Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Ando há anos a defender a necessidade urgente e inadiável de recuperar a linha férrea em todo o nordeste, como ferramenta de desenvolvimento e de combate à desertificação. Foi com genuína satisfação que recebi a notícia da aposta governamental na ferrovia, garantindo que a mesma chegaria a todas as capitais distritais. O comboio em Bragança é uma exigência que deve unir todos os transmontanos e a possibilidade de ser proporcionado um acesso, tão fácil e rápido quanto possível, à alta velocidade, é igualmente desejável. Por isso, o projeto que pretende colocar a capital do nordeste no meio de uma linha de alta velocidade parece, à primeira vista, corporizar o sonho de quantos, genuinamente e sem quaisquer outros objetivos, pessoais ou de grupo, defendem soluções de futuro que contribuam para a melhoria do bem estar da gente do nordeste.
Porém…
Uma leitura atenta da proposta da Associação Vale D’Ouro levanta várias inquietações e dúvidas que será bom esclarecer antes de embarcar nesta viagem.
Em primeiro lugar é bom clarificar o que, em títulos de jornais e em anúncios políticos parece ser um logro: TGV em Bragança. É perfeitamente claro que o comboio que por aqui passe, se TGV não para, porque se parar, não é TGV. É esse o princípio claro e explícito da proposta. Não fica claro como e onde pode um brigantino aceder a esse tipo de comboios. Tem de ir a Vila Real? Tem de ir ao Porto? Ou terá de se deslocar até Zamora e como, já que o referido projeto contempla o trajeto Porto – Miranda do Douro, mas nada garante a continuação para lá da fronteira pois não consta dos planos da Renfe.
Em segundo lugar, é questionável o caráter pouco integrador desta travessia transmontana. Reforçando o papel de Vila Real, parece querer usar Bragança para esse mesmo propósito, ignora, sem qualquer justificação Chaves, menoriza, inqualificavelmente, Macedo de Cavaleiros e, à exceção de Mirandela, esquece todo o resto da região.
Em terceiro lugar é preciso avaliar, de forma cuidada e rigorosa, a rentabilidade desta configuração. É necessário demonstrar que esta solução é, economicamente, mais sustentável que a recuperação da antiga rede, modernizada e estendida. Um segundo encerramento por motivos de exploração tão deficitária quanto insustentável para uma CP exaurida e sem qualquer músculo financeiro, poderia ser fatal para o futuro.
Finalmente, um dos pilares que sustentam o regresso à ferrovia é o seu ganho ecológico. Uma das bases do pensamento verde passa, precisamente, pela reutilização (é um dos três R). Ora, a abertura de um novo canal, a construção de vários e grandes viadutos, a abertura de túneis e o enchimento de aterros e rasgamento de taludes têm de ser devidamente ponderados, em termos ambientais, por contraposição à recuperação dos canais existentes.
O comboio que chegar a Bragança (não pode haver dúvidas sobre este objetivo a realizar mais cedo que tarde) tem de servir, nas melhores condições, os brigantinos, mas também os restantes habitantes do nordeste, estejam em Moncorvo, Macedo ou Miranda. Não podendo ignorar um dos maiores objetivos, a ligação a Espanha e, para isso, não basta fazer o que no passado não foi feito – levar a linha até à fronteira – não pode, igualmente, torpedear um dos seus principais valores: o ganho ambiental.
Porém…
Uma leitura atenta da proposta da Associação Vale D’Ouro levanta várias inquietações e dúvidas que será bom esclarecer antes de embarcar nesta viagem.
Em primeiro lugar é bom clarificar o que, em títulos de jornais e em anúncios políticos parece ser um logro: TGV em Bragança. É perfeitamente claro que o comboio que por aqui passe, se TGV não para, porque se parar, não é TGV. É esse o princípio claro e explícito da proposta. Não fica claro como e onde pode um brigantino aceder a esse tipo de comboios. Tem de ir a Vila Real? Tem de ir ao Porto? Ou terá de se deslocar até Zamora e como, já que o referido projeto contempla o trajeto Porto – Miranda do Douro, mas nada garante a continuação para lá da fronteira pois não consta dos planos da Renfe.
Em segundo lugar, é questionável o caráter pouco integrador desta travessia transmontana. Reforçando o papel de Vila Real, parece querer usar Bragança para esse mesmo propósito, ignora, sem qualquer justificação Chaves, menoriza, inqualificavelmente, Macedo de Cavaleiros e, à exceção de Mirandela, esquece todo o resto da região.
Em terceiro lugar é preciso avaliar, de forma cuidada e rigorosa, a rentabilidade desta configuração. É necessário demonstrar que esta solução é, economicamente, mais sustentável que a recuperação da antiga rede, modernizada e estendida. Um segundo encerramento por motivos de exploração tão deficitária quanto insustentável para uma CP exaurida e sem qualquer músculo financeiro, poderia ser fatal para o futuro.
Finalmente, um dos pilares que sustentam o regresso à ferrovia é o seu ganho ecológico. Uma das bases do pensamento verde passa, precisamente, pela reutilização (é um dos três R). Ora, a abertura de um novo canal, a construção de vários e grandes viadutos, a abertura de túneis e o enchimento de aterros e rasgamento de taludes têm de ser devidamente ponderados, em termos ambientais, por contraposição à recuperação dos canais existentes.
O comboio que chegar a Bragança (não pode haver dúvidas sobre este objetivo a realizar mais cedo que tarde) tem de servir, nas melhores condições, os brigantinos, mas também os restantes habitantes do nordeste, estejam em Moncorvo, Macedo ou Miranda. Não podendo ignorar um dos maiores objetivos, a ligação a Espanha e, para isso, não basta fazer o que no passado não foi feito – levar a linha até à fronteira – não pode, igualmente, torpedear um dos seus principais valores: o ganho ambiental.
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
Sem comentários:
Enviar um comentário