(Relatório do Governador Civil do Distrito Administrativo de Bragança, 1857)
Ponte sobre o Rio de Onor, símbolo da multissecular ligação entre Bragança e Espanha |
É certo que, temperando de certo modo essa matriz, Portugal demonstrou uma significativa abertura aos restantes Estados ibéricos, e mesmo à própria Espanha, fundada, como é sabido, na segunda metade do século XV, com os Reis Católicos, que uniram os Reinos de Aragão e Castela.
No que concerne, então, a Trás-os-Montes, as relações económicas, sociais, culturais e religiosas com a Galiza e Castela-Leão mantiveram-se intensas, profundas e duradouras. Cidades e vilas fronteiriças, como Chaves, Vinhais, Bragança e Miranda do Douro animavam tráfegos e circuitos comerciais que ignoravam, praticamente, a fronteira entre os dois países e que iam até Santiago de Compostela, Orense, Zamora, Valladolid, Burgos e Salamanca. Santiago de Compostela exercia sobre os portugueses do Norte de Portugal um profundo fascínio.
Numerosos portugueses estudavam em Salamanca e artistas de Zamora e Valladolid vinham trabalhar para Trás-os-Montes. E às feiras, romarias e festas populares de ambos os países, até ao século XIX, acorriam, de um e do outro lado da fronteira, portugueses e espanhóis.
Mas, foram sobretudo as relações económicas que aproximaram, no século XIX, o Norte de Portugal de Castela-Leão. Não sabemos qual das duas regiões mais beneficiou com este intercâmbio económico. Mas sabemos que no Porto se localizavam as grandes casas comerciais que animaram este tráfego (Bragança chegou a possuir sucursais e armazéns daquelas), e que, portanto, a capital do Norte detinha o controlo de boa parte do comércio desenvolvido entre a sua região e Castela-Leão. E sabemos, igualmente, que as forças vivas do Porto e do Norte de Portugal, como se pode ver através de numerosos relatórios da época, defendiam as “inegáveis vantagens” que viriam para Portugal do estreitamento e fortalecimento das relações de “amizade e boa harmonia” que nos ligavam à nação vizinha, e que os mútuos interesses dos dois países aconselhavam a que se facultasse “na maior escala possível a livre navegação do Rio Douro” às populações de ambos os países.
Quanto a Bragança, a sua localização junto da fronteira, a ausência de boas comunicações com o resto do território português e a sua tradicional dependência de gados e cereais, fez com que as relações com a Galiza e Castela-Leão se assumissem sempre imprescindíveis.
CONTINUA...
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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