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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Papéis vários - Anais do Município

Há no arquivo da Câmara em Miranda do 
Douro um livro manuscrito que começou a servir em 23 de Julho de 1854 e infelizmente terminou em 15 de Julho de 1901, destinado a escreverem-se nele «os acontecimentos e factos mais importantes que occorrerem e cuja memoria seja digna de conservar-se» em harmonia com a «Circular do Governo Civil de 17 de Novembro de 1847, referindo-se a Portaria do Ministerio do Reino de 8 do mesmo mez, mandada observar por Portaria de 15 de Abril deste anno e recomendada na Circular do Governo Civil de 21 do mesmo mez e anno».
Abundância e escassez de colheitas. — Os anos de 1851 e 1852 foram muito abundantes de cereais. No ano de 1853 «foi tão escassa a colheita de cereaes que de tres partes de lavradores, duas não colherão a semente, ficando muitas terras por ceifar pela pobreza em que estavam» (88).
Moléstia das vinhas. — «No anno de 1853 appareceu neste concelho a molestia das vinhas — Oidium-tuchér, — em pequeno ponto, e começou a augmentar mais no anno de 1854; e neste mesmo anno se vendeu o quartilho de vinho a quarenta reis» (89).
Sinistro na barca. — «Dia 15 de Março de 1854, foi Douro abaixo o barco desta Camara, e naufragou; hião dentro do mesmo os dois barqueiros Francisco Ignacio Netto, e Bernardo Jose Martins; e Nicolau Barbosa que tinha sido chamado pelos referidos para lhe guiar o barco, hindo tambem dentro deste hum soldado dos Carabineiros hespanhol e uma hespanhola: o 1.° e os dois ultimos afogarão-se por não saberem nadar, e os dois Bernardo, e Nicolau salvarão-se porque sabião tendo andado por muito tempo a lutar com as ondas. O barco se espedaçou em um rochedo em frente da Peneirada, e os ditos Bernardo, e Nicolau aparecerão despidos nesta cidade» (90).
Cheia do Douro. — «Em 18 de Fevereiro de 1855, foi a cheia maior do Douro que ha 32 annos tem vindo, sendo despedaçado pela corrente o barco que a camara possuia no Poço da Barcha» (91).
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(88) Anais do Município de Miranda do Douro, fl. 3 v.
(89) Ibidem, fl. 3 v. Vide tomo I, p. 288, destas Memórias.
(90) Anais do Município de Miranda do Douro, fl. 4.
(91) Ibidem, fl. 5.
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Geada. — «Em 1 de Junho de 1855 apareceu uma geada tamanha que queimou quaze todas as vinhas e ahinda alguns centeios» (92).
Cólera morbus. — «No mez de Setembro de 1855 apareceu no lugar de Sam Martinho deste concelho a cholera morbus aziatica, e ate ao fim do referido mez falecerão 10 ou 11 pessoas» (93).
Volta a ser cabeça de comarca. — «No Diario do Governo de 19 de Novembro de 1855, foi publicado o Decreto de 24 de Outubro do mesmo anno, que contem a divisao judicial e administrativa, em que foi elevada a comarca esta cidade “Sendo a comarca composta dos concelhos de Miranda e Vimioso”» (94).
Obra do tribunal. — «No dia 26 de Agosto de 1857 começou a obra do tribunal judicial» (95).
Geada. — «Na noite de 1 para 2 de Maio de 1859 cahio uma geada que queimou todas as vinhas e quaze metade dos centeios, bem como arvores e arbustos» (96).
Vandálica destruição do pelourinho. — «No dia 14 de Janeiro de 1859, foi destruido o Pelourinho da Praça, dizem que por ordens da Camara, para ser mudado para outra parte» (97).
Cheia do Douro. Destruição de uma ponte. — Em 30 de Outubro de 1860 houve uma das maiores cheias no Douro de que há memória — o Sabor também cresceu muito e «destruio a ponte de Izeda sendo esta uma das pontes de milhor construcçaõ e mais conservada do Districto» (98).
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(92) Anais do Município de Miranda do Douro, fl. 5 v.
(93) Ibidem, fl. 5 v. Vide tomo I, p. 289, destas Memórias.
(94) Anais do Município de Miranda do Douro, fl. 6 v. Miranda do Douro era uma das três comarcas antigas do distrito de Bragança (Moncorvo, Bragança e Miranda); pelo decreto de 26 de Novembro de 1836 foi suprimida ficando só as duas primeiras e ela quase toda incorporada na de Bragança.
(95) Anais do Município de Miranda do Douro, fl. 8.
(96) Ibidem, fl. 9.
(97) Ibidem, fl. 10.
(98) Ibidem, fl. 12 v.
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Rivalidades entre Miranda e Vimioso por causa da comarca. — No fólio 14 e seguintes trata largamente das rivalidades entre Miranda e Vimioso por este não querer estar sujeito à comarca de Miranda no que houve largas tricas políticas, reivinditas, protestos, etc., não cessando até que por Decreto de 28 de Dezembro de 1899 (Diário do Governo de 10 de Janeiro de 1900) foi a vila do Vimioso elevada a sede de comarca.
O raio na Torre da Sé. — A 31 de Julho de 1905 veio sobre a cidade de Miranda e concelho uma grande trovoada. Uma descarga eléctrica «cahiu sobre o zimborio da torre esquerda da Sé ou de Santo Amaro, arremessou sobre o telhado do lado sul e nascente as cantarias do zimborio e outras para o norte sobre o quintal da mesma Sé. As cantarias que cahiram sobre o telhado arrombaram este em diversos pontos damnificando muito e quebrando alguns craivos (...) Na torre muitas cantarias foram abaladas e removidas. As vidraças do fro[n]tespicio, e que foram collocadas em 1903 ficaram em estilhaços nada se podendo aproveitar dellas.
O raio cahindo sobre o zimborio da torre parece que repartio pelos quatro cantos da mesma, e segundo outros foram duas as faiscas que no edificio cahiram causando uma dellas os estragos nas janellas, e a outra os estragos no interior da torre. Fosse uma ou duas, o certo é que ficaram signaes evidentes da sua marcha pela abrindo a parede por onde se escuou sem que o orgão soffresse damno» (99).
Ponte do Penacal. — Em 7 de Junho de 1784 foi registada na Câmara de Miranda do Douro uma ordem régia que a manda concorrer para reparos na ponte do Penacal, entre Bragança e Failde, que estava muito arruinada (100).
Fábrica da cola em Carção. — A 23 de Setembro de 1785, pela Junta do Comércio, foi concedida licença a Ana Garcia, viúva e seus filhos António Lopes, Manuel Lopes e Francisco Lopes, moradores em Carção, concelho do Vimioso, para estabelecerem uma fábrica de cola na mesma povoação (101).
Obras nas igrejas da Paradinha Nova e Paredes. Nomes para a história da arte regional. — Ainda no livro citado, fólio 177 v., se encontra registada uma ordem do real erário que em harmonia com o decreto régio de 2 de Junho de 1788 mandou proceder às obras da capela mor e sacristia da igreja matriz de S. Miguel da Paradinha Nova, concelho de Bragança.
À arrematação da obra compareceram: «mestre Jose Agustinho Fernandes, do lugar de Coelhoso lançou na obra de carpinteiro e pedreiro» por 370.000 réis; «cento e vinte mil reis que o mestre João Thomé de Moraes, do lugar de Parada, lançou na obra de carpinteiro; oitenta mil reis que o mestre Francisco Xavier Machado lançou na obra de entalhador; setenta mil reis que o mestre João Ferreira do lugar de Parada lançou na obra de pintura». Igualmente no fólio 179 v. do livro citado está registada a ordem do real erário de 18 de Setembro de 1789, para se construir a capela-mor da igreja de Paredes, concelho de Bragança. À arrematação apareceram: mestre Sebastião de Morais que se prontificou a fazer a obra de pedreiro por 160.000 réis, mestre António Pereira a de carpinteiro incluindo o retábulo e competente talha por 179.000 réis.
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(99) Anais do Município de Miranda do Douro, fl. 19 v. e seg.
(100) Livro do Registo das Provisões de Miranda do Douro, fl. 173 v., do Arquivo da mesma câmara.
(101) Ibidem, fl. 174. Vide 2.° vol. destas Memórias, p. 447.
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Como complemento aos documentos retro transcritos, referentes a Miranda do Douro, damos ainda os seguintes epigráficos de não menor valor histórico na sua especialidade.

SIGLAS DOS CANTEIROS NAS PEDRAS DA TORRE DE MENAGEM E DA MURALHA DE MIRANDA DO DOURO (102)

Esta lápide de granito com letras inclusas e conjuntas foi encontrada nas ruínas do castelo de Miranda e está agora a meio da parede nos cabanais da praça. Vem a dizer: «No ano de 1661 mandou fazer esta obra do almazem Dom Rodrigo de Castro conde da Misqitela governando as armas desta provincia e as desta praça Andre Pinto Barbosa com dinheiro que deu o reverendo cabido».
Os celeiros comuns, montes-pios agrícolas, montes de piedade, armazém no presente caso, datam em Portugal de 1576 e eram destinados à protecção da lavoura indigente fornecendo lhe, por empréstimo a módico prémio, cereais para sementeiras. Ao mesmo intuito obedecem as portarias de 14 e 25 de Janeiro, 10 e 12 de Março de 1812 vindo alfim o decreto de
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(102) Vide tomo I, p. 259, destas Memórias.
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14 de Outubro de 1852 (Diário do Governo de 16 de Novembro desse ano) regulamentar e
uniformizar essa matéria de harmonia com os princípios da vigente administração pública e fiscal do Reino. O decreto de 20 de Julho de 1854 ampliou ainda favoravelmente as disposições dos precedentes sobre armazéns (103).
De um monte-pio na freguesia de Carrazedo, concelho de Bragança, fundado por um abade dessa freguesia, em que o prémio era de um selamim por alqueire, fala o Portugal Antigo e Moderno no artigo respectivo.
Certamente, porque viu as grandes vantagens deste pelos anos de 1897 em que aí foi pároco o actual abade de Meixedo Manuel António Rodrigues, fundou um em Soutelo da Gamoeda, sua terra natal, concelho de Bragança, em 1909 que vai marchando muito bem; pois os malsins, quando este sacerdote foi preso em Outubro de 1911 por conspirador de que afinal saiu absolvido, depois de muito sofrer de prisão em prisão até à Trafaria de Lisboa, chasquearam-no na imprensa dizendo que «accomulava as funções de taberneiro com as liturgicas»!!! E assim se intibiam as faculdades de trabalho, a boa vontade dos que, em beneficio dos desprotegidos, querem fazer algo. Das suas benemerências em prol da instrução que o levaram a gastar na construção da escola primária da sua terra e mobiliário da mesma passante de 450.000 réis, disse a Ilustração Trasmontana, 1910.
D. Rodrigo de Castro, conde de Mesquitela, governou as armas da província de Trás-os Montes desde 1659, até 1662 em que passou a exercer igual posto na província do Alentejo (104).
A passagem das tropas anglo-lusas na Guerra Peninsular em terras mirandesas ficou assinalada pela seguinte inscrição na porta lateral da igreja matriz de Malhadas em caracteres cursivos:

Gen.l Lecor
maio 24 1813
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(103) RIBEIRO, José Silvestre — História dos Estabelecimentos Científicos, Literários e Artísticos de Portugal, vol. 4.°, p. 178 e 196, onde se aponta a existência do celeiro comum de Miranda do Douro a que a lápide acima pertencia, como refere a tradição local, parecendo no entanto pelo sentir do Elucidário de Viterbo, que outro seria o destino do armazém.
(104) MENESES, Luís de — História de Portugal Restaurado, parte 2.a, liv. 3.°, p. 188 e seg.
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Quando a copiei em 1910 disseram-me, por assim o ouvirem a seus maiores, que fora o próprio general Lecor quem a escrevera.
Na padieira de uma porta na rua da Costanilha, em Miranda do Douro, há o seguinte letreiro:

REAL
ESTALJE DO
ZANBEIRA
1822

Consta que tomou este título de um rei, pretendente ou general espanhol, que ali esteve hospedado numa retirada durante o período das guerras civis do primeiro quartel do século XIX.

MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA

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