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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Ataque de Puebla de Sanábria - Invasão Francesa

No dia 29 de Julho de 1810, às 11 horas da manhã foi Puebla de Sanábria tomada pelos franceses, tendo sido uma hora antes evacuada pelas tropas espanholas que a guarneciam, comandadas pelo general D. Francisco Taboada Gil e às 6 horas da tarde desse dia, teve Silveira notícia do ocorrido.
Uma hora depois mandava sair de Bragança um esquadrão de cavalaria, a fim de fazer um reconhecimento, debaixo do comando do coronel Wilson; e à meia noite, ainda desse dia, partia ele próprio à frente de uma brigada de milícias pelo caminho de Aveleda, seguindo a mesma marcha do esquadrão.
No dia 30 de Julho estava Wilson à vista de Puebla, e como participasse a Silveira que não sabia onde paravam parte das tropas francesas que da vila se haviam retirado para Monboy, nem as espanholas de Taboada Gil, recolheram-se todos a Bragança; e tendo notícia, no dia seguinte, que este general estava nas Portillas de Galiza, participou-lhe que desejava encontrá-lo sobre Puebla, para onde ele marcharia no dia 2 de Agosto de 1810.
Às 5 horas da tarde desse dia enviou, pelo caminho da povoação de França, um esquadrão, ao qual ordenou que, descansando aí, se dirigisse de noite a Pedralva, onde receberia as suas ordens.
O quarto esquadrão e a primeira brigada foram pernoitar ao lugar de Varge, com ordem de, ao amanhecer, estarem em Lobeznos, perto de Pedralva. Em Pedralva vieram ter com Silveira um ajudante de Taboada Gil e o coronel de Benavente, dando-lhe parte que aquele general vinha em seu auxílio com perto de mil homens. E como não tinham a certeza do efectivo das tropas francesas que haviam retirado para Monboy, resolveram atacar Puebla antes destas poderem socorrê-la, como efectivamente fizeram ao amanhecer do dia 3, depois de operada, à vista da vila, a junção com Taboada.
Para o ataque foi-lhes de grande vantagem um forte desguarnecido, situado em frente à vila, do qual se apropriaram, rompendo dele um vivo tiroteio de mosquetaria sobre a praça, ao qual esta correspondia com fogo de mosquetaria e artilharia. Para responder a esta foram algumas peças de Bragança.
Perseveraram assim em tenaz luta durante seis dias, até que no dia 9, rebentando uma mina que tinham feito junto à muralha da praça, apesar de ser de pouco efeito, pois apenas deitou abaixo a face da cortina, foi intimado o seu governador a render-se, o que efectivamente fez à 1 hora da manhã do dia seguinte, depondo as armas na esplanada, defronte da nossa tropa, a guarnição francesa, que perdeu todo o material de guerra, entre o qual avultavam nove peças de bronze, de grande calibre, e uma águia imperial (bandeira), a primeira que nestas campanhas se tomou aos franceses. Subida glória que cabe a Silveira e às suas tropas!
O generoso Silveira cedeu todo o espólio tomado aos franceses, que era avultado, em favor das tropas espanholas, conservando apenas como recordação — e que honrosa! — a águia, mais tarde apresentada a Beresford pelo capitão António José Claudino de Oliveira Pimentel, que por tal motivo foi promovido a major.
Soriano transcreve a participação oficial que Beresford mandou ao Governo deste feito, onde se fazem os mais calorosos elogios à bravura e prudência de Silveira, bem como a ordem do dia em que dele deu conhecimento ao exército, na qual se lê este período: «Está mostrado que os valorosos milicianos de Traz-os-Montes, não se esquecem da gloria dos seus antepassados, e que estão determinados a igualal-os: lembram-se do anno de 1762 em que os paisanos d’esta provincia bateram e fizeram retrogradar um corpo de tropas regulares do inimigo. Sua Ex.cia tem o maior gosto de assim fazer publicamente justiça ao merecimento do Sr. marechal de campo Silveira e ao das suas bravas tropas».
Entre os que se distinguiram neste ataque, Silveira menciona em sua participação oficial: o capitão Francisco Teixeira Lobo; os alferes Manuel Gonçalves de Miranda, Álvaro de Morais Soares, que servia de ajudante, Manuel Machado Falcão, que ficou levemente ferido, e António Caetano Pavão; o sargento da 5ª companhia, Domingos José, e o da 1ª, Manuel Borges, e o soldado da 5ª companhia, Manuel António Marcelino, que só à sua parte matou cinco franceses, e o major de milícias de Vila Real, António da Mota.
Silveira e Taboada retiraram então de Puebla de Sanábria: este para as Portilas de Galiza e aquele sobre Bragança, a tempo que o general francês Serras, que vinha contra eles em forças muito superiores e perseguiu os nossos até Pedralva, nenhum dano lhes pôde causar.
Sobre as alturas de Calabor ainda se demorou Silveira, na intenção de esperar o inimigo, que não passou de Pedralva.
No termo de Aveleda, no monte chamado a Campiça, a confinar com a raia espanhola de Calabor, no sítio de Carreira do Cavalo, há um local chamado a Trincheira, que conserva ainda hoje vestígios de haver sido fortificado.
Esta trincheira, interceptando o caminho mais fácil de Puebla de Sanábria por Calabor a Bragança, corre desde o ribeiro que passa em Aveleda e desagua no Sabor, no termo de Oleirinhos, freguesia de Meixedo, até outro ribeiro que passa em Varge e desagua no mesmo Sabor, em Gimonde, com o nome de Ribeiro de Igreja, atravessando a crista do monte da Campiça.
É natural que esta trincheira date deste tempo. A formar linha correspondente com ela, há uma outra acima da povoação de Varge, também ainda hoje chamada Trincheira, que será igualmente devida às tropas de Silveira.
Entretanto, tinha lugar um glorioso episódio desta acção. A guarda avançada de Silveira, formada por um esquadrão sob o comando do capitão de infantaria nº 12 Francisco Teixeira Lobo, tendo notícia às 8 horas da manhã do dia 4 de Agosto de 1810, que um corpo de cavalaria inimiga tentava surpreendê-la, marcha resoluta ao seu encontro pela estrada que se dirige a Monboy. Encontra-o pouco adiante da vila de Outeiro, em Espanha, fronteiro ao concelho de Bragança, que foi onde se deu a acção, junto a um prado que fica à direita da estrada; dá furiosamente sobre ele enquanto o alferes Manuel Gonçalves de Miranda, torneando uns tapados, o ataca com não menor denodo pela rectaguarda.
Dos franceses apenas escaparam o comandante e cinco ou seis soldados; os restantes mortos ou prisioneiros.
«O inimigo — diz Teixeira Lobo, de cuja Participação oficial extractamos esta notícia — vinha atacar-me com um pequeno esquadrão de setenta cavallos: ficaram mortos no campo da batalha dois officiaes e vinte e oito soldados, e vão apparecendo mais por entre as searas. Tomaram-se quarenta cavallos, alguns bastante feridos, e trinta prisioneiros».
Entre os que neste recontro se distinguiram, menciona Teixeira Lobo o alferes Manuel Gonçalves de Miranda «que com trinta cavallos do quarto esquadrão, com que se me tinha unido, se arrojou vigorosamente sobre o inimigo»; os alferes Álvaro de Morais, que servia de ajudante, António Caetano Pavão e Manuel Machado Talião; e os sargentos Domingos da 5ª companhia, e Manuel Borges da 1ª; bem como dois filhos dele capitão participante.
Francisco Teixeira Lobo foi elogiado por Beresford e promovido por distinção a major, bem como Manuel Gonçalves de Miranda, mais tarde ministro de Estado, a tenente.
A seguinte carta referente a este acontecimento menciona algumas espécies novas. Diz ela: «Aqui tem andado tudo azul com os taes francezes da Povoa de Senabria, para onde está o nosso general Silveira com os regimentos de milícias de Villa Real, Chaves, Bragança e Miranda e toda a cavallaria que estava prompta.
Temos a gloria de que encontrando-se hontem hüa nossa avançada de cavallaria de que era commandante Francisco Teixeira Lobo, cappitam com 50 cavallos francezes; estes forão de tal sorte rrechaçados que somente lhe escaparão 2 officiaes que os commandavão e 4 soldados, os mais tudo foi morto, e prizioneiros, e para fazer juizo de como foi a tal acção somente aqui vejo entrar 13 a seus pés, os mais vem em carros, huma grande parte ficou estendida no campo. Deus foi tão benigno que não perdemos hum só homem e de 7 ou 8 que ficaram feridos nada he de prejuizo de vida. A infantaria inimiga que dizem ser mil, foi citiada dia 3 na Puebla de Sanábria para onde se recolherão e della estão fazendo fogo. Hontem sahio daqui artelharia amanham se renderão, e a falta de artelharia tem demorado esta acção.
A coluna que nos amiaçava de que estes herão parte della, voltou; dizem huns que para acudir a Madrid, outros que tornou para a nossa Beira Alta de donde chegão noticias felizes dizendo ter-se retirado deli o inimigo daquelles sitios. 

Bragança, 5 de agosto de 1810».




Memórias Arqueológico-Históricas
do Distrito de Bragança

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