(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Às voltas com o universo da Revolução Liberal por Terras de Bragança, fui, casualmente, parar ao magnífico Rio Sabor e à não menos magnífica Ponte de Valbom (que na documentação também surge grafada como de Valbão…). Para a qual houve instruções de reconstrução há, precisamente, 200 anos, decorria o ano de 1825! Época na qual, como já por aqui trouxe, a propósito de uma Pastoral do Bispo de Bragança, estas terras andavam a «ferro e fogo», à custa das lutas entre Absolutistas e Liberais.
E “fai” amanhã 200 anos e um mês, que o rei D. João VI dava autorização à Câmara de Bragança para que cobrasse um imposto sobre carne e vinho vendidos, tendo em vista reedificar a dita ponte, que ligava Bragança a Outeiro, sede do «velhinho» concelho de «Outeiro de Miranda». Cobrança essa que também reverteria para reparar as calçadas da cidade de Bragança. Curiosidades…
Numa região onde tudo o que é antigo e explicação o Povo não encontra, é Mouro. Com excepção das pontes, que quando «a pinta» é antiga, são todas, ou quase todas, Romanas… Porém, pela região bragançana, assim de repente e mentalmente, só me lembro de duas que faziam parte dos antiquíssimos traçados das Vias Romanas. Não era o caso da Ponte de Valbom, tratando-se de um exemplar medieval, cuja primeira referência cumpriu, há pouco tempo, a provecta idade de 600 anos! Afinal, ainda temos “uas cousas antiguetchas” por aqui…
Embora tenha sofrido diversas obras de reparação e consolidação, ao longo dos séculos. É curiosa a História da Ponte de Valbom, sabendo-se que nos anos 30 do século XV, a mesma já estava construída. Todavia, no início do século XVI, terá precisado de obras. E pretendia a Câmara de Bragança que o Mosteiro de Castro de Avelãs, mais uns quantos concelhos pequenos, mas autónomos, contribuíssem para essas mesmas obras. Naturalmente, reclamaram os lesados, argumentando que os seus privilégios antigos, bem como os seus forais, os isentavam de tal contribuição. E, naturalmente ainda, por sentença régia, foram escusados da dita contribuição. Mais curiosidades…
Hoje, depois dessas obras autorizadas por D. João VI, provavelmente, concluídas três anos após (por lá existem umas «alminhas» ostentando a inscrição «1828»), repousa a «velhinha» ponte sobre o Sabor, ao lado do progresso representado pelo viaduto da «novíssima» A4. Outros tempos, outras as vias… Quantos dos nossos antepassados terão atravessado a Ponte de Valbom?...
(Foto: Terras de Trás-os-Montes)
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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