Reproduzidas de geração em geração, as tradições de Natal no Norte servem-se à mesa, em família, mas também se levam para a rua, em celebrações que juntam toda a comunidade.
Foto: Visit Porto - Daniel Rodrigues |
Bananas e Moscatel, fogueiras na rua e mascarados atrevidos. Polvo no pote e bilharacos. À mesa, mas também fora de casa, o Norte de Portugal é forte em tradições que se repetem todos os anos e atravessam épocas e gerações. Num ano em que muitas estão em suspenso, recorde as mais peculiares.
Foto: Rota da Terra Fria - Nuno Moreira N16 |
Entrudo natalício
Em Trás-os-Montes, o entrudo tradicional vive de tradições ancestrais que remontam à era pré-cristã e que, celebrando o solstício de inverno, também se sentem nesta época de Natal. Na vila de Varge, onde os rapazes solteiros se reúnem na véspera de Natal para, no dia 25, correrem a terra vestidos de Caretos, em folia e escárnio, provocando os habitantes com cantigas e escárnio, e que termina com uma festa; Já na aldeia de Ousilhão, em Vinhais, os Caretos saem à rua na celebração da festa dedicada a Santo Estevão (24, 25 e 26 de dezembro). Os mascarados tal como no entrudo, percorrem a aldeia com travessuras feitas a toda a população que lhes abre a porta com mesa bem recheada para os rapazes - boas visitas - e mascarados - considerados pela tradição “maus visitantes”.
Aquecer o Natal com uma boa fogueira
Vários são os locais onde se acendem gigantes fogueiras na noite de Natal para que a comunidade possa conviver à sua volta nas madrugadas frias de dezembro do Norte de Portugal. Manda a tradição que os Madeiros ou Fogueiras do Galo se acendam depois da Missa do Galo e ardam toda a madrugada em diversas vilas e aldeias, principalmente do interior Norte do país. Neste estranho 2020, as regras impõem que cada um desfrute da lareira de casa e do calor da família próxima.
Moscatel e bananas
Em Braga, manda a tradição que todos os anos, no dia 24, os habitantes da cidade se juntem em convívio bebericando um copo de vinho Moscatel acompanhado de… uma banana. Conhecido como “Bananeiro”, o costume não é ancestral. Terá começado há cerca de quatro décadas, perpetuando o hábito de um grupo de amigos que anualmente, a 24 de dezembro, se reuniam numa antiga taberna, chamada “Casa das Bananas”. Como o local era também armazém de fruta, a banana surgiu como acompanhamento natural juntando os dois negócios da casa. A tradição de ir à “Casa das Bananas”, também conhecida como “Bananeiro”, está, em 2020, suspensa, de modo a evitar ajuntamentos mas espera-se que regresse às ruas da cidade na véspera de Natal de 2021.
À mesa: Polvo e bacalhau, bilharacos e vinho quente
Há cem anos atrás, a ceia de Natal era sinónimo de jejum por todo o país… exceto no Norte de Portugal.
A Consoada, ou ceia de véspera de Natal, tinha tradição nesta região, mas sem carne: Bacalhau e polvo integravam, tal como hoje a ementa. Os dois frutos do mar continuam a predominar nas mesas da Consoada. Tanto no Minho como no Douro Litoral, o Bacalhau cozido é rei da mesa, e serve-se também, no almoço do Dia de Natal. Para fazer a “roupa velha” ou “farrapo velho”, cortam-se aos bocados os restos das couves, batatas, bacalhau, ovos e cenoura do dia anterior e aquecem-se num frigideira com azeite. Cabrito e perú, ambos assados no forno, são alternativas.
Já entre Douro e Minho, manda a tradição que o polvo, também cozido, possa substituir o bacalhau, sendo semelhante o acompanhamento.
Também aqui a “roupa velha” vai para a mesa no dia seguinte.
Para aquecer as temperaturas austeras de Trás os Montes e Alto Douro, a ementa da ceia de natal é variada. O Bacalhau e o polvo reinam também nesta região, mas além de cozidos também podem ser fritos. Em alguns locais usa-se ainda pescada ou congo fritos.
Além do “farrapo velho”, ainda em uso, no Dia de Natal são tradicionais os assados de carnes como cabrito, cordeiro, borrego ou perú.
Doces e vinho quente
Aos principais seguem-se os doces, variados e abundantes.
Rabanadas, Filhoses, Arroz doce, Sonhos e Bolinhos de abóbora-menina (na variante Bilharacos) são comuns à várias regiões.
Entre Douro e Minho usam-se ainda os Mexidos, que juntam pão, vinho e frutos secos e, em Trás os Montes, acrescenta-se o Pão-de-ló (seco) e as Farófias (também conhecidas como nuvens chinesas). Nesta região, o Bolo Rei é por vezes substituído pelo Bolo Inglês.
Ao fim da noite é costume beber vinho quente, servido com mel e pau de canela.
Saiba ainda que a mesa deve ficar posta durante toda a noite para que os que já partiram possam saciar-se.
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