Em tempos idos, os mouros ocuparam esta região, onde ainda existem reminiscências.
Presume-se que ALA, será de origem MOURISCA (Alla). Existe no local de Perafita uma fraga enorme que, numa cavidade, em dia de chuva, armazena muita água. Diz-se que esse local foi habitado por mouros noutros tempos. Diz-se também que foram os fundadores da povoação de ALA. Perto da ribeira, existe a chamada PIA DOS MOUROS, feita ou cavada na referida fraga. Servia para dar de beber aos cavalos, e aos demais animais dos mouros.
As mouras lindíssimas eram vistas por cristãos, e uma delas, filha do principal Emir Mourisco, amava um jovem cristão às escondidas de seus pais. Nunca acedeu a contrair amores com outro jovem mouro, a quem seus pais a destinavam. Ao tempo já se fazia guerra para a expulsão dos Mouros do território nacional. Sentiram os mouros que teriam de abandonar esses locais, e começaram a retirada.
Numa noite, encontrou-se a linda jovem moura com o seu amado e jovem cristão. A moura disse para o amado: - Tenho de fugir com os meus pais, pois sabes que a isso sou forçada, e se assim for, jamais nos encontraremos. O que pensas disto?
Respondeu-lhe o jovem cristão: - Eu não te deixo por nada deste mundo.
A mourinha, encantada com a resposta, disse-lhe:
- Eu não posso cá ficar, e tu não podes ir comigo, e eu também não quero deixar-te por nada deste mundo.
- Queres ajudar-me agora a encher a Pia dos Mouros? É de noite e ninguém vê.
O jovem cristão respondeu que sim. Começaram a encher a pia de água.
Depois de bem cheia, disse a jovem moura, para o seu amado cristão:
- Nem eu vou com os meus pais, nem tu vais. Vamos selar o nosso amor aqui mesmo.
Depois, afogamo-nos na mesma pia dos mouros, que será a nossa cama de núpcias.
E assim sucedeu. Quando ao amanhecer, os mouros foram dar de beber aos seus cavalos, encontraram na pia dos mouros a moura e o cristão afogados, de mãos dadas, e com os lábios colados, dizendo ao mundo, em nome do seu amor, que em amor não há distinção de raças ou religiões...
Hoje os mais velhos habitantes desta povoação de Ala, ainda cantam a quadra, simples, que algum poeta antigo escreveu:
Existe na Perafita,
Uma enorme pia
Que os mouros lá fizeram
Para beber sua cria.
RECOLHA (1985) de Judite do Sacramento Rodrigues, Sambade – Alfândega da Fé.
FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA
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(Henrique Martins)
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