rosaceae inclui muitas espécies conhecidas e com elevado valor económico pelo seu interesse alimentar, ornamental e também na produção de madeira. A macieira (Malus domestica), o pessegueiro (Prunus persica), a nespereira (Eryobotria japonica) e o morangueiro (Fragaria x ananassa) são algumas das espécies desta família com interesse alimentar. Já com interesse ornamental, destacam-se as roseiras (Rosa spp.) os cotoneasteres (Cotoneaster spp.), as piracantas (Pyracantha spp.) e, na produção de madeira, a cerejeira-brava (Prunus avium).

Pilriteiro. Foto: Jean-Pol GRANDMONT/Wiki Commons

Os membros desta família distribuem-se um pouco por todo o mundo, mas a sua maior diversidade ocorre no Hemisfério Norte. Em Portugal, ocorrem cerca de 75 espécies, distribuídas por 19 géneros botânicos. 

Algumas das espécies mais conhecidas são a silva (Rubus ulmifolius), o pilriteiro (Crataegus monogyna), a cerejeira-brava (Prunus avium) e o azereiro (Prunus lusitanica), mas também podemos encontrar outras espécies como o abrunheiro-bravo (Prunus spinosa), a grinalda (Spiraea hypericifolia subsp. obovata), a roseira-brava (Rosa sempervirens), a macieira-brava (Malus sylvestris), a pereira-brava (Pyrus spp.), a tramazeira (Sorbus aucuparia), o morangueiro (Fragaria vesca) e tantas outras.

Tramazeira. Foto: Eeno11 / Wiki Commons

O buxo-da-rocha (Chamaemeles coriacea) e a Marcetella maderensis são espécies endémicas do Arquipélago da Madeira, ou seja, exclusivas da região, não existindo em mais nenhuma parte do mundo.

Pereira-brava

A pereira-brava é também conhecida vulgarmente como espinheiro, escalheiro, escambrão, escalheiro-manso, escambroeiro ou periqueiro.

É uma árvore caducifólia, por vezes arbustiva, que pode crescer até quinze metros de altura. Forma copas irregulares, mais ou menos piramidais, com ramos ereto-patentes, glabros, espinhosos e avermelhados. Os ramos são abundantes em lenticelas. 

As folhas são orbiculares a ovadas, mais ou menos acuminadas a cuspidadas no ápice, truncadas a cordadas na base. São densamente tomentosas na fase inicial de formação, tornando-se depois glabras, e possuem margem serrilhada a crenada e pecíolo fino.

Foto: Valentin Hamon/Biodiversity4All

A floração ocorre de março a junho. As flores são hermafroditas (femininas e masculinas), surgem em inflorescências cimeiras corimbiformes, e são polinizadas por insetos. As inflorescências ocorrem na extremidade dos raminhos. Os raminhos são densamente peludos e tornam-se glabros na frutificação. 

As flores florescem em simultâneo com o abrolhamento das primeiras folhas. Possuem simetria radial, corola branca com cerca de dois centímetros de diâmetro e sépalas verdes, muito peludas.

Foto: José Luis Romero Rego/Biodiversity4All

Já os frutos amadurecem no final do verão e no outono. O fruto é um pomo pequeno, característico de algumas espécies desta família (ex. maçã, pera, marmelo, etc.). É vulgarmente conhecido como perico, daí o seu nome vulgar periqueiro.

O pomo da pereira-brava é um fruto carnudo, de forma globosa a obovóide, muitas vezes piriforme, de casca lisa, avermelhada, amarelada ou acastanhada e brilhante, com cálice caduco, raramente persistente. Os pedúnculos são flexíveis e finos.

Foto: Felipe Castilla Lattke/Biodiversity4All

Por sua vez, as sementes são negras, ovadas, compridas e lisas.

A designação científica desta espécie deve-se às características morfológicas das suas folhas e dos seus frutos. O nome do género Pyrus é o nome clássico para a pera, deriva do termo grego Pyrós que significa “fogo” devido à forma cónica dos frutos. Por sua vez, o epíteto específico cordata procede do latim cordatus = cordado, que significa em forma de coração, alusivo à forma das suas folhas.

Origem e habitat

A pereira-brava é uma planta nativa de biomas temperados, predominantemente da região oeste do Mediterrâneo, em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Marrocos e Argélia.

Em Portugal Continental ocorre nas regiões do Norte e Centro, sendo frequente na orla e clareira de florestas caducifólias, matagais abertos, sebes, terrenos incultos e em baldios.

A pereira-brava cresce preferencialmente em locais ensolarados e não é muito exigente a nível edáfico, embora se desenvolva melhor em solos frescos e discretamente férteis. É uma espécie tolerante à poluição atmosférica, resistente à seca, a temperaturas baixas, até -7ºC, e a níveis de humidade extrema, embora não resista a solos alagados.

Foto: Paulo Alves/Biodiversity4All

É comum encontrar-se esta planta em associação com outras espécies nativas, como por exemplo: a urze-branca (Erica arborea), o carvalho-negral (Quercus pyrenaica), o azevinho (Ilex aquifolium), o pilriteiro (Crataegus monogyna), o loureiro (Laurus nobilis), o medronheiro (Arbutus unedo), o sobreiro (Quercus suber), entre outras.

Papel ecológico importante

A pereira-brava é uma espécie selvagem aparentada da pereira-doméstica, desempenhando um papel importante na alimentação de muitos seres vivos e como habitat de nidificação de diversas espécies de aves.

Os melros (Turdus merula) e os tordos (Turdus philomelos) são algumas das espécies que se alimentam dos seus frutos e usam estas pequenas árvores para aí fazerem os seus ninhos. As lagartas de algumas borboletas abrigam-se e alimentam-se da sua folhagem.

Os seus frutos possuem um sabor agridoce e, embora pequenos, são usados na alimentação quando bem maduros, frescos ou cozinhados. Também é comum a sua utilização no fabrico de bebidas alcoólicas.

Esta planta é cultivada como ornamental, embora seja pouco comum em jardins e outros espaços verdes nacionais. A madeira, resistente, fácil de trabalhar e de polir, é ideal para utilização em marcenaria.

A pereira-brava é usada como porta-enxerto de outras espécies de pereira, para obter híbridos mais produtivos e mais resistentes.

Pyrus bourgaeana – a outra pereira-brava nativa

Foto: Arsenio Gonzalez Navarro/Biobiversity4All

Além da espécie Pyrus cordata, em Portugal ocorre uma outra espécie do género Pyrus, partilhando ambas o mesmo nome comum. A Pyrus bourgaeana é vulgarmente conhecida como pereira-brava, carapeteiro, catapereiro, cachipirro, saramenheiro ou seraminheiro. Morfologicamente, esta espécie é muito semelhante ao Pyrus cordata. 

A Pyrus bourgaeana tem geralmente um porte arbustivo, embora possa atingir até dez metros de altura e formar pequenas árvores. A copa é ampla, irregular e espinhosa. Os ramos são ereto-patentes e revestidos por abundantes lenticelas.

As folhas são caducas, ovadas a cordiformes, mais ou menos acuminadas, de base truncada ou cuneada, possuem margem crenada e um pecíolo longo. São muito peludas quando começam a desenvolver-se, tornando-se glabras e coriáceas com o tempo. A página-superior das folhas é verde e brilhante e no outono assume um tom avermelhado antes de cair.

A floração ocorre um pouco mais cedo, de fevereiro a abril. As flores são brancas e numerosas e surgem em inflorescências corimbiformes, na extremidade dos ramos. São formadas por cinco pétalas brancas ou rosadas e por numerosos estames com anteras avermelhadas.

Foto: jaimebraschi/Biodiversity4All

Os pedúnculos frutíferos são grossos e rígidos, enquanto na Pyrus cordata são finos e flexíveis.

Já o fruto é um pomo em forma de pêra, esverdeado a amarelado, ligeiramente maior que o da Pyrus cordata. O cálice do fruto é persistente; já na Pyrus cordata, é caduco.

 As sementes são negras, mais ou menos ovadas, compridas e lisas.

Esta espécie é mais comum na região Sul de Portugal Continental, embora também ocorra no Interior Norte e Centro, em orlas e clareiras de bosques perenifólios, matagais abertos, montados, terrenos incultos, baldios e, por vezes, perto de linhas de água temporárias.

Os frutos alimentam diversas aves e mamíferos durante o outono, embora o seu consumo humano não seja convidativo, já que têm uma polpa dura, áspera e um sabor amargo.

Foto: Duarte Frade/Biodiversity4All

A sua madeira e a sua capacidade de enxertia com outras pereiras e macieiras são muito apreciadas.

Aproveite os dias de outono para explorar a natureza e procurar qualquer uma destas espécies que ainda poderá encontrar com os pequenos frutos. 

Tente identificar a espécie, fotografe e partilhe as suas fotografias nas redes sociais, com #oqueprocurar #plantasdeportugal #floranativa e  #àdescobertadasplantasnativas.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Caducifólia – espécie cuja folha cai espontaneamente na estação do ano mais desfavorável.
Perinifólia – planta que tem um ciclo de vida longo e que viver três ou mais anos e/ou que mantém as folhas verdes ao longo de todo o ano, fazendo a sua renovação gradual sem que fique despida. 
Patente – que se insere segundo um ângulo próximo de 90º
Glabro – sem pêlos.
Lenticela ou Lentícula – saliência, circular, oval ou alongada, no tecido suberoso do caule que permite trocas gasosas entre o interior e o exterior da planta e que se formam geralmente associadas a estomas.
Orbicular – com formato ou contorno circular ou quase.
Acuminada – folha cuja ponta é geralmente aguda e mais estreita que a restante parte e com os lados ligeiramente côncavos.
Cuspidada – com ápice agudo e rígido, não muito longo.
Truncada – que termina por uma linha ou plano perpendicular ao comprimento ou à altura.
Cordada – base com dois lobos arredondados e subiguais separados por uma reentrância mais ou menos profunda e estreita.
Serrilhada – a margem da folha é serrada, com dentes muito pequenos.
Crenada – a margem da folha possui recortes arredondados.
Pecíolo – pé da folha que liga o limbo ao caule.
Limbo – parte larga de uma folha normal.
Hermafrodita – flor que possui órgãos reprodutores femininos (carpelos) e masculinos (estames).
Inflorescência – forma como as flores estão agrupadas numa planta.
Cimeira – inflorescência com crescimento limitado, terminando numa flor, assim como os seus ramos laterais.
Corimbiforme – inflorescência com crescimento limitado, em que as flores se situam mais ou menos ao mesmo nível devido ao comprimento gradualmente inferior dos pedicelos ao longo do eixo.
Corola – conjunto das pétalas (peça floral, geralmente colorida ou branca), que protegem os órgãos reprodutores da planta.
Sépala – peça floral, geralmente verde, que forma o cálice e que protege externamente a flor.
Pomo – fruto carnudo e indeiscente, de forma esférica.
Carnudo – fruto Suculento mas firme.
Indeiscente – fruto que não se abre naturalmente quando maduro, não libertando as sementes.
Piriforme – em forma de pera.
Pedúnculo – “Pé” que sustenta o fruto.
Cordiforme – com forma de coração.
Cuneada – base em forma de cunha (base estreita e aguda).
Coriácea – que tem uma textura semelhante à casca da castanha ou do couro.
Estame – órgão reprodutor masculino da flor, onde se produz o pólen, formado geralmente por filete e antera.
Antera – porção terminal do estame onde são produzidos os grãos de pólen.

Carine Azevedo

Sem comentários:

Enviar um comentário