Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Como era a Consoada dos nossos bisavós?

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Todos possuiremos recordações do «Natal de outros tempos». Vou ouvindo e registando memórias dos «nossos avós», fantástica gente que hoje anda na faixa etária dos 80/90 anos, gente que paciência vai tendo para comigo ir partilhando o seu sublime conhecimento e, por vezes, um “bô mata-bitchu’e ou ua boa merenda”, que os «nossos avós» “inda sãu mim daimosus’e”. Porém, não vim aqui, propriamente, para partilhar essas memórias, mas, sim, outras que as antecederam. 

«Na noite de Consoada esfusia o entusiasmo por toda a parte; ceia abundantíssima e lareira bem fornida de lume […]. Vai-se depois à Missa do Galo e beija-se o Deus-Menino, ao som da gaita-de-fole e respectiva letra […}»

Esta descrição foi-nos deixada pelo eminente Abade de Baçal, há quase 100 anos. Cantava-se o «Beijai o Menino / Beijai-o agora / Beijai o Menino / de Nossa Senhora», acompanhado de gaitas-de-foles!!! Esse era o tempo, para muitos, dos «nossos avós». Há, porém, um tempo que o antecede, o dos nossos bisavós. Como seriam a Consoada e os festejos de Natal, em finais do século XIX / inícios do século XX?

Nesta permanente busca por entender as vivências dos nossos antepassados, vou-me deparando com curiosidades, algumas das quais por aqui vou partilhando. Será a singela forma de honrar todos os que nos antecederam. E, no tempo dos nossos bisavós, pelos vistos, ainda não haveria, pelo Norte de Portugal, a Missa do Galo a que o Abade de Baçal alude. Terá sido uma cerimónia importada do Sul, caso atentemos nas crónicas do amigo do Eça, quando para Lisboa foi. 

Porém, outras manifestações havia por estas bandas, nas quais os festejos natalícios começavam a partir, sensivelmente, de meados de Dezembro. Com bailes, gaiteiros, tamborileiros e demais algazarras, devidamente regadas a «pinga», que o nosso Povo, de poucas as actividades agrícolas por esta época ("inda num habia olibeiras c'mu as hai agora"), também dava voz ao seu carácter lúdico. Manifestações que incluíam representações, sátiras e danças, as quais se designavam por «Pastoradas». Isso ocorria no período antes das «Festas de Santo Estêvão», ou «Festas dos Rapazes», festejos que incluíam lautas refeições comunitárias.

Estas manifestações de cariz mais pagão, ao lerem-se as Pastorais dos Bispos da Diocese de então, por «atentarem contra os bons costumes», seriam proibidas, sendo os respectivos organizadores, nos quais se incluíam os párocos (que também gostavam de festas), ameaçados, não apenas de pecuniárias multas, mas também de excomunhão. E assim se perderam tradições que vinham de longe… Vale que, pelo menos as «Festas dos Rapazes» estão de regresso com todo o fulgor…

A crer nos relatos da época, havia, tal como nos dias de hoje, os «pobres», os «remediados» e os «ricos». Variava a ementa consoante os casos (e as casas). E o que comiam os nossos bisavós no dia de Consoada?... 

Para isto não ficar longo, fica a pergunta sem resposta, para aguçar o apetite, “ó menus’e” o dos que têm a paciência para querer saber mais um “tantinhu’e” e vão acompanhando estas diatribes…

“Ati’ámanhã ou passadu’e, se Deus No’Senhore quijere”… 

Foto: consumosdelayer


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

Sem comentários:

Enviar um comentário