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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 17 de março de 2020

Mulheres prisioneiras do luto

Há mulheres que vivem a vida inteira de luto, como Maria Augusta, da aldeia de Caravela, Bragança.
Há mais de meio século que veste roupa preta e usar cores claras já não faz sentido. Como ela, também a sua irmã Sara está viúva, mas há 10 anos. Tudo começou em 1956, quando Maria Augusta casou com o seu marido, aos 24 anos. Foram poucos anos de casamento, porque a doença levou-lhe o companheiro ainda cedo. Ficou com dois filhos nos braços, um menino de 10 anos e uma menina de 4. A cor que trazia no coração era igual à das roupas que vestia e ainda veste, preto. “Toda a vida andei de luto. Nunca mais vesti branco”, disse, contando que deu, na altura, todas as roupas claras que tinha.

Nascida, a 19 de Maio de 1932, e criada em Caravela, aldeia do concelho de Bragança, viu-se obrigada a trabalhar em dobro para conseguir pôr comida na mesa. Trabalhou sempre na agricultura. “Cá fiquei. A vida continuou, tive que criar os filhos e tinha que fazer pela vida, foram tempos difíceis”, contou.

Viviam da horta. A comida que os alimentava vinha dos seus cultivos. Batatas, couves e, de vez em quando, lá matava um porco.

Mais de 50 anos de luto e já não consegue vestir outra cor. Confessou que o preto torna as pessoas mais tristes, mas que fazia parte da cultura vestir-se assim quando algum familiar ou marido morria. Agora reconhece que os tempos mudaram. “Quando alguém da família falecia tínhamos de andar uma temporada de luto. Agora os tempos mudaram, morre-se hoje e amanhã volta ao baile”, disse.

Perto de si vive a sua irmã Sara que, apesar de 20 anos mais nova, acompanhou de perto o luto de Maria Augusta e das dificuldades que passou para sustentar os filhos. Também ela é viúva e já lá vão 10 anos desde que o marido faleceu. Apesar de estar de luto, usa roupas escuras, mas nem sempre o preto. “Aquelas cores que usávamos quando eramos solteiras, nunca mais na vida conseguimos pôr. Mas um azul-escuro e castanho já visto”, conta.

Mudam-se os tempos, mudam-se as cores. Sara reconhece que cada vez mais as pessoas procuram não vestir o luto na altura da perda.

Maria Augusta tem 88 anos e é viúva há mais de 50 anos. A sua irmã Sara tem 68 e está viúva há 10 anos. As duas prisioneiras do luto, a quem o preto invadiu não só os corações, mas também os armários.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

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