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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

A Navalha de Palaçoulo

«Pedi uma bica e dispus-me a observar discretamente o Poeta.
O Poeta, de quando em quando, parava de escrever e relia o poema e não parecia particularmente satisfeito com ele.

Às vezes levantava os olhos do papel e olhava na direcção do tecto, absorto, indiferente ao bulício do café em hora de ponta. Devia acreditar que alguma coisa interessante esvoaçava no ar, à semelhança das moscas, e, à semelhança dos camaleões, esperava fisgá-la com um golpe certeiro de língua - perdão, de génio. E na verdade fisgava, porque subitamente pegava resoluto na esferográfica - ah, e como eu teria desejado do fundo da alma, santo Deus, que se estivesse servindo de uma velha e gorda Pelikan de tinta permanente, em vez de uma Bic baratucha! -, riscava uma palavra ou mesmo um verso inteiro e substuía-os por algo melhor que acabara de fisgar. Por vezes tamborilava no tampo da mesa algum metro mais renitente.

Visto do sítio privilegiado onde eu me encontrava, o poema parecia agora um emaranhado de riscos e rabiscos, que só o seu autor entenderia, por certo. E, com efeito, passada quase uma hora, o Poeta pareceu dar-se por satisfeito. Imaginei então que, aprisionada naquela martirizada folha de papel e naquelas estrofes trabalhosas, estivesse agora alguma Inês - uma bela, cantável e provavelmente ingrata Inês. Ou Mécia.

O papel estava visivelmente mais pesado. Era o peso da imortalidade.» 

Titulo: A Navalha de Palaçoulo
Autor: A.M. Pires Cabral
Editora: Livros Cotovia
Preço: € 14,00
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