Foto: Manuel Teles |
É também com orgulho que os irmãos Gonçalves fazem os seus pipos, procurando a perfeição, ao mesmo tempo que um aumento de produção. “Toda esta vontade de crescer, um pouco contra a maré nacional e sobretudo regional, surgiu, segundo Sérgio Gonçalves, o mais novo dos seis sócios, do patriarca, “que nos meteu no sangue a ideia da tanoaria. Para nós é um prazer, que nos desperta a vontade de querer inovar, trabalhar para novos mercados, ampliar a produção, a internacionalização”, refere. José Maria Gonçalves, estimulado pelo que viu e aprendeu, quando regressou a Portugal, em finais de 1973, resolveu continuar a arte que era já do seu pai, introduzindo-lhe algumas inovações. Começou por trabalhar numa oficina, em casa, tendo os filhos mais velhos como ajudantes. Neste momento, não só trabalham na fábrica os filhos, como também alguns netos.
Da pequena oficina, a empresa passou, na década de 80, para a chamada Rua da Indústria, na aldeia de Palaçoulo. “Montámos a nossa primeira fábrica e crescemos até não poder crescer mais”, explica Sérgio. Era necessário um novo espaço e, em 2003, foi inaugurada a nova fábrica, situada num terreno com cinco hectares. Além do espaço da fábrica, a tanoaria necessita de áreas para tratamento da madeira. Esta mudança permitiu duplicar a produção. Agora, a família continua a pensar em crescer. “Hoje conseguimos ultrapassar as 50 barricas diárias, em função do tipo de queima”. Após 2009, altura que estará já operacional um novo projecto de inovação tecnológica, introduzido pela empresa, no âmbito do QREN, estima-se um aumento de produção na ordem dos 20 a 30 por cento. Neste momento a produção anual é de 13 mil a 15 mil barricas. A aquisição de novas tecnologias de fabrico deverá permitir produzir cerca entre 16 a 17 mil barricas por ano. Actualmente a produção esgota, na totalidade e “para conseguir outros mercados temos de aumentar a nossa capacidade produtiva”. Neste momento trabalham na empresa, incluindo os sócios, que são também trabalhadores, 38 pessoas. Este número deverá aumentar, até 2009 rondará, para as 42 ou 45 pessoas. A nova tecnologia irá criar novos postos de trabalho, que terão de ser qualificados.
O aumento de produção não significa uma diminuição da qualidade. Pelo contrário, o controlo é apertado e cada barrica tem que passar uma série de testes, para sair de dentro da fábrica. “A forma como hoje as barricas são feitas é completamente diferente. Obedecem a critérios qualitativos, tecnológicos, completamente distintos, daqueles que se faziam na década de 50, 60. Hoje parte-se de uma base completamente industrial, a partir de critérios internacionalmente reconhecidos. A empresa tem certificado ISO de Qualidade. Por outro lado, os critérios de rastreabilidade, bem como a própria tecnologia que potenciou a produtividade, garante igualmente a aplicação de critérios qualitativos. A implantação dessa tecnologia não foi um processo fácil, porque este é um sector onde muitas vezes impera “o segredo”. Ou seja, cada tanoaria procura desenvolver a sua própria tecnologia, através de investigação. “Existem poucas empresas que se dediquem a fazer tecnologia específica para tanoaria, existem muitas máquinas, muito equipamento que são protótipos. Há máquinas de série mas é imprescindível fazer um trabalho de pesquisa, de inovação”, sublinha Sérgio Gonçalves.
Grandes mercados do vinho:
A empresa tem em alguns desses países agentes, ou representantes, que fazem a ligação entre os clientes e a tanoaria. Por vezes é necessário que os técnicos de Palaçoulo se desloquem a esses países, para fazer assistência técnica. Nos mercados mais distantes, como é o caso da Califórnia, a assistência é assegurada pelo agente do local. O principal produto feito nesta tanoaria são as barricas de 225 litros. O preço destes barris pode variar, conforme o tipo de madeira (crescimento lento ou rápido, carvalho francês ou americano) ou tipo de queima. O preço médio situa-se nos 470 euros. Aqui, segue-se sobretudo o modelo de Bordéus, quanto às dimensões e à madeira usada. Cerca de 70 por cento da produção é feita em carvalho francês. Na restante é usado carvalho americano. A madeira é comprada em troncos e é toda certificada, quanto ao tipo, mas também quanto à sua origem. Uma entidade certificadora acompanha também todo o processo de secagem, durante 24 meses, já no interior da fábrica de Palaçoulo, tal como acontece em França. Se a localização, numa aldeia do Nordeste Transmontano, pode trazer alguns inconvenientes, sobretudo ao nível da importação de matéria-prima e exportação de barricas, por via marítima, tem também algumas vantagens. “Estamos próximos de zonas vinícolas muito importantes, aqui perto, como Toro, Ribera del Duero”, refere Sérgio. Por outro lado, quando se seca madeira ao ar livre, para transformar num recipiente de vinho, o clima do Planalto e o facto de esta não ser uma região muito industrializada, ou com indústria muito poluente, é uma vantagem. “Não temos poluição, não temos muita humidade. Isso tem a sua influência na qualidade das nossas madeiras, que são secas ao ar, livres de contaminações químicas”.
O processo:
A matéria-prima da tanoaria JM Gonçalves é adquirida em bruto. Ao largo da unidade industrial amontoam-se pilhas de grandes troncos de carvalho. Todo o processo de transformação dos troncos em pipas acontece no interior da unidade. Isto não é comum em outras tanoarias, que, normalmente, adquirirem a madeira já cortada e tratada. Desses troncos aproveitam-se “entre 20 a 25 por cento”. Cortados na diagonal, à medida, os troncos são depois rachados. “O carvalho, para ser estanque, tem que ser rachado e, ao ser rachado, estraga-se muita madeira, que vai para lenha”. Depois da transformação dos troncos em aduelas, a madeira vai para paletes que são colocadas ao ar livre, para secagem. Cada molho é etiquetado com a informação respeitante ao tipo de madeira e respectiva origem. “As madeiras, dependendo das zonas geográficas, podem ser mais ou menos taninosas. Depois existem também os critérios dos anéis de crescimento.
Nesta fase, e mesmo depois da selecção apurada do tanoeiro especializado, há sempre aduelas que não aguentam a exposição térmica. Os defeitos são corrigidos, havendo kits de reparação para cada tipo de tratamento térmico. “Todos os dias são abatidas barricas para kits de reparação, no entanto é respeitado rigorosamente o critério de homogeneidade. Terão que ser aduelas do mesmo lote de madeira e com o mesmo tempo e temperatura de queima”. Há de seguida um novo controlo de qualidade. “A barrica tem que ser um espelho, no interior. Não pode haver fissuras, ampolas, não pode haver zonas de queima não homogéneas”. Introduzem-se, de seguida os tampos e os arcos definitivos. A vasilha tem que passar ainda por testes de estanquicidade. “É colocada água quente no seu interior, com pressão. Se houver fugas volta para trás, para ser reparada. Mais uma vez recorre-se aos kits de reparação”. Logo que passa estes testes a vasilha vai para o acabamento, onde é polida e submetida a mais um teste de estanquicidade. De seguida vai para a armazenagem, onde é colocada a identificação do cliente. A vasilha é depois embalada em cartão, plastificada e etiquetada. Assim está pronta a chegar ao cliente.
Por: Ana Preto
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