Situada no Parque Natural de Montesinho, junto da raia demarcada pelo rio Maças, Guadramil integra desde 2013 a União das Freguesias de Aveleda-Rio de Onor e dista 30km a Nordeste de Bragança. Situada num vale e atravessada pelo rio que lhe empresta o nome, apresenta uma envolvência de montes, flora e fauna em pura harmonia. Em sintonia, a ruralidade mostra-se através do xisto das habitações. No entanto, isolada da urbanidade e com cerca de 20 habitantes, a aldeia resvala para um saudoso passado. Passado em que conheceu fulgor com as minas de ferro, exprimia orgulho através do guadramilês, dialeto que lhe concedia distinção, e vivia um quotidiano comunitário, fosse pelos campos partilhadas na pastorícia e pecuária, como pelo lagar, o forno, a casa do ferreiro ou o moinho de água.
A Igreja de São Vicente, posicionada no ponto mais elevado, impele os fiéis a subir ao encontro de Deus, enquanto zela pelo pequeno rebanho na labuta quotidiana. As Inquirições de 1258 dizem que Guadramil era tutelada pelos frades de Alcañices, estando a Igreja, no século seguinte, sujeito a taxação régia de 15 libras. A partir do século XVI, tanto a aldeia como a Igreja «fariam parte integrante da comenda encabeçada pela igreja de Rabal com apresentação do duque de Bragança». No século XIX, a então freguesia de Guadramil foi extinta, fazendo parte da de Rio de Onor.
A Igreja, edificada nos séculos XVI-XVII, com orientação Noroeste-Sudeste e delimitada por adro, apresenta uma arquitetura maneirista e barroca. A fachada principal, com portal de arco abatido, termina em empena truncada por dupla sineira. A porta da fachada lateral direita é em arco de volta perfeita, protegida por alpendre. O abandono observado na aldeia não tem correspondência quando franqueamos a porta do templo, que nos transporta para a originalidade do passado, mantendo dignidade no presente. O altar lateral do lado do evangelho, dedicado a Nossa Senhora do Rosário, é em talha policromada e dourada em estilo Barroco joanino, enquadrada por duplas colunas salomónicas com capitel coríntio. Está encimado por dossel pintado com idêntica alusão à imagem do nicho. O altar do lado da epístola é policromado e em estilo Rocaille. No nicho central, a imagem de Nossa Senhora de Fátima substituiu a de São Bartolomeu, estando ladeada pelas imagens deste Apóstolo e de Santo António. Tem dossel com cartela central alusiva a São Bartolomeu a prender o Dragão.
Na capela-mor, mais estreita e mais alta que a nave, no policromado da talha do altar sobressai o rosa, num estilo entre o Barroco e o Rocaille. Como as demais, a mesa das celebrações é em forma de urna e no centro do retábulo, de duplo corpo e três eixos, distingue-se um tão original quão bonito sacrário em templete. No piso inferior, o painel central apresenta Cristo Redentor relevado, enquanto os laterais têm os apóstolos Pedro e Paulo, enquadrados por colunelos de fuste canelado e capitel coríntio. A cornija é percorrida por varandim balaustrado, segmentado por pilastras coroadas por pequenos pináculos triangulares. A coroar o Sacrário ergue-se uma cúpula cilíndrica, suportada por volutas, e à sua frente expõe-se crucifixo de pé alto. A ladear o Sacrário, entre colunas em espiral decoradas com pâmpanos e caras de anjos, estão as imagens de São Judas Tadeu e Santa Teresinha de Jesus. O corpo superior do retábulo é um tríptico, com a imagem do Diácono São Vicente, orago da Igreja, em vão de volta perfeita, ladeado por pinturas de anjos. É coroado por Deus, Senhor do mundo. Na parede testeira da capela-mor, sobre mísulas a dourado e emolduradas, estão pequenas imagens de São Sebastião e de São Fabião.
Terra de saberes e de tradição, que Guadramil possa revivificar o nostálgico passado.
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