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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Igreja de Nossa Senhora do Loreto

 
A igreja de Nossa Senhora do Loreto fica no ocidente de Bragança, 
junto ao entroncamento da linha de ferro com a estrada de Vinhais.
Estando no convento de S. Francisco de Bragança os franciscanos chamados conventuais, «alguns d’elles com licença do Papa ou dos prelados da Ordem se retiraram do concurso dos conventos para ermidas solitarias, algumas já feitas e outras que elles construiam de novo, onde serviam a Deus com maior quietação de espirito.
Foi um d’estes, o padre Manuel Corvo (a Tábua Velha chama-lhe Carvalho), que morando no convento de Bragança sahiu d’elle em tempo de D. João III a edificar uma ermida de Nossa Senhora do Loreto no territorio da cidade.
Deu-lhe o sitio d’ella o licenceado Manuel Gomes Corrêa e elle com suas agencias levantou o edificio», para o que obteve confirmação da Sé Apostólica (581) no tempo do Papa Paulo III, ano de 1536.

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(581) ESPERANÇA, Manuel da, Frei – História Seráfica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Província de Portugal. Lisboa, 1656, livro I, cap. VI. Monarquia Lusitana, parte V, livro XVII, cap. XII.
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Arruinando-se depois com o decorrer do tempo, foi mandada reedificar a fundamentis, pelo padre João de Prada, abade de Monforte de Rio Livre, hoje concelho de Chaves, em 1706(582).
Em 1 de Junho de 1607 foi, pelo doutor Manuel de Amaral, deão na Sé de Miranda do Douro, provisor e vigário geral no mesmo bispado pelo bispo D. Diogo de Sousa, dada sentença contra Bartolomeu de Abreu, natural e morador em Bragança, que, pretendendo ser padroeiro desta ermida, protestara contra uns capítulos do bispo sobre a ermida quando visitara a igreja de S. João.
Entre as razões que alegava o Bartolomeu para ser padroeiro, pois o tinham sido os seus maiores, era: que querendo o bispo D. António Pinheiro, enquanto se fazia o colégio de S. Pedro, desta cidade, que os colegiais dele estivessem na casa da dita ermida, como estiveram dois anos, pedira a um seu ascendente licença e consentimento para isso (583).
Iguais pretensões tivera já o licenciado Manuel Gomes Correia, da principal nobreza de Bragança, pelo ano de 1661, com idêntico resultado (584).
Em 1634 haviam sido as mesmas dúvidas apresentadas ao bispo D. Jorge de Melo, que deu sentença favorável à Câmara(585).
Já quando fora do princípio desta fundação, o bispo de Miranda opusera certas dificuldades a Frei Manuel Corvo que as venceu conseguindo nova bula do Papa Júlio II. Frei Manuel Corvo devia já ter falecido em 1553, a julgar por um acórdão da Câmara de Bragança de Fevereiro desse ano.
Do reedificador padre João de Prada, sabe-se que fundou em Chaves uma nobre capela da mesma invocação de Nossa Senhora do Loreto com vínculo de morgadio, de que foi primeiro administrador seu irmão António de Prada, cavaleiro do hábito de Cristo, cavaleiro fidalgo da casa real e governador do forte de S. Francisco de Chaves.
Houve antigamente nesta capela de Nossa Senhora do Loreto de Bragança duas confrarias, sucessivamente: uma de seculares e depois outra de eclesiásticos, que duraram pouco.

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(582) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Senhora do Loreto». BORGES – Descrição Topográfica…, notícia 7.ª.
(583) Tábua Velha da Igreja de S João, fl. 133.
(584) Tombo da Igreja de S. João, fl. 217.
(585) Capítulos de Visita da Colegiada de Santa Maria, fl. 64.
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«Junto da capella-mór se fez um recolhimento com tribuna para a mesma, no qual assistem (1721) algumas devotas mulheres».
Não foi, porém, reconhecido o direito de padroeiro a Bartolomeu de Abreu mas sim à câmara. A Tábua Velha, abaixo citada (586), dá a esta ermida o título de Senhora do Loreto, extramuros da cidade de Bragança, e por ela se vê que era filial ou pertencia à Igreja de S. João.
Nesta ermida se diziam duas missas rezadas dia de Santo António, deixadas pelo doutor António Homem Leitão, lente jubilado das cadeiras de Véspera e Prima, na Universidade de Coimbra, cónego da Sé de Coimbra, inquisidor do Santo Ofício e natural de Bragança. Reinando D. José, foram estas missas abolidas em provisão régia alcançada por António Manuel de Antas, provavelmente descendente do lente que, além da verba para o encargo das missas, legou outra em benefício da ermida(587).
Antigamente, ia a Câmara de Bragança, todos os anos no dia de Santo Amaro, em visita a esta ermida, onde mandava celebrar uma missa cantada e sermão por voto antigo dos vereadores (588). Hoje nada disso se faz, o que é para lamentar, porque estes actos, fundados indubitavelmente em acontecimentos de importância histórica, pelo menos local, continham aproveitáveis exemplos de educação cívica, não despiciendos num povo que tanto carece dela e tão facilmente desconhece as origens das suas tradições e usanças.
Nesta igreja e casas contíguas que pertenciam à mitra fundou o bispo de Bragança D. António da Veiga Cabral e Câmara um recolhimento das Oblatas do Menino Jesus, destinado a receber as mulheres nobres, órfãs e desamparadas, ao qual deu regra e estatutos e foi inaugurado solenemente a 5 de Agosto de 1794, sendo sua primeira superiora Domingas de Jesus Vaz, natural de Dine, concelho de Bragança.
Este Recolhimento distinguia-se apenas do da Mofreita, fundado pelo mesmo bispo, em se destinar particularmente a recolher donzelas pobres, pertencentes à classe do povo.
A 20 de Maio de 1819, as Oblatas do Menino Jesus estabelecidas nesta casa, chamadas vulgarmente beatas, nome porque ainda hoje é conhecida a casa e capela, ermida ou igreja adjunta, transferiram-se, para a aldeia de Fornos de Ledra, onde perseveraram até à implantação da República, que as expulsou, observando a sua regra que não compreende

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(586) Capítulos de Visita da colegiada de Santa Maria, fl. 155.
(587) Ibidem, fls. 4 e 39.Ver na «Bibliografia» o nome do lente António Homem Leitão.
(588) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Senhora do Loreto».
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os votos solenes dos que constituem ordem religiosa, podendo as recolhidas deixar a casa quando lhe aprouver e tomar outro estado (589).
Devido a esta transferência, a igreja está muito abandonada e a casa, do Recolhimento ainda há pouco serviu para nela se estabelecer uma fábrica de sabão.
Por aviso da rainha D. Carlota Joaquina, mulher de D. João VI, de 29 de Dezembro de 1819, dirigido ao vigário capitular do bispado de Bragança, foi-lhe participado que ela tomava debaixo da sua imediata protecção os dois recolhimentos denominados do Loreto e Mofreita, instituídos no bispado de Bragança(590).
O decreto de 10 de Março de 1901 e instruções complementares do dia 12, alguns sustos causaram nestes dois recolhimentos, ameaçados de imediata supressão, mas devido aos bons ofícios do conselheiro Abílio de Madureira Beça, então governador civil de Bragança, a quem o distrito deve inapreciáveis serviços, continuaram a reger-se como dantes, sem que por isso o distinto magistrado faltasse à verdade na informação dada ao governo de que era delegado, pois efectivamente os recolhimentos supra mencionados não são casas religiosas na verdadeira acepção do termo.
A seguinte disposição do testamento da rainha D. Carlota Joaquina, mulher do rei D. João VI, feito aos 7 de Janeiro de 1830, mostra bem quanto a obra do zeloso bispo D. António da Veiga era apreciada nas altas esferas da sociedade:
«Determino, diz a régia testadora, que por um padrão a mim pertencente, que está em poder de Ignacio Rufino de Almeida, comprador da casa real, cujo padrão rende annualmente 3:000$000 réis, seja este rendimento applicado para a sustentação dos três recolhimentos de donzellas estabelecidos em Fornos de Ledra, um com o titulo de Nossa Senhora do Loreto, outro no logar de Mofreita, ambos no bispado de Bragança, e o terceiro em Lisboa, defronte do Jardim Botanico, para se estabelecer na minha real quinta dos Quadrios, termo da villa de Cintra, de cuja quinta faço doação ás donzellas que ao presente se acham na casa de educação defronte do Jardim Botanico, isto é, aquellas que, em congregação e fórma de recolhimento clausurado, quizerem ir habitar o da referida quinta dos Quadrios; e juntamente

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(589) Monumento à Memória de D. António Luís da Veiga Cabral e Câmara, Bispo de Bragança, p. 171 e seguintes.
(590) Arquivo Distrital de Bragança, Livro do Registo da Câmara de Bragança, fl. 159 v.
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para conservação do dito recolhimento, lhe faço livre doação das terras e fazendas que possuo vizinhas á mesma quinta além das terras que com ella comprei. E recommendo a meu muito amado e prezado filho el-rei D. Miguel continue na protecção dos sobreditos três recolhimentos, mandando lhes dar a mesma mezada mensal que eu lhes costumava dar.
Por esta esmola que deixo aos três recolhimentos mandará dizer em cada um d’elles, em todos os dias santos do anno, in perpetuum, uma missa pela minha alma [...].
Deixo a quinta do Campo Grande ao recolhimento que se hade estabelecer na quinta dos Quadrios. Deixo a minha quinta da Outra Banda ao Recolhimento de Mofreita, pois que uma e outra comprei com este designio» (591).

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(591) Documentos para a História das Cortes Gerais da Nação Portuguesa, tomo VII, p. 9. Tratam desta igreja: Monarquia Lusitana, parte V, livro XVII, cap. XII. ESPERANÇA – História Seráfica, parte I, livro I, cap. VI, p. 56. CARDOSO – Agiologio Lusitano. HENRIQUES, João Baptista – Corografia Lusitana, tomo I, livro II, trat. III, p. 496. Santuário Mariano, tomo V, p. 553.
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MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA

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