“Desde a sua juventude a artista teve uma permanente participação ativa na defesa do humanismo, do respeito pela dignidade humana e dos direitos humanos. Uma ligação muito forte à terra e às tradições populares e uma permanente atenção à dureza da vida e à compaixão têm caracterizado uma assinalável coerência na sua obra”, afirma o júri, ao qual presidiu Guilherme d’Oliveira Martins, sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa.
“Para Graça Morais a cidadania cultural constitui algo de natural e necessário. O seu talento artístico e a escolha dos temas para as suas obras, em estreita ligação íntima, têm sempre subjacente a atenção aos outros e o cuidado relativamente aos mais vulneráveis. A artista e a cidadã estão sempre presentes, o que constitui um singular exemplo no panorama artístico contemporâneo, merecedor de especial reconhecimento”, sublinhou o júri do prémio promovido pela Estoril Sol, em comunicado enviado à agência Lusa.
Este prémio junta-se a várias outras distinções que a artista plástica já recebeu, nomeadamente a Ordem do Infante D. Henrique, com o grau de Grande Oficial, atribuída em 1997, e a Medalha de Mérito Cultural, pelo seu contributo para as artes, atribuída em março de 2019, pela então ministra da Cultura Graça Fonseca, e o mais recente prémio “Personalidade do Norte”, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, que lhe foi entregue no final de novembro.
Maria da Graça Pinto de Almeida Morais nasceu há 74 anos em Vieiro, aldeia no concelho transmontano de Vila Flor. De 1957 a 1958 viveu em Moçambique, no vale do Limpopo, de onde regressou em 1959 para a sua aldeia natal.
Foi em Moçambique que despertou o interesse pela pintura, aos nove anos, incentivada pela professora, depois de o pai lhe ter oferecido uma caixa de aguarelas, como conta a José Jorge Letria no livro “Graça Morais: A Grande Arte Tem a Dimensão do Mistério” (2018).
De acordo com o seu relato, foi nesta altura que disse à mãe querer ser pintora, apesar dos receios da progenitora, convencida de que os artistas passavam fome. A mãe tinha outros projetos para si, como tornar-se professora primária, seguindo uma tradição familiar.
Em Bragança, porém, onde frequentou o liceu, começou a fazer ilustrações para o jornal Mensageiro de Bragança.
Aos 15 anos, desenhou os cenários para “Auto da Alma”, de Gil Vicente, quando começou a ser apelidada no liceu de “a pintora”.
Em 1990, voltou ao teatro, tendo desenhado os cenários para a peça “Os Biombos”, de Jean Genet, levada à cena Pelo Teatro Experimental de Cascais. Em 1995, desenhou os cenários para a peça “Ricardo II”, de Shakespeare, levada à cena no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.
Em 1966, matriculou-se na Escola Superior de Belas Artes do Porto para estudar pintura, licenciatura que terminou em 1971. Em janeiro de 1974, expôs pela primeira vez, no Museu Alberto Sampaio, em Guimarães. Desde então realizou e participou em mais de uma centena de exposições individuais e coletivas, em Portugal e no estrangeiro.
Em 1983, representou Portugal na 17.ª Bienal de S. Paulo, no Brasil, dois anos mais tarde apresentou uma exposição no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Em 2007, levou a exposição “La Violence et la Grâce” ao Centro Gulbenkian, em Paris, tendo paralelamente decorrido o colóquio internacional “O Mito e a Metamorfose” que reuniu cerca de 20 especialistas sobre a sua obra.
Colaborou, entre outros, com os escritores José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, Miguel Torga, Pedro Tamen e Nuno Júdice.
Em 2008, inaugurou o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (CACGM), em Bragança, um edifício da autoria do arquiteto Eduardo Souto de Moura, e que já acolheu diversas exposições da artista.
Dez anos mais tarde, foi criado o Laboratório de Artes na Montanha - Graça Morais (LAM-GM) que visa promover novas oportunidades para atividades de ensino e investigação.
Graça Morais é membro da Academia Nacional de Belas Artes e de diversas associações, confrarias e fundações culturais.
O Prémio Vasco Graça Moura-Cidadania Cultura foi instituído pela empresa Estoril Sol, em homenagem à memória do escritor Vasco Graça Moura (1942-2014), nascido há exatamente 81 anos, no Porto, em 03 de janeiro de 1942.
Segundo o regulamento, o Prémio “visa distinguir um escritor, ensaísta, poeta, jornalista, tradutor ou produtor cultural que ao longo da carreira - ou através de uma intervenção inovadora e de excecional importância -, haja contribuído para dignificar e projetar no espaço público o sector a que pertença”.
Guilherme d’Oliveira Martins presidiu ao júri da edição deste ano, que foi ainda constituído por Maria Carlos Gil Loureiro, da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores, Manuel Frias Martins, presidente da Associação Portuguesa dos Críticos Literários, e, a convite da Estoril Sol, o escritor Liberto Cruz, o jornalista José Carlos de Vasconcelos, distinguido com este mesmo galardão em 2017, a diretora para a Educação, Ciência e Cultura na Organização de Estados Ibero-Americanos, Ana Paula Laborinho, e, ainda, o jornalista Dinis de Abreu, em representação da Estoril Sol.
O galardão foi entregue pela primeira vez em 2016 ao ensaísta Eduardo Lourenço. José Carlos Vasconcelos recebeu-o em 2017, o escritor e investigador Vítor Aguiar e Silva, em 2018, a atriz Maria do Céu Guerra, em 2019, o fadista Carlos do Carmo, em 2020, e, no ano passado, o gestor e jurista Emílio Rui Vilar, ex-administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, foi o distinguido.
A cerimónia da entrega do Prémio será “anunciada oportunamente”, conclui a Estoril Sol.
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