(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Hoje vou dizer qualquer coisa diferente, que não tem que ver com as estórias que normalmente escrevo e publico, para relembrar aos leitores tempo passado mas onde se construiu o presente e se alicerçará o futuro.
É do conhecimento geral de que ao domingo no centro da cidade não há um café que esteja aberto e possa atender os naturais e os forasteiros! Chamo centro da cidade à Praça da Sé e zona adjacente que na Alexandre Herculano chega ao antigo Cazão-Solas e Cabedais, Rua da República, Casa do Professor Paulo Quintela, Rua Direita, Restaurante Poças, Rua de Trás, Lopes & Pires e Almirante Reis Pensão Moderna.
Está desenhado o polígono central do meu tempo de criança e digam o que quiserem os discordantes será a zona central da cidade ainda nos próximos cem anos.
Vem Isto a propósito de que por razões diversas e que não me compete criticar, (Cada qual no que é seu, faz o que quer), ao domingo os quatro cafés que durante décadas serviram de apoio à vida social nessa zona nobre da cidade, estão pura e simplesmente fechados! O Flórida, o Chave d' Ouro, o Goal Keeper e o Bar situado ao lado do Restaurante Poças ao domingo estão de folga.
Ao abordar este assunto faço-o porque este pode à primeira vista parecer um caso simples de gestão corrente, mas não é.
Por razões diversas e com o início das obras do Polis foi dada uma machadada no comércio desta zona que inclui também a Praça Camões.
Ora o comércio de porta aberta é o sangue de qualquer zona urbana que de tal se intitule. A cidade dos homens deve ser construída em função da vida gregária que o homem através dos séculos foi aprimorando.
No Antigo Testamento há referências várias às portas da cidade. Era aí que a vida social tinha a sua expressão máxima. Durante a Idade Média todas as cidades da Velha Europa tinham, e ainda conservam as suas Piazzas, nas cidades grandes e uma Piazza Principal nas menos povoadas. Até aos nossos dias foi nas Praças e zonas adjacentes que a vida social teve sempre a sua expressão máxima! Bragança não foi excepção.
Foi talvez no que hoje se chama Largo do Principal, que terá outro nome oficial, mas eu conheço-o pela voz populi e não me interessa nada o nome oficial, dizia eu, que teria começado a azáfama da Praça no começo de oitocentos. Foi da escadaria da Igreja que Sepúlveda leu o pronunciamento contra os franceses usurpadores.
Com o aumento do perímetro da cidade transferiu-se para a Praça da Sé por razões óbvias e aí se mantém embora se tenham cometido erros grosseiros que concretizados sob a ideia explícita de progresso e modernização quase destruíram o potencial agregador da velha Praça da Sé.
Numa análise simples mas isenta veja-se quantos estabelecimentos que até à data atrás mencionada estavam de perfeita e feliz saúde, no que respeita ao volume de negócios e hoje estão de portas fechadas numa situação para a qual não se vislumbra solução a curto ou médio prazo! Há casos de resistência bem conhecidos de todos e até de insistência de outros que vão fechando e que são substituídos mas que voltam a fechar num curto espaço pois que não passa ali gente suficiente para manter o negócio rentável.
Poderia debruçar-me sobre os vários factores que concorrem para este resultado mas não o farei e dedicar-me-ei apenas à análise do caso dos Cafés.
Há da parte da Câmara uma acção meritória ao investir na Cultura e seus equipamentos. Mas essa acção esbarra numa barreira de tal forma imponente que afasta impiedosamente o turista de fim-de-semana não só da Praça da Sé mas da cidade.
Repetidamente tenho sido abordado por turistas, direi melhor, visitantes, que me perguntam onde há um Café aberto. Indico a Avenida João da Cruz. Invariavelmente vejo um sorriso de incredulidade ou uma resposta menos abonatória ao que lhes digo. Entendo um pouco de inglês, francês, italiano e espanhol, melhor entendo português e digo-lhe que se me tolhe a língua perante os comentários! Sorrio apenas como alguns deles fazem. Haverá quem me queira responder, argumentando mas isso acontece porque o centro se mudou! Pergunto, para onde?
Continuemos, como é possível fechar ao domingo e também a partir das 20:00 durante a semana numa zona que possui a Igreja mais importante da cidade, a Catedral nova é menos que o Senhor dos Aflitos, um Centro de Arte Graça Morais, um Centro de Cultura Sefardita. todo um património edificado notável, Cruzeiro, Solar dos Calainhos, Solar Bragançano (Eng.Matos) e de cujo centro irradiam as vias que nos conduzem ao Museu Abade de Baçal, Antiga Câmara Municipal, Castelo de Bragança e Dómus Municipalis, e tantos outros pontos de interesse ou de primeira necessidade como a Antiga Estação do Caminho de Ferro, hoje Estação Rodoviária,Tribunais , Centro Comercial ou Teatro Municipal?
Tudo Isto é uma vergonha brigantina! Sem pretender haver descoberto a pólvora dou aqui uma dica a quem de direito e que não use a sobranceria usual nos que agem só guiados pela máxima do "quero, posso e mando". Reúnam os responsáveis pelos quatro Cafés. Proponham-lhe o entendimento entre eles. Se não for possível, digam-lhes que a Praça Camões é um Espaço deserto e que a Câmara pode com o seu poder democrático montar ali um Café com recurso para já a pavilhões pré-fabricados e dá- lo à exploração a quem queira trabalhar ao domingo e nos outros dias a partir das 20:00. Digam- lhes também que lhes retirarão as licenças de esplanada e as que lhes permitem estarem abertos para além das tais 20:00 horas, isto se a lei da República o permitir. Mas ajam rápido antes que a cidade passe a ser vítima do ridículo de não ter um café aberto ao domingo. Não há pior vergonha do que aquela que provém do escárnio dos outros.
Poderia ir mais longe e falar de amor á terra e fá-lo-ia com conhecimento de causa pois a minha vida teve alguns reveses ligados a estas coisas e das quais não me lastimo, mas serviram também para me fazerem ver as coisas de interesse público não desligadas do privado.
Lanço o repto e desejo ardentemente que alguém tenha ideias que sirvam melhor as partes do que as que eu proponho!
Bragança, 01/10/2018.
A. O. dos Santos
(Bombadas)
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