As alterações climáticas estão a provocar sérias dores de cabeça a produtores de várias culturas agrícolas em Trás- -os-Montes. Quebras, quebras e mais quebras. Já para não falar da qualidade perdida, alterada e comprometida. Da a castanha ao azeite, da cereja à amêndoa e à maçã, e do vinho ao azeite, várias são as produções afectadas. Umas vezes pelos extremos climáticos, de altas ou baixas temperaturas fora de tempo, outras vezes pelas intempéries em nada esperadas. O lúpulo, o ingrediente ‘mágico’ para produzir cerveja, também sofre as consequências. E é no distrito de Bragança que se situam as duas únicas explorações existentes no país.
Quebras de 20 a 30% na exploração em Pinela
As alterações climáticas não dão tréguas e o lúpulo não foge a quebras de produção. Isso mesmo diz um estudo publicado na revista científica Nature Communications, realizado pelo Global Change Research Institute, da Czech Academy of Sciences, que refere ainda que estas mudanças alterarão o sabor da cerveja produzida na Europa e até irão torná-la mais cara. O que não é estranho. Havendo menos com que a produzir mais cara ela ficará. António Rodrigues, produtor de lúpulo há mais de 40 anos, é proprietário de uma das duas únicas explorações portuguesas. Tem seis hectares desta exploração, em Pinela, no concelho de Bragança, e o que diz o estudo não reporta grande novidade. As quebras já as sente há, pelo menos, duas campanhas. “Já há dois anos que cientistas alemães, dedicados a estudar a exploração de lúpulo, as novas variedades, aromas e ácidos, para poder ter cervejas de melhor qualidade, haviam alertado que o lúpulo, efectivamente, ia sofrer grandes alterações, em termos de produção, ia haver uma baixa drástica. As pessoas, nós produtores, e os cervejeiros, não estávamos muito cientes que isso pudesse ocorrer mas a verdade é que acontece e já há dois anos que tenho tido perdas de produção”, esclareceu o produtor de Pinela. Segundo referiu, as estatísticas que tem é que no ano passado as quebras se situaram nos 30% e este ano nos 20. E isso significa “bastante”. “Vendo o lúpulo já transformado e o quilograma ronda os quatro euros e meio. Num ano normal, a produção por hectare é de 1800 a 2000 quilos, mas, nos últimos dois anos, baixou drasticamente”, rematou António Rodrigues. O que tem acontecido, é que, segundo António Rodrigues, nos fins de Primavera/ início de Verão têm vindo temporais e o lúpulo é “muito susceptível a algumas pragas” que aparecem nessas condições. Contudo, nesse período, como a planta já está com cerca de cinco a seis metros de altura, “é difícil” combatê-las. “Isso tem-nos prejudicado”, assumiu, referindo ainda que este ano houve uma semana de calor no mês de Agosto, com temperaturas acima dos 40º, o que provocou uma maturação precoce da planta, tendo que ser colhida antes das condições propícias à colheita.
Qualidade não se perdeu
A exploração de António Rodrigues, que já existe desde 1971, começou com dois hectares, depois passou para os quatro e mais tarde para os seis, que “é mais ou menos a área que se considera rentável em termos comerciais”. O estudo, além de falar de quebra de produção, apontando que esta pode cair, na Europa, entre 4 e 18%, até 2050, fala ainda de qualidade. Sobre essa matéria diz que, devido ao clima mais quente e seco, o teor de ácidos deste componente, essencial para a cerveja, poderá diminuir entre 20 e 30%. Ora, António Rodrigues não pode negar as quebras, mas a qualidade… essa continua a mesma. “Não me apercebo que o sabor se tenha alterado, que a qualidade tenha sido afectada”, explicou o produtor, que disse que a única coisa que pode garantir é que há, de facto, perdas de produção e que isso se deve a um “clima muito alterado”. Contudo, esse clima, ainda não fez mais mossa.
Contra o clima nada se pode fazer
António Rodrigues, que vende tudo o que produz à Super Bock, diz que, neste momento, vale a pena produzir, em certa parte, claro. Se tiver que se comprar maquinaria, por exemplo, já se põe as questões: vale ou não vale a pena? Aí, possivelmente, não seja um bom investimento esta cultura. “Conforme isto se esta a desenrolar não é fácil. Os custos para implantação de uma exploração de lúpulo, por exemplo, são elevadíssimos, devido às estruturas que têm que ter cerca de seis a sete metros”, rematou o produtor. E apesar de haver menos lúpulo, neste momento, quem compra ainda não o está a pagar mais caro. Portanto, como noutras produções, em que se paga mais caro porque há menos, nesta ainda não é assim. “Temos um contrato com a Super Bock, há mais de 20 anos, e temos de o cumprir”, esclareceu António Rodrigues. À semelhança das outras culturas, em matéria de lúpulo o futuro é incerto, sendo preciso esperar para ir vendo o que acontece. O tempo o dirá. “A cultura pode acabar como tudo pode. Também sou produtor de castanha e também estou com o mesmo dilema. Acho que há anos que teremos grandes perdas de produção, mas o clima é cíclico, e, depois, podemos recuperar. A nossa esperança é que as condições voltem Num ano normal, a produção por hectare é de 1800 a 2000 mil quilos, mas, nos últimos dois anos, baixou drasticamente”. Produtor de lúpulo António Rodrigues a estabilizar e que se consiga recuperar novamente produções que sejam mais ou menos rentáveis”, terminou António Rodrigues, acrescentando que não há muito a fazer para evitar o que está a acontecer porque não se consegue combater o calor, como o que se registou este ano, em Agosto, que fez com que a planta atingisse bem mais cedo o seu estado de maturação. As pragas podem ser combatidas, claro, mas isso é outra história e não são, de todo, estas a determinar que haja menos lúpulo.
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