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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

O LAMENTO DE UM VELHO

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Descia as "Carmelitas" numa tarde outonal, de céu todo encarvoado, quando de súbito deparo com o João, que de passos entorpecidos subia a mesma artéria.
Caminhava de semblante sombrio, dedos encanastrados atrás das costas, em direção aos " Leões".
- "Há que séculos que não te vejo!? O que é feito de ti? Parece-me que estás acabrunhado..."
- "Ando a cogitar como é triste ser velho em Portugal."
- "Desembucha homem! O que é que te aconteceu?"
- "Estava com uma gripe das antigas. Fui ao médico. Entretanto contactaram-me para ser vacinado. Fui. Disseram-me que era mais seguro testar. Se fosse Covid era perigoso.
"Venderam-me o teste rápido. Perguntei se me faziam o favor de me dizerem como era.
"Responderam-me que era simples, mas tinha que ter muito cuidado para não obter resultado enganoso.
"Receoso, recorri a clínica. Informaram-me que não realizavam testes, aconselhando que fosse ao Centro de Saúde ou telefonasse para a " Saúde 24"
” Como o meu "Centro" é longe, fui a um hospital particular, mas disseram-me: que só faziam o deles.
“Regressei à farmácia. Atendeu-me amável empregada, que me declarou: no estabelecimento é proibido, mas que podia inscrever-me para realizar o teste, avisando-me que ficava dispendioso.
“Argumentei, que pagava o que fosse.
“Pela manhãzinha do dia seguinte fizeram-me o teste”
- “Pronto, ainda bem. Ficou resolvido.” - Disse.
- “Sim, mas fiquei a magicar: como tudo é complicado neste País, principalmente para os idosos. Nós somos a geração que ia para a escola de pé descalço e sacola de serapilheira; começamos a trabalhar na adolescência: passamos horas, se queríamos estudar, nos bancos da biblioteca, porque não havia Internet. Fomos para a guerra para defender a Pátria, que afinal parece que não era; e chegados à velhice.... Qual é a recompensa? Reforma que não chega para pagar um lar decente.... É tudo para os jovens, que são o futuro. E nós, que já não temos futuro? “
Abraçamo-nos e seguimos o nosso caminho, mas fui recordando como ainda é atual o célebre verso de António Nobre...

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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