“Há três ou quatro semanas era expectável um ano muito bom em termos de produção. O que vai acontecer é precisamente o contrário. É um ano trágico, com quebras muito grandes”, afirmou à Lusa o presidente da Câmara de Vinhais, Luís Fernandes.
As perdas não serão uniformes em todas as zonas do concelho, mas expressivas. “Estaremos a falar sempre de quebras superiores a 70, 80%. Se calhar em alguns casos a rondar quase os 100%”, adiantou Luís Fernandes.
O pedido foi vertido num memorando, onde se pedem medidas de compensação aos produtores, como o pagamento atempado dos subsídios, apoios aos seguros de colheitas, isenção do pagamento da Segurança Social ou mesmo a declaração do estado de calamidade, “porque isso permite outro tipo de apoios”, relembrou Luís Fernandes.
Na lista de exemplos de medidas consideradas relevantes, sugere-se ao Ministério da Agricultura a adoção de “uma estratégia ele investigação e combate às causas que estiveram na origem destes fenómenos”.
O memorando, assinado por entidades da região ligadas à produção agrícola e pelas juntas de freguesia, foi entregue este fim de semana, no decorrer da Rural Castanea - Festa da Castanha, à Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira. No domingo, foi entregue ao Ministro da Economia, António Costa Silva, que marcou presença no dia de encerramento do certame.
Seguiu também para o Ministério da Agricultura e para a comunicação social “para que possam ser tomadas medidas”, reforçou Luís Fernandes, considerando a situação “gravíssima”.
Em causa estão perdas, explica-se no referido documento, provocadas pelo “calor excessivo e incomum para a época do ano” verificado no mês de setembro. Os ouriços começaram “a secar antes de a castanha estar completamente formada, interrompendo o normal desenvolvimento das variedades mais tardias”.
“Fruto daquelas duas semanas que vieram com temperaturas altíssimas (…), é verdade que os castanheiro dá a sensação que arderam. E, portanto, a produção é praticamente inexistente”, explicou Luís Fernandes, notando que a qualidade da castanha colhida este ano também está abaixo do esperado.
As alterações ao clima normal para a altura verificaram-se também na pluviosidade. O memorando cita o relatório do Estado das Culturas da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte.
No mês de setembro, em Trás-os-Montes, “registou-se uma precipitação de 92,1 mm, o que representou um aumento de 64% em relação à média mensal dos últimos 30 anos, seguiram-se temperaturas muito altas para a época do ano”, lê-se.
Além de poder ter originado um “golpe de calor”, o fenómeno contribuiu para o aparecimento do fungo que provoca a doença da septoriose. Este problema está a ser detetado em concelhos vizinhos, destaca-se no memorando.
Junta-se, em comparação a anos anteriores, “um aumento do bichado-da-castanha, do gorgulho e há relatos de sintomas provocados por uma doença conhecida como podridão da castanha”, enumera-se no mesmo documento.
“Isto é muito mau para o concelho. A castanha é o suporte económico mais importante. Ainda por cima, estamos a falar de dois anos seguidos com quebras de produção muito grandes”, vincou Luís Fernandes.
Vinhais é um dos maiores produtores de castanha do país, com entre 13 a 15 mil toneladas por ano, o que representa cerca 15 milhões de euros. Conta com 2.500 produtores e 10 mil hectares de soutos.
“Se fossem dois anos bons de castanha, entrariam 30 milhões de euros, ou mais, no concelho. Nem um terço desse valor financeiro vai entrar", lamentou Luís Fernandes.
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