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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 14 de maio de 2019

DOS URSOS E DA DIGNIDADE

Nos últimos dias voltámos aos noticiários nacionais com algum destaque, como noutras vezes, por razões atípicas, que fazem abrir a boca de espanto à maralha que se acotovela, feliz e contente, pela capital e arredores.

Pelos vistos, um exemplar da espécie urso pardo ibérico, de que não havia notícia no território do país desde o meado do século XIX, terá passeado pelo norte do concelho de Bragança, deixando marca em colmeais, na senda do apetecível mel. Logo floresceram, no anedotário nacional, múltiplas historietas e se encontrou motivo para recuperar conotação semântica do animal com estupidez e molenguice que, na realidade, não tem verdadeira correspondência com o plantígrado, habitante da Eurásia desde tempos imemoriais.

Nada de novo, portanto, no que respeita à atenção que merecemos. Logo nos dias seguintes, na pré-campanha para as eleições europeias, repetiu-se a forma conhecida de tratamento informativo da região, o quase nada, apesar das caravanas de automóveis com as siglas das televisões, das rádios e de jornais de Lisboa e Porto, atrás de dois ou três candidatos de cada partido, como quem passa por vinha vindimada, obedecendo a editores que não se preocupam em conhecer os territórios onde se realiza a gincana, sem constituir espectáculo, porque já lá vai o tempo em que as populações se dispunham a levar literalmente com a poeira nos olhos.

Os raides ao país real não são mais do que isso, porque seria incomodativo parar, escutar e olhar, com olhos de ver, para o resultado do que tem sido a acção dos protagonistas da política, mas também a omissão de escribas e palradores que se foram instalando na comunicação social. Mais cedo ou mais tarde, o tempo há-de revelar a verdadeira face da iniquidade de que têm sido alegremente cúmplices.

Entretanto, alguns dias antes, foi-nos servido, à laia de lenitivo, o resultado de um estudo sobre a sustentabilidade dos municípios, com parâmetros que darão indicações sobre patamares de qualidade de vida a que acedemos, apesar de todas as dificuldades que nos impuseram. Não encontramos razões para nos envergonhar dos indicadores.

Este resultado de uma observação cientificamente conduzida justifica o respeito pela alma grande dos cidadãos destas terras, que não baixaram a cabeça de resignação, resistiram à tentação do abandono e continuaram à espera de varrer do horizonte a iminência do fim.

Fica claro que, se tivesse havido vontade política no último meio século, a região teria garantido condições de desenvolvimento que a arredariam de ameaças que persistem e podem vir a revelar-se fatais, porque já não haverá tempo, nem condições demográficas para as debelar.

Resta a constatação de que a condição a que se chegou não foi da responsabilidade dos nordestinos, porque demonstram força e inteligência para fazer da sua terra um lugar de prosperidade, dignidade e progresso. Houvesse boa-fé e visão histórica e poderíamos ter conhecido um destino diferente.

Quanto a ursos, há-os neste país bem mais perigosos do que os pardos.


Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com

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