sexta-feira, 21 de outubro de 2022

O Dom de Ti

Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)



Achaste-te preso aos confins do mundo
Onde o voo não mais teve lugar.
Perdidas as batalhas e as guerras
Que o calor da pele te fizeram sangrar.
Bateste os punhos contra a corrente
Ao som crescente de um(a) dó(r) maior!
E agora… 
… caído no silêncio das vozes mudas
Desse ritmo que se te afigura tão superior.
Mas sabes…
O que a minha memória apenas guarda de ti
É o rasgo d’um conforto e esperança
Que o teu olhar acolhia
Numa força desbravada de perseverança,
As palavras e os afetos escolhidos
Na palma d’uma mão que abraçava os instantes
E lutava por horizontes julgados já perdidos.
Pintavas as paisagens da vida
com as tintas da razão e o deslumbramento 
de um coração inocente de criança 
que alimenta todas as expetativas do momento.
Vê : 
no outro lado do espelho
O reflexo d’ um horizonte que te parece agora efémero
E pincela com as respostas desse passado,
um futuro ainda vivo, que se perpetue e renasça
nas sombras da emoção transfigurado.
Pois é neste momento
quando as palavras se te perdem  e misturam
num sabor duro de marfim, 
que te peço, num eco sem fim:
rasga as correntes do labirinto em que te prendes
e resgata esse, afinal,  tão nobre Dom de Ti.


Paula Freire - Psicologia de formação, fotografia e arte de coração. Com o pensamento no papel, segue as palavras de Alberto Caeiro, 'a espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias'.

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