quarta-feira, 4 de novembro de 2020

… quase poema… ou das redações

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

E o pai chegava e trazia da rua um toro de freixo que durava uma noite ardendo, aquecendo a cozinha e o coração da família.
… e eramos tantos!
Os potes coziam… e a paciência da mãe era infinita… 
...e num tempo antiquíssimo ficaram os melhores sabores do mundo, num tempo de memórias, mas sem retorno.
- O caldo está pronto… louvado seja Deus!
O pobre do mundo também deve estar a chegar e tem que comer e aquecer o corpo desvalido, depois duma longa caminhada por esses infindos caminhos de Cristo. 
- Meu filho tens que estudar… já fizeste as contas e a redação?!
Sim mãe… já estudei… e estudei tanto!.. mas sei tão pouco que quase acredito… que sei muito menos que os nossos vizinhos que adivinham o tempo, interpretam os sinais… conhecem as plantas e os animais e escolhem a lua certa para semear o pão nosso de cada dia.
…eu sei mãe que faço redações que tu gostas… mas depois as palavras não têm o sabor do caldo que cozeu no pote grande… nem do galo que assou no vagar das brasas… são só palavras!
… pronto, meu filho… lê-me lá aquela redação que eu gostos tanto!
- Está bem mãe:
A minha escola está pintada de branco… e tem muitos meninos que brincam na cerca da escola… na minha escola aprendi a ler e a escrever… e aprendi a ser feliz!... eu gosto muito da minha escola|
… que redação tão bonita!
Dizias tu e o teu sorriso era de mãe!

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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