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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

BUTELO E CASULAS VOLTARAM A SER REIS EM BRAGANÇA

 Dois dos produtos mais representativos da cultura gastronómica transmontana estão em destaque desde a passada sexta-feira no Festival do Butelo e das Casulas, em Bragança, que termina esta terça-feira

Foto: C. M. Bragança

Nas terras frias de Trás-os-Montes mandava a tradição que, com a chegada do Carnaval, as mesas fossem postas com o tradicional butelo com casulas. O butelo, um enchido enigmático, que só se descobre verdadeiramente depois de aberto, é o rei do prato, acompanhado pelas casulas que são, nada mais, nada menos, do que as vagens secas. 
A receita parece simples, mas a explosão de sabores é arrebatadora. Depois de degustado pela primeira vez, este prato tende a repetir-se na mesa dos portugueses, que procuram a região para adquirirem estes produtos. Dada a procura e o carácter identitário de ambos, o município de Bragança organiza, desde 2015, o Festival do Butelo e das Casulas. Este ano arrancou no dia 17 de Fevereiro e termina hoje, na Praça de Camões. 
O butelo, a “jóia do fumeiro”, foi criado para o aproveitamento do porco, envolvendo a bexiga ou o bucho, “com um recheio de ossos de suã” (a coluna vertebral do porco). Quem o diz é Helena Cordeiro, natural de Algoso, no concelho de Vimioso, que veio pela segunda vez ao festival brigantino “para escoar os produtos”, à semelhança das dezenas de expositores que marcaram presença no certame. “Vim este ano e no ano anterior à pandemia. Ainda é muito cedo para dizer alguma coisa, mas sinto que este ano está mais parado, porque o poder de compra também é menor. Mas temos de começar a entrar na normalidade e tenho esperança que vai melhorar”, disse a vendedora ao início da tarde de sábado. 
No entanto, à medida que as horas passavam e o rodopio de visitantes se fazia sentir na Praça Camões - uma das principais artérias da cidade - as vendas também tiveram tendência a melhorar. “O festival está a exceder as minhas expectativas. Além de estar muita gente, há também muita gente a comprar, o que por vezes não acontece. As pessoas já tinham saudades de provar os nossos produtos”, disse Mafalda Maio, vendedora de butelos e casulas, natural de Duas Igrejas, no concelho de Miranda do Douro. Questionada sobre o segredo da confecção de um butelo, a produtora mirandesa apontou para “a técnica com que se aperta o enchido” “O butelo tem de estar bem unido quando é apertado. Para isso é preciso boas mãos e muita técnica. É um enchido exigente”, apontou Mafalda Maio. 
Entre os visitantes do Festival do Butelo e das Casulas era possível encontrar aqueles que vieram pela primeira vez, quer de vários pontos do país, quer da vizinha Espanha. Por outro lado, muitos eram repetentes naquelas andanças e reconhecem o acrescido valor deste tipo de iniciativas, não só para o concelho de Bragança, mas também para toda a região transmontana. “O festival está muito bem organizado. Conheço alguns dos expositores e todos eles me disseram que estavam a vender excepcionalmente bem os nossos produtos regionais”, disse Eliana Melro, visitante natural de Bragança. Para aquela filha da terra, que desde 2015 acompanha o progresso do festival, “qualquer evento é importante” para a cidade. “É fundamental que as pessoas venham cá, que visitem a nossa cidade, que comam nos nossos restaurantes e que comprem os nossos produtos. 
Quantos mais eventos e visitantes, melhor funciona a nossa economia”, rematou Eliana Melro.

Festival alargado para cinco dias
No leque de 48 expositores que compuseram o Festival do Butelo e das Casulas, muitos deles aproveitaram a ocasião para escoarem outros produtos locais, nomeadamente o azeite, o mel, o vinho e até artesanato. Além disso, a Praça Camões acolheu também demonstrações e degustações gastronómicas com chefs de renome e, ainda, o concurso do melhor Pastel Brigantino. No entanto, este ano, a pedido dos expositores, o Festival do Butelo e das Casulas foi alargado para cinco dias, ao contrário dos anos anteriores, que decorria apenas durante dois curtos dias. Para Hernâni Dias, presidente da Câmara Municipal de Bragança, o pedido de alargamento da duração do certame é “um sinal claro do agrado dos vendedores”. “Isto é a prova de que o butelo e as casulas têm vindo a ganhar uma expressão considerável na gastronomia de Bragança e da região”, disse o autarca. 
Com a Praça de Camões cheia de pessoas e com produtos de qualidade para oferecer, Hernâni Dias, fala de “fidelização” e da promessa desses mesmos visitantes regressarem à cidade. “O nosso objectivo é valorizar o produto, dinamizar a economia local e, de forma indirecta, promovermos a própria divulgação do território. Quando os turistas se deslocarem a Bragança, se nós tivermos o que lhes oferecer e com qualidade, seguramente estaremos a conseguir ter clientes para os anos seguintes”, adiantou. 
Além do sucesso do evento em si, toda a riqueza gerada em torno do festival, nomeadamente na restauração e hotelaria, é um dos motivos para a autarquia continuar a apostar no Festival do Butelo e das Casulas. “Temos milhares de pessoas a deslocarem-se a Bragança estes dias. Basta ver aquilo que acontece na hotelaria, que está completamente lotada e também a restauração. Isto é bom para nós, mas também para os concelhos vizinhos, que abrem as portas aos turistas”, rematou. Além do Festival do Butelo e das Casulas, a cidade de Bragança acolheu também o tradicional Carnaval dos Caretos. Unindo os dois, foram os ingredientes perfeitos para um fim-de-semana de sucesso para a capital de distrito.

Confraria do Butelo e das Casulas luta pela valorização dos produtos
No âmbito do Festival do Butelo e das Casulas, que decorre desde o dia 17 de Fevereiro, o jornal Nordeste foi conhecer a Confraria que está por detrás desta iguaria e que a tem levado a vários pontos do país e para o estrangeiro. Por onde passa deixa o seu rasto de apreciadores, em grande parte graças ao trabalho de valorização feiro pela Confraria do Butelo e das Casulas. Em 2011, pelas mãos de um grupo de amigos que se juntavam com regularidade para fazerem jantares, onde não faltava o butelo e as casulas. “Aí esse grupo foi percebendo que ambas as iguarias estavam a cair em desuso e era sobretudo difícil de as encontrar”. Quem o diz é Francisco Figueiredo, Grão-Mestre da Confraria do Butelo e das Casulas, recordando a nostalgia provocada por esses jantares quando chegava o inverno. “Era um grupo de amigos que além de bons comedores, valorizavam as tradições. Desse grupo surgiu então a ideia de criar a Confraria do Butelo e das Casulas, que ao longo dos últimos 12 anos tem vindo visivelmente a crescer”, contou o Grão-Mestre. 
Actualmente, a Confraria conta com aproximadamente 100 confrades e com um trabalho imparável de valorização dos produtos que representam. “Além de Grão-Mestre sou também vendedor dos produtos e posso dizer que ele tem vindo a ser muito valorizado nos últimos anos, graças também ao nosso trabalho. 
A procura pelo butelo é cada vez maior e, no caso das casulas, praticamente já não se comiam e agora voltaram a estar na moda”, disse Francisco Figueiredo. Além da valorização do produto, que leva à subida do preço do butelo, rondando actualmente os 25 euros, a Confraria tem participado em eventos de divulgação por todo o país e na Espanha e França. Em Abril de 2022, alguns membros da Confraria do Butelo e da Casula de Bragança foram às Furnas, nos Açores, a título de experiência, confeccionar no solo vulcânico o cozido com os produtos transmontanos. O cozido foi confeccionado com típicas carnes do porco e as casulas. Depois de demolhadas, as casulas foram acompanhar as carnes no tacho à temperatura do vapor e do calor do interior da terra vulcânica. “A acção feita nos Açores foi algo fora de série. Agora queremos dar continuidade a esses projetos e queremos seguir para outros países da Europa”, afirmou. Quanto ao Festival do Butelo e das Casulas, que decorre desde 2015, em Bragança, o Grão-Mestre sublinha o trabalho feito “acima de tudo pelo município”. “É sempre um gosto vermos parte do nosso trabalho refletido no Festival. Este ano fizemos um Capítulo da Confraria durante o evento. Conseguimos ter aqui 116 confrades de várias Confraria convidadas. Isto ajuda-nos a divulgar ainda mais o produto”, rematou. 
O XI Capítulo e Cerimónia de Entronização de novos confrades da Confraria do Butelo e da Casula decorreu no sábado, dia 18 de Fevereiro, no edifício Domus Municipalis.

Jornalista: 
Daniela Parente

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