Numa visita guiada pela própria pintora e também pelo curador António Meireles, um dia antes da inauguração oficial, antes de se entrar nas salas, onde estão expostos os mais de 70 quadros, Graça Morais avisou que esta é “uma exposição muito dura”, isto porque é o sofrimento humano que a maioria dos quadros retrata.
“Pretendo com esta exposição fazer um diálogo entre obras de 1984, 2005, 2017 e outras atuais, porque há uma permanência na minha forma de pintar e nas minhas preocupações ligadas ao ser humano”, começou por explicar Graça Morais. “A minha preocupação foi sempre olhar para o ser humano, e revelar no ser humano situações de sofrimento, mas, ao mesmo tempo, de resistência, de uma luta entre o mal e o bem e, sobretudo a resistência através destes anos todos, a minha resistência como mulher. É uma expressão que revela muito do que eu sou como mulher e como artista”.
As guerras e massacres, como na Ucrânia ou Gaza, e que são notícia diariamente impulsionaram também a artista a desenvolver estas obras. Um dos principais objetivos desta exposição é sensibilizar a sociedade para estes assuntos. Exemplo disso, é um dos quadros que ali se encontra exposto. “Aquela pintura tem uma cabeça completamente destruída. Todas as guerras provocam sofrimento nas pessoas e nós felizmente não estamos em guerra. E o que é que eu posso fazer? Eu não sou política, eu não tenho fortuna, não sou rica e isto é realmente o melhor que eu posso comunicar às pessoas e oferecer para elas pensarem o que é a vida, o que é a arte. Será que a arte nos pode ajudar a viver melhor? Eu acho que pode. A arte pode ajudar-nos”.
Entre outras obras destaca mais uma que também é inédita e pode ser vista agora pela primeira vez e que considera como “uma das mais importantes”, apelidada de “fantasmas”, esta retrata o despovoamento das aldeias do interior. “Nasceu num passeio que dei aqui na minha aldeia. Fui até ao campo e estava extraordinário. O mês de maio, em Trás-os-Montes, devia ser o mês com mais turismo e que se deveria divulgar para trazer mais pessoas até ao Interior. Porque andamos quilómetros e quilómetros, sem nenhuma ofensa à nossa terra, mas não vemos nada nem ninguém, só vemos natureza, flores, e um campo maravilhoso cheio de oliveiras, de videiras, de castanheiros e isso é uma paz, então eu fiquei tão cheia de beleza que comecei a pintar este quadro. E primeiro era uma paisagem lindíssima. Mas aqui, como é possível ver, há uma série de figuras que chamo de quadro fantasmas, porque realmente há figuras que já não existem e que despovoaram a aldeia do Vieiro e do Freixel (concelho de Vila Flor)”, contou.
A exposição “Anjos do Apocalipse” estará patente no Centro de Arte Contemporânea até ao mês de maio.

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