(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Admirava-se meu conhecido, que costumava almoçar na Casa da Beira, que poucos aceitam passar os últimos dias, na casa dos filhos.
Para ele, que era solteiro, o lugar dos idosos, era, a seu pensar, em companhia dos seus.
Tenho amigo - digo: tinha, porque já faleceu, o Anselmo Tavares, homem bom e trabalhador, que costumava dizer a propósito dos filhos: “ A casa dos pais é a dos filhos; mas a casa dos filhos nem sempre é a dos pais! …”
Recordo, agora – como recordo”, – a expressão desalentada de velho parente que regressando da missa, em minha companhia, ao aproximar-se de casa, desabafou em voz apertada e velada:
- “ Gostava que entrasses… mas a casa não é minha…Não sei se minha filha ia gostar…”
E a confidência do amigo Alberto, que me disse à puridade: -” Não te telefono mais, porque receio que meu filho repare…”
Nesse tempo, as ligações telefónicas eram pagas ao minuto.
Entre amigos e conhecidos, poucos são os que gostavam de passar a velhice na casa dos filhos. ”Uma coisa é a visita; outra é a convivência diária” dizem.
É natural que assim seja: todos querem ser livres: sair e entrar, sem dar satisfação.
Se o idoso recebe boa aposentação, e os filhos não carecem dela, em regra, internam-no num Lar, argumentando: que lá está melhor, e melhor cuidado…
Caso a aposentação seja pequena recolhe-se em albergue, sem as mínimas condições humanitárias; ou vegeta, solitário, na solidão de andar ou quarto sombrio e triste, ou passa a morador de rua.
A velhice dos pais e avós, é, quantas vezes, estorvo para filhos e netos.
Eu sei que cabe, principalmente, ao Estado, a obrigação de acolher o idoso abandonado, em lares com dignidade, mas, por razões monetárias ou desinteresse, não o faz, na maior parte das vezes.
Todavia se azafama a transformar quartéis vazios, para alugar a estudantes, a preços módicos; mas, porque não constrói ou adapta casa desocupadas, para a população envelhecida?
A Igreja parece seguir o mesmo caminho, cem conventos vazios e seminários…alugando a estudantes universitários, para obter rendimento, com pouca despesa e trabalho.
Ser idoso, em Portugal, onde os jovens, em grande número, partem em busca de melhores condições, tornou-se uma calamidade, que poucos se preocupam. Dizem que há Casas de Repouso, que outrora se dedicavam à Classe Média, que começaram a imitar certos hotéis algarvios: preferindo receber estrangeiros: porque, além da estadia, gastam em outros bens.
Olvida-se que uma das prioridades da Nação, deveria ser: proporcionar aos cidadãos – que nasceram, trabalharam e viveram sempre no seu País, – fim de vida feliz, sendo eles: pobres, da Classe Média ou ricos.
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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