segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Tasca brigantina de um criativo Zé Tuga

No terreiro de castelo de Bragança, um dos mais bonitos de Portugal, um espaço tem nome de tasca, mas é um restaurante com uma cozinha que enaltece a matéria-prima transmontana, trabalhada com saber e arte e apresentada com criatividade.


Erguido no topo de um morro, a 700 metros de altitude e defendido por uma cerca amuralhada com mais de meio quilómetro de extensão, o castelo de Bragança é um dos mais emblemáticos monumentos da cidade do Nordeste transmontano.

No vasto terreiro interior, a Domus Municipalis, exemplar único da arquitetura civil românica; a igreja de St.ª Maria e o pelourinho assinalam épocas distintas da história da cidade brigantina.

Transpondo a Porta do Sol, destaca-se, do lado esquerdo, o restaurante Tasca do Zé Tuga.

Construção de linhas simples; paredes pintadas a branco e uma agradável esplanada lateral. Outra, de menor dimensão - apenas duas mesas em madeira com bancos corridos - frente à porta de entrada aumenta capacidade da casa.

Nos dias soalheiros, ambas são convite irrecusável para contemplar o castelo, que alberga o muito visitado museu militar, e a bonita torre de menagem com 34 metros de altura.

O interior do restaurante, que se divide por uma sala principal, uns degraus abaixo do nível da rua, e outra em plano superior -- é confortável e aconchegante. Ambiente com um toque de rusticidade, adequado a este espaço onde saltam à vista muitos produtos transmontanos.

À frente da casa, um ex-bancário e apaixonado pela cozinha, que revelou méritos e qualidades no concurso Masterchef. Luís Portugal é um transmontano empenhado na divulgação dos bons produtos da região, que trata com sagrado respeito pela sazonalidade.

Alguma da matéria-prima é confecionada na antiga escola primária de Paradinha, que comprou e adaptou a unidade de produção.

Criatividade, substância e apresentação esmerada definem a cozinha deste restaurante, sem que a se sobreponha aos sabores mais tradicionais.

O típico folar surge logo nas entradas, em que tiras de língua de vitela marinada com azeite do nosso e chutney de pimento começam por surpreender.

O falso corneto de sapateira, com caril, chutney de pimento, maionese de cebola roxa, tomate, vinagre balsâmico e rebentos de alho francês revelou magnífica textura de sabores.

Boa nota para o caldo de couves com hortelã da ribeira, pimenta rosa e orégãos, que antecedeu um dos pratos icónicos: trufa de butelo (desossado) e casulas, com sementes de papoila e mel de castanheiro e urze a darem um toque especial.

Provaram-se ainda o lombelo de porco com batata da serra e legumes, muito saboroso, e o naco de vitela, bastante suculento, a justificar a excelência da matéria-prima.

Nos vários menus de degustação destaque para o 1001 Maneiras do Chef, com o bacalhau - bolinhos, grão, pataniscas e caldo - no papel de protagonista.

As propostas de Trás-os-Montes incluem ainda canelone de alheira com cinco tomates, mas também há cuscuz de butelo, com lombinho de porco marinado.

Na carta de outono-inverno, sobressaem os pratos de caça - javali no pote; Perdiz à morgadinho da Paradinha; coelho frito com azeite -; os cuscuz de pombo, javali ou com carqueja e ainda o tradicional azedo, confecionado à Masterchef.

Um quarteto de saladas e a tomatada de atum tornam mais diversificada a escolha.

Para concluir em perfeita doçura, um chocolate com assinatura.

Boa garrafeira, com referências pouco habituais nos circuitos mais comerciais: os transmontanos Quinta das Cortiças branco e Holminhos tinto, fizeram harmonia perfeita com os pratos confecionados com rigor e muita paixão por um chef que é um excelente anfitrião na Tasca do Zé Tuga, em Bragança.

Onde fica:
Localização: R. da Igreja 68, 5300-025 Bragança
Telef.: 273 381 358

GPS:
Latitude: 41º 48" 12,89""
Longitude: 6º 44" 54,21"" W

António Catarino
TSF à Mesa

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