14.dezembro.1893 – 13.dezembro.1894
TORRE DE MONCORVO, 27.2.1842 – TORRE DE MONCORVO, 26.6.1922
O Dr. Ferreira Margarido é este ano o candidato por Moncorvo.
Político de grande valor, já por três vezes governador civil do distrito, alia à sua enorme influência um caráter diamantino.
Amicíssimo do Dr. Lopes Navarro, outro trasmontano autêntico, outro caráter da mais pura água, outro político prestigiosíssimo, é devido à influência dos dois que o Partido Regenerador de Moncorvo está unido e forte, disciplinado e firme, uma barreira inexpugnável, até mesmo para a metralha do dinheiro progressista.
É de acordo com este último que o Dr. Margarido é eleito, porque o Dr. Lopes Navarro, num impulso de abnegação que o define, não teve dúvida, para que o seu colaborador e amigo não falte no Parlamento, não teve dúvida, dizíamos, em propor-se por outro distrito, pelo de Castelo Branco, cedendo-lhe com absoluto desprendimento um círculo que tantas vezes o tem elegido e ao qual sabemos que tem entranhado amor.
É que Lopes Navarro bem sabe que Moncorvo só se não ressentirá da sua falta, indo, como vai, a substituí-lo o Dr. Ferreira Margarido, o outro grande amigo da sua terra, o outro grande homem de bem.
Fonte: Gazeta de Bragança, Ano X (490), 1901, p. 1.
Um perfil de Ferreira Margarido (1902)
A propósito do perfil deste nosso querido e venerando amigo, traçado no último número do nosso estimável camarada O Transmontano, que, em grande parte, abaixo segue, ocorre-nos reproduzir alguns períodos de um artigo escrito pelo nosso prezado colega, Abílio Soeiro, e publicado na Gazeta de 9 de julho de 1895.
São passados sete anos e todos os nossos correligionários sabem o que eles representam na vida política, repleta de lutas terríveis, sempre gloriosas, daquele respeitável e respeitado chefe político, dos mais justamente queridos e venerados no distrito de Bragança.
Tem oportunidade a transcrição; é oportuníssimo reproduzir o que há sete anos dissemos.
Tem, pelo menos, a significação da nossa homenagem ao grande e prestigioso vulto do Partido Regenerador, que lhe deve incomparáveis serviços.
Do Transmontano:
“Não é uma biografia que pretendemos fazer do homem que, de há mais de vinte anos a esta parte, tem ganho para a sua pessoa particular e para o seu vulto político, honras ambicionadas por muitos, mas usufruídas tão-somente por homens de verdadeiro mérito, do maior prestígio, de inconcussa honradez, de ilimitada liberalidade, como é o atual deputado, o antigo governador civil, o distinto médico e… pai dos pobres, Dr. António Joaquim Ferreira Margarido.
Perdoe-nos Sua Exa. tão rude ataque à sua modéstia, mas, e apesar de não devermos a Sua Exa. senão muitíssima amizade, ficar-nos-ia um grande pesar de alma, não emitindo a expressão do nosso verdadeiro sentir, do sentir de todos os que têm a honra de o conhecer.
O nosso semanário enaltece-se publicando hoje o retrato de tão preclaro como prestante cidadão, para quem os turbilhões da política têm atrativos mágicos ainda que seus revérberos, bem das vezes, lhe têm posto à prova o seu caráter honradíssimo e de rija têmpera.
Lutador infatigável, venceu sempre, sabendo perdoar aos vencidos, fazendo, por esta sublime qualidade e por todas as virtudes que lhe exortam o coração, dos inimigos mais irreconciliáveis devotados amigos.
Desde 1880, época em que António Caetano de Oliveira abandonou a vida ativa da política regeneradora em Moncorvo, que o Dr. Ferreira Margarido se colocou à frente do partido, não tendo abandonado esse posto nem um momento, sempre vitorioso, sempre glorioso!
Logo que foi empossado na chefia, deu uma luta de eleição camarária, levando de vencido o adversário que nesses tempos possuía aqui redutos aliás respeitáveis.
Passado o triénio, já o Partido Progressista estava tão enfraquecido que não quis lutar, pedindo minoria que nesse tempo havia para composição das câmaras. Finalmente, o tino político do Dr. Margarido, a sua imensa popularidade, os benefícios que às mãos cheias prodigalizava a todos, criaram-lhe uma tão grande influência que ficou este concelho, e propriamente o antigo círculo eleitoral, inteiramente regenerador. É tal a sua força, que bem o provou nas últimas lutas. Em [18]99, estando o Partido Progressista no poder, porfiou-se essa gigantesca luta de sete meses, de todos bem conhecida. Essa luta para eleição de deputados foi uma das maiores glórias que o Partido Regenerador tem alcançado, merecendo os encómios e louvores não só dos chefes supremos do grande partido, que dia a dia manifestavam a sua admiração por tanto denodo, como também por todo o País, que tinha os olhos fitos na gigante luta então travada!
O candidato governamental, Dr. Júlio Araújo, depois de gastar rios de dinheiro, fazendo anular a eleição três vezes, foi, apesar de tudo, vencido, triunfando o candidato da oposição regeneradora, Dr. Lopes Navarro, indicado e apoiado por Dr. António Joaquim Ferreira Margarido.
Por essa ocasião soubemos de enternecedoras dedicações:
O Dr. Margarido, numa das aldeias do concelho, dirigiu-se a um eleitor pobre que à porta da sua humilde habitação o recebeu afavelmente, recusando-lhe todavia o voto pelo motivo de lho terem comprado por vinte mil réis. ‘Não te levo isso a mal’, disse Dr. Margarido; ‘és pobre e isso te desculpa. Não deixarei de ser teu amigo com dantes, adeus’. No dia imediato pela manhã, a primeira pessoa que em Moncorvo batia à sua porta era o eleitor a que nos vimos referindo: ‘Sr. Dr.: aqueles vinte mil réis faziam-me cá um remédio, faziam… mas não dormi bem. Já os fui entregar e conte comigo e com o meu filho. Adeus, Sr. Dr.’
Este simples caso, na sua singeleza, diz bem mais do que quantas folhas de papel nós pudéssemos encher como admiração pelo Dr. António Joaquim Ferreira Margarido.
Quando governador civil do distrito, encontrou o Partido Regenerador de Bragança esfacelado e houve-se por tal forma, que não só o reorganizou, como também o fortaleceu, agregando-lhe valiosos elementos. A sua acertada administração granjeou-lhe toda a confiança e prestígio do Governo, sendo-lhe oferecida a carta de Conselho, que não aceitou por não se coadunar o seu nobre caráter com honrarias que devam envaidecer.
Patriota como ninguém, tem sacrificado a sua vida e a sua fortuna pela sua terra e por todos os que o ocupam, preterindo os seus aos interesses alheios. Médico de partido desde que se formou, exercendo ativamente a clínica, nunca ninguém lhe perguntou o preço dos seus serviços, antes pelo contrário, é ele que, sem reclamos e antes com maior recato, deixa como que esquecido, na mansarda onde visita o pobre enfermo, o seu óbolo de caridade. É por isso que o Dr. Margarido se chama o pai dos pobres!
Por nós e pela terra transmontana nos orgulhamos de possuir uma individualidade tão insigne como é o Dr. Ferreira Margarido, a quem saudamos cordial e entusiasticamente!”
Fonte: Distrito de Bragança – Semanário político, literário e noticioso, n.º 35, 1.º ano, 7.11.1902.
Publicação da C.M. Bragança
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