Carção situa-se no nó de convergência entre as aldeias de Argozelo e Santulhão, e é passagem obrigatória para quem se dirige à sede de concelho, da qual dista dez quilómetros. A sua área tem por limites as freguesias de Argozelo, Pinelo, Vimioso, Santulhão e terras do concelho de Bragança. Não tem anexas, mas outrora compreendia cinco casais no Rio Maças e onze moradores na Quinta da Veiga.
Capital do Marranismo
Os habitantes de Carção estão ligados ao comércio desde tempos muito antigos. Um grande número dos seus habitantes são descendentes de antigas famílias judaicas e cristãos novos que se refugiaram nas aldeias raianas com Espanha. A aldeia é mesmo considerada a Capital do Marranismo.
A aldeia transmontana está a merecer a atenção de vários estudiosos e turistas nacionais e estrangeiros, devido à presença desta comunidade judaica naquela região. O interesse demonstrado é tal que há já uma agência de viagens interessada em promover pacotes turísticos e a aldeia poderá mesmo vir a constar dos roteiros de turismo religioso.
Toponímia
No que se refere à sua toponímia, Carção parece derivar de Garçom, cujo significado é moço, mancebo, uma vez que a evolução G para C é frequente no português. Num documento de 1187, chama-se Carzom; em 1914 surge com a forma de Carceo; nas Inquirições, Carzom, Carceom, Carceon e Carcion; e, em 1530, era já Carçom. É notória a evolução regular para a forma actual de Carção.
Na toponímia local sobressaem ainda nomes de Penas Altas e de Pena Ataínha, talvez de origem germânica. Tanto "Tagina" como "Pena" parecem significar morada construída na rocha e, de facto, as primitivas casas desta povoação estavam edificadas sobre a rocha. Diziam os antigos que as primeiras casas foram erguidas nestes locais para as terras férteis ficarem disponíveis para o cultivo.
História
A primeira referência escrita a esta freguesia data de 1187, quando os Monges do Convento de Castro de Avelãs deram a el-Rei D. Sancho a herdade de Benquerença, no local que é hoje Bragança, recebendo em troca, entre outras, a povoação de Carção.
Durante o reinado de D. Sancho I, a freguesia foi dada a um fidalgo de Leão, D. Facundo. Assim nos referem as Inquirições de D. Afonso III de 1258:
"tanto Carção como a igreja pertenciam aao rei D. Afonso Henriquese que o pároco era eleito pelo povo, mas o Rei D. Sancho I doou-a a D. Facundo, fidalgo de Leão".
A Ordem do Hospital (Ordem de Malta) também tinha aqui alguns bens. Por carta de 23 de Fevereiro de 1418, D. João I concedeu ao "Castello Douteiro de Miranda" as aldeias de Pinelo, Algoso, Santulão e "Garçam", ou seja, Garção. Foi um curato de apresentação do cabido de Miranda e tinha um rendimento anual de seis mil réis de côngrua e o pé de altar. Pertenceu ao concelho de Outeiro até 1853, ano em que, pela reforma administrativa, foi extinto e Carção passou a integrar o de Vimioso.
A partir do século XV e XVI iniciou-se o seu maior povoamento. Este facto ficou a dever-se à expulsão dos judeus de Espanha pelos Reis Católicos. Assim, entraram no nosso país milhares de pessoas e, pelo lado de Miranda do Douro, calcula-se que tenham entrado cerca de 3000. Inicialmente, fixaram-se num local chamado Prado de Cabanas, quatro quilómetros a leste de Vimioso, dispersando-se depois, pouco a pouco. Uma vez que Carção estava bem situada e tinha feira todos os meses, aqui chegaram muitas pessoas desta origem, trazendo com elas uma nova cultura e uma nova economia. Ainda hoje, esta povoação tem traços profundamente judaicos.
Em 1855, Carção foi atacada pela "cólera-morbo" que provocou a morte a cento e catorze pessoas, falecendo três a quatro pessoas por dia. Nesta altura, foi determinante o auxílio do pároco Luís Dias Poças Falcão, natural de Carção. A sua atitude solidária foi louvada e permitiu-lhe a promoção a cónego honorário da Sé de Bragança.
Festas e romarias
A freguesia de Carção tem por orago Nossa Senhora das Graças, cuja festa se celebra no último Domingo de Agosto.
Tradições
Culto a Nossa Senhora das Graças
Na tarde do dia 27 de Novembro de 1830, véspera do primeiro Domingo de Advento, na Capela das Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, em Paris, a Irmã Catarina Labouré teve uma visão de Nossa Senhora. Aparecia de pé, sobre um globo, e segurava com as mãos um outro globo menor, sobre o qual aparecia uma cruzinha de ouro. Dos seus dedos, que subitamente se encheram de anéis com pedras preciosas, partiam rais luminosos em todas as direcções, e, num gesto de súplica, a Virgem oferecia o globo ao Senhor. Nossa Senhora olhou então para a Irmã Catarina e disse:
"Este globo que vês representa o mundo inteiro (…) e cada pessoa em particular… Eis o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que pedem."
Então, o globo que tinha nas mãos desapareceu e, como se estas não pudessem já com o peso das graças, inclinaram-se para a terra em atitude amorosa. Nesse momento, formou-se em volta da Santíssima Vírgem um quadro oval, no qual se liam, em letras de ouro: "Ó Maria Concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós."
"Faça cunhar uma medalha por este modelo; todas as pessoas que as trouxerem receberão grandes graças, sobretudo se as trouxerem no pescoço; as graças serão abundantes, especialmente para aqueles que a usarem com confiança."
Desde então, ficou instituído o culto de Nossa Senhora das Graças, também conhecida por Nossa Senhora da Medalha Milagrosa.
in:terrasdeportugal.wikidot.com
ligações:almocreve.pt
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