Há em Freixedelo, no concelho de Bragança, uma fraga a que o povo chama a "Fraga do Cavaleiro". Diz-se que, há muitos e muitos anos, se ouvia ali, nos dias 1, 2 e 3 de Maio, um tear a trabalhar e que aparecia uma menina muito bonita. E que esta menina, depois de aparecer na forma de gente, transformava-se em serpente.
Por isso nem todas as pessoas tinham coragem de ir lá. E conta-se que uma vez um cavaleiro famoso não disse nada a ninguém e foi lá nos três dias. Ao terceiro dia, viu então a menina, e a ela se dirigiu. Ela disse-lhe que se ia transformar numa serpente e que, se ele não tivesse medo, ficava muito rico. Mas o cavaleiro, quando a viu transformar-se, teve medo. Dizem que por ter medo lhe dobrou o encanto e, por isso, desde aí nunca mais ninguém a voltou a ver nem ouviu bater o tear.
Fonte: Inf.: Maria José Santos Salgueiro, 35 anos; rec.: Bragança, 2000.
O cabeço de S. Bartolomeu
Dizia-se antigamente que havia no cabeço de S. Bartolomeu, em Bragança, uma mata com grandes fragas, e a maior delas estava rachada de um lado ao outro.
Dizia-se que essa fraga, à meia noite, costumava abrir-se e sair de lá uma luz e uma cobra a falar.
– Quem quer entrar? Quem quer entrar?
Era isto que lhe ouviam dizer. O povo dizia que a cobra era uma moura encantada, mas todos tinham medo de lá ir. Um dia foi lá um homem, a quem chamavam "Maluquinho", e que dizia que não tinha medo a nada. Dizia que se a cobra lhe falasse, então era mesmo uma mulher e ficava com ela. Outros homens seguiram-no de longe.
Dizem então que viram a fraga a abrir-se e a engolir o "Maluquinho". Nunca mais ninguém deu fé dele. Houve quem acreditasse que, ao entrar lá, quebrou o encanto, ficou rico e nunca mais voltou.
Fonte: Inf.: Maria do Carmo Lopes, 39 anos; rec.: Bragança, 2000.
A Fontela de Candegrelo
Conta-se em Grijó, concelho de Bragança, que um homem, que ambicionava ser muito rico, sonhou numa noite que havia um tesouro na Fontela de Candegrelo e que estava lá um figurão(1) a guardá-lo. E no sonho também lhe foi dito que o tesouro seria seu se fosse de sua casa até à fontela sempre a ler, na ida e volta, o livro de S. Cipriano, e que bastaria dizer ao figurão onde queria que ele lhe levasse o tesouro.
O homem assim fez. Chegou lá, aparece-lhe então o figurão que lhe diz:
– Onde queres que te leve o tesouro?
– Leva-o à minha quinta.
O figurão pegou no tesouro e seguiu-o na direcção da quinta. E o homem lá continuava sempre a ler o livro de S. Cipriano. Acontece que, antes de chegar à quinta, o homem emocionou-se de tal modo por sentir a grande riqueza que sonhara já ali tão perto, que acabou por se enganar na leitura do livro. E ao enganar-se, diz-se que se abriu um grande buraco na terra onde entrou ele, o figurão e o tesouro. Nunca mais o voltaram a ver.
1) O figurão representa, neste comunidade, uma das referências do maravilhoso popular, cuja simbologia harmoniza com o mouro mítico.
Fonte: Inf.: Ana Maria Amaral Faria, 36 anos; rec.: Bragança, 2000.
O bruxo e a moura
No cabeço de S. Bartolomeu, em Bragança, deu-se uma grande batalha com os mouros, quando estes iam a abandonar estas terras a caminho do norte de África.
Conta-se que ia então um rei mouro com a sua comitiva e que levava grandes tesouros.
E com ele ia também a sua filha, uma jovem muito bela.
Quando os mouros avistaram os inimigos, o rei escondeu os tesouros em local que só ele conhecia, e preparou-se para a luta. Só que os inimigos eram muitos, pelo que os mouros acabaram por ser derrotados e muitos deles mortos. O rei foi um dos que morreu, mas antes confessou a sua filha onde escondera os tesouros.
Quando os inimigos capturaram a jovem e os mouros que sobreviveram, o chefe dos vencedores dirigiu-se à princesa dizendo:
–Serás livre se nos disseres onde estão os tesouros.
E a jovem respondeu-lhe:
– Podes fazer de mim o que quiseres, mas o segredo de meu pai não o terás.
– Se assim é, ficarás aqui prisioneira para sempre – sentenciou o chefe.
Palavras tais não era ditas, ouve-se então um grito medonho, que a todos assustou, dizendo:
– Prisioneira?! Nunca!
Era um bruxo que saiu de entre os mouros cativos, e lançou sobre a princesa uma tal bruxaria que ela se transformou de repente numa asquerosa serpente. E perante os olhos espantados de todos, a serpente escapou-se por entre as fragas e desapareceu.
Tanto o bruxo como os mouros foram encerrados nas masmorras, onde apodreceram. Quanto à princesa diz-se que ainda por lá anda, encantada.
Fonte: Inf.: Ana Maria Amaral Faria, 36 anos; rec.: Bragança, 2000.
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