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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Restaurar o Património, Preservar a Memória | Museu do Abade de Baçal

 No passado dia 4 de Fevereiro, o Museu do Abade de Baçal, em Bragança, inaugurou a sua mais recente exposição: Restaurar o Património, Preservar a Memória. Esta mostra, com curadoria de Jorge da Costa e Georgina Pessoa, dá luz a obras que se encontram normalmente nas reservas do Museu e que correm o risco de desaparecer devido ao seu estado de conservação.
O proximArte esteve presente no evento de inauguração e este artigo serve, então, para partilhar esta tão necessária iniciativa de angariação de fundos levada a cabo pela instituição brigantina.


Tendo chegado ao Museu do Abade de Baçal um pouco antes de se dar início à cerimónia de inauguração, consegui ver esta exposição com a sala vazia. Não interessa aqui avaliar a disposição das peças, mas sim ter tempo para parar e ouvir o que elas nos dizem – entender como as podemos ajudar a recuperar o brilho que outrora tiveram. Restaurar o Património, Preservar a Memória serve exactamente para isso: sensibilizar a população (particulares e empresas) a contribuir para a recuperação e salvaguarda deste património.

Quando entramos nesta sala, temos imediatamente oportunidade de consultar um dossier que nos mostra os condition reports de algumas das peças expostas. Estes relatórios/documentos falam de todos os pormenores das obras, do seu estado de conservação, qual o tipo de restauro que necessitam e qual o custo do procedimento a realizar – e deixo aqui uma pequena nota para realçar o facto de, neste valor, fazerem questão de incluir o tempo gasto pela pessoa que o irá realizar.

Estes dados são uma base para o visitante ter uma noção de qual a quantia necessária angariar não só por cada peça, mas também no conjunto. E há de tudo um pouco, entre peças que precisam de um investimento de 2.000€ e outras cujo valor do procedimento ultrapassa os 12.000€ – tudo depende do tipo de peça e da intervenção necessária para o seu restauro.




Autor desconhecido, Circuncisão, óleo sobre madeira, século XVI.

Deixo mais uma nota para dizer que é de louvar o facto da equipa do Museu do Abade de Baçal ter escolhido 25 peças tão variadas, que vão desde a Cerâmica, o Desenho, a Pintura sobre vários suportes, o Mobiliário e até Documentos. Cada uma delas nos mostra descaradamente porque precisa de ajuda: desenhos de Domingos Sequeira que quase já não se vêem devido a camadas de sujidade; espelhos em falta; pinturas com as tábuas de suporte partidas; telas craqueladas; peças de cerâmica e de alabastro com bocados partidos; peças de madeira policromadas quase já sem cor; entre outros. É-nos inevitável pensar quantas mais peças por todo o país se encontram na mesma situação e o quão triste para o património português seria que elas desaparecessem para sempre por falta de verbas para a sua melhor conservação e acções de restauro.

É propósito desta exposição sublinhar não apenas a incontestada importância histórica, artística e estética destes objectos, apresentados aqui com as suas múltiplas lacunas e vulnerabilidades, mas, sobretudo, alertar para a urgência da sua recuperação e valorização, assim como do seu estudo/investigação e divulgação.

– Museu do Abade de Baçal, website.

Esquerda: Autor desconhecido, São José, madeira dourada estofada e policromada, século XVII (?). // Autor desconhecido, Figura de Mulher, madeira dourada estofada e policromada, século XVI/XVII (?).

Caneca Antropomórfica, fabrico atribuível às Fábricas de Cerâmica do Porto ou Vila Nova de Gaia, faiança vidrada e policromada, século XIX.

A inauguração foi presidida pela Dr.ª Laura Castro, Directora Regional da Cultura Norte, e pelo Dr. Jorge da Costa, Director do Museu do Abade de Baçal e da Domus Municipalis de Bragança. Sabemos que, todos os anos, o orçamento do Estado atribuído à cultura é bastante reduzido e se pensarmos que o mesmo tem ainda que ser dividido por inúmeras vertentes e instituições, pouco sobra para que cada uma delas possa concretizar todos os projectos necessários para o seu melhor funcionamento. Posto isto, não surpreende que tanto o discurso da Dr.ª Laura Castro como o do Dr. Jorge da Costa tenham recaído essencialmente sobre a falta de verbas que os espaços museológicos, e aqui em particular o Museu do Abade de Baçal, têm para conseguir garantir o restauro de várias peças que integram as suas reservas. A exposição surge, então, como um caminho extra para conseguir meios monetários extra para concretizar as acções necessárias, sendo a primeira grande iniciativa proposta pelo que é o novo director do espaço.


Autor desconhecido, Nossa Senhora das Dores, óleo sobre tela, século XVII.


Há que saber elogiar uma instituição que arregaça as mangas para cuidar do que é seu, quando o Estado falha repetidamente nesse sentido. Que se sigam mais exemplos para evitarmos a perda de mais património nas nossas instituições museológicas e para impedirmos que obras permaneçam nas reservas durante décadas sem verem a luz do dia e sem se mostrarem a quem visita os espaços que as acolhem.

Estas obras até agora escondidas nas reservas tiveram finalmente a oportunidade de sair, de ser estudadas e de se mostrar à população ao mesmo tempo que pedem por ajuda. Quando visitarem o Museu do Abade de Baçal têm a oportunidade de contribuir para esta iniciativa através de uma caixa de doações; se não conseguem deslocar-se a Bragança, nada temam, pois brevemente o website do MAB terá um meio para receber doações online. Também por via informática terão a oportunidade de acompanhar todo o processo de crowdfunding.

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