O Porco no Rifoneiro Português
Ao longo dos tempos, o povo elaborou um conjunto de expressões, rifões, provérbios ou ditos populares, sobre o porco.
Deixamos aqui alguns recolhidos e sistematizados em três grupos:
1.- Economicamente, o porco é um tesouro, um bom negócio, uma exigência:
– Amigo velho, toucinho e vinho velho;
– Bácoro em Janeiro com seu pai vai ao fumeiro;
– Bácoro de meias não é meu;
– Bácoro fiado, bom Inverno e mau Verão;
– Com um pedaço de toucinho, leva-se longe um cão;
– Cozido sem toucinho e mesa sem vinho não valem um tostão;
– Dia de Santo André, quem não tem porco mata a porca, que é a mulher;
– Em Abril, mete o porquinho no covil;
– Em Abril, ronca o porco no covil;
– Em Janeiro, um porco ao sol outro ao fumeiro;
– Fiambre e fiado sabem bem e fazem mal;
– Morto por morto, antes a velha (a abelha) que o porco;
– No dia de Santo André, diz o porco: qui é, qui é!
– No dia de Santo André, vai à esquina e traz o porco pelo pé;
– No dia de São Martinho, mata o teu porco e bebe o teu vinho;
– No dia de São Tomé, pega o porco pelo pé; se ele disser que é, que é, diz-lhe que tempo é; e se ele disser que tal, que tal, guarda-o para o Natal;
– No dia de São Tomé, quem não tem porco mata a mulher;
– O boi e o leitão em Janeiro engordarão (criam rinhão);
– O leitão e os ovos, dos velhos, fazem novos;
– O porco, com sua licença, se tivesse asas era a melhor das aves; se tivesse barbatanas, o melhor dos peixes;
– Pelo Santo André, quem não tem reco mata o homem;
– Pelo S. Barnabé, faz o porquinho cué, cué; e se disser que não, diz-lhe que tempo já é;
Mais alguns provérbios…
– Pelo S. Lucas, mata o teu porco e tapa as tuas cubas;
– Pelo S. Martinho, mata o porquinho, prova o vinho e semeia o cebolinho;
– Pelo São Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e bebe o teu vinho;
– Porco, no São João, meão; se meão se achar, podes continuar; se mais de meão, acanha a ração;
– Porco que nasce em Abril, vai ao chambaril;
– Porco rabão nunca enganou o patrão;
– Porco safio, porco de brio;
– Porcos de Abril vão com a mãe ao chambaril;
– Quando estiveres morto, torna-te à ovelha e ao porco;
– Quando não há lombo, linguiça como;
– Quando o teu vizinho matar um porco, mata tu também nem que seja um tordo;
– Quando te derem o bacorinho, deita-lhe (bota-lhe) logo o baracinho;
– Quando te derem um porquinho, acode logo com o baracinho;
– Se matares um leitão, mostra-o ao juiz e dá-o ao escrivão;
– Se te derem um leitão, mostra-o ao juiz e dá-o ao escrivão;
– Tenhas porco e não tenhas olhos;
2.- O reco, na práxis, é um livro aberto, biológica e moralmente:
– Aí é que a porca torce o rabo;
– A mau bácoro, boa lande;
– Anel (arganel) de ouro em focinho de porco;
– Ao porco e ao genro, mostra-lhe a casa, e ele virá cedo;
– A porca, apenas lavada, revolve-se na lama;
– A porco gordo, unta-se-lhe o rabo;
– Auxiliar ingratos é deitar pérolas a porcos;
– Babujado de cão faz o menino são, babujado de porco faz o menino morto;
– Branco ou preto, um porco é um porco;
– Cavalo de olho de porco, cachorro calado e homem de fala fina, sempre se relancina;
– Com que sonhas, porco? Com a bolota;
– De rabo de porco, nunca bom virote;
– Dia de barba, semana de porco, ano de casado;
– Em que pensas porco? Na bolota;
– Enquanto se capa, não se assobia;
– Foge do feio e do porcino, da botica e do remédio;
– Freio, focinho e bico, não fazem o homem rico;
– Homem e porco, só depois de morto;
– Já o rei é pouco para lhe guardar os porcos;
– Judeu e porco, algarvio e mouro, são quatro nações e oito canalhas;
Mais alguns provérbios…
– Mais dias há que linguiças;
– Mata o teu porco, se queres ver o teu corpo;
– Não convém ao porco contender com Minerva;
– Não é em pia grande que o porco come à vontade;
– Não quero bácoro com (nem o) chocalho;
– Negociante e porco, só depois de morto;
– Nem pernada de porco, nem rasgadura de um contra outro;
– No queijo e no pernil de toucinho, conhecerás o teu amigo;
– O bácoro, a fome e o frio, fazem grande arruído;
– O pior porco é que come a maior bolota (melhor lande);
– O que não vai no cerro, vai na banda;
E mais ainda…
– Porca capada já não se descapa;
– Porca com três meses, três semanas, três dias e três horas;
– Porca de muitos, bem comida, mal cevada;
– Porca ruiva, o que faz, isso cuida;
– Porco com frio e homens com vinho fazem grande arruído;
– Porco emprestado grunhe todo o ano;
– Porco fiado todo o ano grunhe;
– Porco fresco e vinho novo, cristão morto;
– Porco fresco e vinho novo, cristãozinho no cemitério;
– Porco sujo de lama quer sujar os outros;
– Quatro horas dorme o santo, 5 o que não é tanto, 6 o estudante, 7 o caminhante, 8 dorme o porco, e se dorme mais é porque está morto;
– Quem a porcos há medo, as moitas lhe roncam;
– Quem come focinho de porco é o desinço da loiça;
– Quem com farelos se mistura, maus porcos o comem;
– Quem com porcos se mistura, farelos come;
– Quem foi à missa perdeu a chouriça;
– Quem nasceu para porco nunca chega a porqueiro;
– Quem perdeu o porco, as pedras lhe roncam;
– Quem perfuma porco perde cheiro e juízo;
– Quem porcos busca, a cada moita lhe grunhem;
– Quem quer ver o seu corpo mata o seu porco;
– Queres conhecer o teu corpo? Mata o teu porco;
– Saltou a cabra à silva, e a porca à pocilga;
– Se queres conhecer (ver) teu corpo, abre um porco;
– Três horas dorme o santo, 3,5 o que não é tanto, 4 o estudante, 5 o extravagante, 6 o porco e 7 o morto;
– Vale mais ser porco que filho de Herodes;
– Vieram porcos do monte, lançaram-nos da nossa corte;
3.- O porco na culinária:
– Atar e pôr ao fumeiro, como o chouriço da preta;
– Cabrito e leitão de um mês, e cordeiro de três;
– Carne magra, de porco gordo;
– Fogo viste, linguiça!
– Leitão de mês, cabrito de três, mulher de dezoito e homem de vinte e três;
– Leitão de mês, pato (marreco) de três;
– Lombo assado, lombo perdido;
– O leitão e o pato, do cutelo ao espeto;
– Leitão com vinho torna-se menino (tenrinho);
– Ossos da suã (assuã), beiço untado (barba untada), barriga vã;
– Presunto, vinho e toucinho, os da Turquia são os melhores;
– Unhas de porco, poucas e bem cozidas;
Provérbios recolhidos e sistematizados por Mons. Salvador Parente Ribeiro. Trabalho apresentado no Encontro «Saber Trás-os-Montes» – 10 e 11 de Outubro de 1996 | Serviços de Cultura – Câmara Municipal de Vila Real
Se quiser, pode ficar a conhecer outros provérbios populares…
O porco e o vinho
“Do porco aproveita-se tudo.” Nas aldeias de Portugal, este animal tornou-se doméstico, com as galinhas.
O porco enraizou-se no receituário gastronómico, tal como o bacalhau.
Fazemos um aproveitamento quase integral de toda a sua constituição, desde a múltipla carne até às partes menos nobres, como as tripas, focinho, orelhas, pés ou banha.
O sangue é tradicionalmente aproveitado na fabricação de enchidos, como as morcelas.
A norte temos a raça autóctone Bísaro, de raiz celta; no centro, a quase extinta extinta Malhado de Alcobaça; a sul reina a raça Alentejano, de origem africana.
O porco Bísaro alimenta-se de lavagem de legumes e de castanha, enquanto o porco Alentejano come os frutos do montado, sobretudo a bolota.
Então, o que é o porco preto?
Popularmente, essa designação é dada à raça autóctone Alentejano, mas é uma associação incorreta: os Bísaros podem ser mais escuros do que os Alentejanos.
Prove as diferenças de texturas e sabores, e harmonize com vinhos tintos: enchidos moles com vinhos do sul; os fumeiros mais duros com vinhos do norte. (…)
Sem comentários:
Enviar um comentário