A escola tinha uma lareira lá bem pertinho da secretária da Professora. Era território proibido para os alunos. Quando chegava o tractor com a lenha servíamos de carregadores, sem contar para a nota do período, mas nunca usufruímos do calor da lenha a arder. Existia um aquecedor eléctrico com uma vareta que aquecia as pernas da professora a tempo inteiro e que era, por vezes, a recompensa para quem se "portava bem" em determinado momento….
- Podes vir 5 minutos para junto do aquecedor por teres acertado a conta. Os outros roíam-se de inveja e no recreio vingavam-se das maneiras mais duras ou mais subtis.
Não podíamos usar luvas dentro da sala de aulas… não era fácil escrever mesmo com a ajuda do nosso “bafo” a tentar aquecer as mãos.
Os que tinham mais dificuldade na aprendizagem nunca souberam o que era aquecer as mãos num aquecedor ligado à eletricidade.
A vida não era só escola e os invernos proporcionavam-nos espaços que ombreavam com as melhores estâncias turísticas de Inverno do mundo.
Grandes nevadas originavam uma pista de neve, sem obstáculos físicos nem carros, desde o Trinta (onde era o quartel da tropa e é agora a sede do Município), até à agora avenida Abade de Baçal, era uma dádiva dos céus. -Todos em linhaaaaa. E dentro das caixas que transportavam as sardinhas para o mercado. – Partidaaaaaa, gritavam as mais velhas, que eram as nossas irmãs. E lá ia a garotada enfiada nas caixas de madeira das sardinhas, ribanceira abaixo a ver qual era o que batia primeiro com as fuças no chão. A neve não era preocupação, era alegria e divertimento. Não era necessário limpa-neve. Não havia pressa para chegar a algum lado. O tempo era de graça…
Os dias na escola, começavam invariavelmente com a entrada da professora. Ai daquele que não estivesse ao lado da respectiva "carteira" e perfilado para o “Bom dia Senhora Professora”.
Ninguém se sentava, a seguir cantava-se o Hino Nacional, a Portuguesa. Só depois tínhamos permissão para nos sentarmos e abrirmos os livros.
As aulas seguiam, paulatinamente, o seu percurso. Matemática, Português, Geografia, História…
Mas o melhor era sem sombra de dúvidas o intervalo.
Um dia, no intervalo, passou uma avioneta por cima da escola... será que vai aterrar no campo de aviação? Irá? Não irá? Nada como ir tirar dúvidas. E lá fomos a “abrir” sem olharmos ao limite de “velocidade”. Eu, O Tocá e o Tozé. O campo de aviação era longe. Corremos e corremos, transpirámos, mas quando chegámos, a frustração foi enorme. Nada de avioneta.
Só então começamos a pensar nas repercussões da nossa atitude. E agora?
Com o dobro de velocidade imprimida na primeira etapa, lá regressámos à escola a “bufar” e onde os outros já estavam quase a sair para ir almoçar ou comer a merenda… Que bem sabiam as sandes de marmelada que um colega meu trazia com pão caseiro. Trocávamos muitas vezes o lanche na altura em que apareceu o tulicreme. A Mãe dele fazia marmelada e eu às vezes tinha tulicreme.
Não nos livrámos de 50 reguadas em cada mão apesar de terem sido dadas com algum comedimento porque, afinal, nós os três até éramos bons alunos. Não ficámos com as mãos negras mais sim adormecidas. A Santa Luzia (a régua de madeira com os buraquinhos para “respirar”, era pesada e cumpria na perfeição a sua missão). Mas a intenção era servir de exemplo.
Fiquei, penso que os outros dois também, sem grande apetência por avionetas. Claro que isso não me impediu de, mais tarde, ter sido Secretário de uma Direção do Aeroclube de Bragança já que o "convite" do Sr. Licínio Gorgueira era irrecusável. Mais uma vez dei o meu contributo, num período difícil, de uma associação Bragançana.
Éramos os donos de todo o território aqui à volta. Só havia montes e espaço que considerávamos nosso. E era.
Nenhum rei tinha tanta terra como nós. De vez em quando para imitarmos o egoísmo dos adultos criávamos territórios independentes. Fazíamos uma espécie de castelos. Demorávamos dias e dias a construir as muralhas, pedra após pedra. Quando o nosso castelo já estava a tomar forma e a ser o mais bonito de todos, numa qualquer madrugada deparávamos com a triste realidade de termos sido atacados durante a noite por vândalos invejosos…e, começávamos tudo de novo.
Não estávamos na cama a apodrecer. Tínhamos ânsia em viver muitas horas com luz. Também não estávamos até de manhã nos chats, não havia computadores, nem a ver televisão a que poucos tinham acesso. O nosso interesse e objetivo era mesmo defender e reconstruir o nosso território no qual éramos mesmo os absolutos donos. Havia castelos em praticamente todos os reinos vizinhos e era um grave problema descobrir quem tinha, com inveja, destruído pela calada da noite, o nosso.
Reunidos os cavaleiros da nossa “Távola Redonda”, as alternativas eram sempre duas. Ou recomeçar a construir o nosso castelo vigiando ainda melhor a nossa fortaleza. Ou, num gesto de vingança e durante a calada da noite, também, arrasarmos os castelos da vizinhança sem poupar os inocentes.
As nossas espingardas feitas em madeira surtiam um efeito dissuasor nos nossos inimigos.
Os mais que muitos contratempos, levaram-nos a optar por reforçar os nossos territórios mais próximos de casa.
Começavam os tempos dos clubes no quintal...
- Podes vir 5 minutos para junto do aquecedor por teres acertado a conta. Os outros roíam-se de inveja e no recreio vingavam-se das maneiras mais duras ou mais subtis.
Não podíamos usar luvas dentro da sala de aulas… não era fácil escrever mesmo com a ajuda do nosso “bafo” a tentar aquecer as mãos.
Os que tinham mais dificuldade na aprendizagem nunca souberam o que era aquecer as mãos num aquecedor ligado à eletricidade.
A vida não era só escola e os invernos proporcionavam-nos espaços que ombreavam com as melhores estâncias turísticas de Inverno do mundo.
Grandes nevadas originavam uma pista de neve, sem obstáculos físicos nem carros, desde o Trinta (onde era o quartel da tropa e é agora a sede do Município), até à agora avenida Abade de Baçal, era uma dádiva dos céus. -Todos em linhaaaaa. E dentro das caixas que transportavam as sardinhas para o mercado. – Partidaaaaaa, gritavam as mais velhas, que eram as nossas irmãs. E lá ia a garotada enfiada nas caixas de madeira das sardinhas, ribanceira abaixo a ver qual era o que batia primeiro com as fuças no chão. A neve não era preocupação, era alegria e divertimento. Não era necessário limpa-neve. Não havia pressa para chegar a algum lado. O tempo era de graça…
Os dias na escola, começavam invariavelmente com a entrada da professora. Ai daquele que não estivesse ao lado da respectiva "carteira" e perfilado para o “Bom dia Senhora Professora”.
Ninguém se sentava, a seguir cantava-se o Hino Nacional, a Portuguesa. Só depois tínhamos permissão para nos sentarmos e abrirmos os livros.
As aulas seguiam, paulatinamente, o seu percurso. Matemática, Português, Geografia, História…
Mas o melhor era sem sombra de dúvidas o intervalo.
Um dia, no intervalo, passou uma avioneta por cima da escola... será que vai aterrar no campo de aviação? Irá? Não irá? Nada como ir tirar dúvidas. E lá fomos a “abrir” sem olharmos ao limite de “velocidade”. Eu, O Tocá e o Tozé. O campo de aviação era longe. Corremos e corremos, transpirámos, mas quando chegámos, a frustração foi enorme. Nada de avioneta.
Só então começamos a pensar nas repercussões da nossa atitude. E agora?
Com o dobro de velocidade imprimida na primeira etapa, lá regressámos à escola a “bufar” e onde os outros já estavam quase a sair para ir almoçar ou comer a merenda… Que bem sabiam as sandes de marmelada que um colega meu trazia com pão caseiro. Trocávamos muitas vezes o lanche na altura em que apareceu o tulicreme. A Mãe dele fazia marmelada e eu às vezes tinha tulicreme.
Não nos livrámos de 50 reguadas em cada mão apesar de terem sido dadas com algum comedimento porque, afinal, nós os três até éramos bons alunos. Não ficámos com as mãos negras mais sim adormecidas. A Santa Luzia (a régua de madeira com os buraquinhos para “respirar”, era pesada e cumpria na perfeição a sua missão). Mas a intenção era servir de exemplo.
Fiquei, penso que os outros dois também, sem grande apetência por avionetas. Claro que isso não me impediu de, mais tarde, ter sido Secretário de uma Direção do Aeroclube de Bragança já que o "convite" do Sr. Licínio Gorgueira era irrecusável. Mais uma vez dei o meu contributo, num período difícil, de uma associação Bragançana.
Éramos os donos de todo o território aqui à volta. Só havia montes e espaço que considerávamos nosso. E era.
Nenhum rei tinha tanta terra como nós. De vez em quando para imitarmos o egoísmo dos adultos criávamos territórios independentes. Fazíamos uma espécie de castelos. Demorávamos dias e dias a construir as muralhas, pedra após pedra. Quando o nosso castelo já estava a tomar forma e a ser o mais bonito de todos, numa qualquer madrugada deparávamos com a triste realidade de termos sido atacados durante a noite por vândalos invejosos…e, começávamos tudo de novo.
Não estávamos na cama a apodrecer. Tínhamos ânsia em viver muitas horas com luz. Também não estávamos até de manhã nos chats, não havia computadores, nem a ver televisão a que poucos tinham acesso. O nosso interesse e objetivo era mesmo defender e reconstruir o nosso território no qual éramos mesmo os absolutos donos. Havia castelos em praticamente todos os reinos vizinhos e era um grave problema descobrir quem tinha, com inveja, destruído pela calada da noite, o nosso.
Reunidos os cavaleiros da nossa “Távola Redonda”, as alternativas eram sempre duas. Ou recomeçar a construir o nosso castelo vigiando ainda melhor a nossa fortaleza. Ou, num gesto de vingança e durante a calada da noite, também, arrasarmos os castelos da vizinhança sem poupar os inocentes.
As nossas espingardas feitas em madeira surtiam um efeito dissuasor nos nossos inimigos.
Os mais que muitos contratempos, levaram-nos a optar por reforçar os nossos territórios mais próximos de casa.
Começavam os tempos dos clubes no quintal...
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