O bispo da diocese Bragança-Miranda alertou nesta segunda-feira para "a saída forçada" de mão-de-obra qualificada do território do Nordeste Transmontano, numa emigração "diferente" da que aconteceu nas décadas de 60 e 70 do século XX.
"As pessoas são obrigadas a emigrar porque não têm escolha, quando a nossa maior pobreza é o défice demográfico. Há saídas constantes de pessoas com cursos superiores, mão-de-obra qualificada, que são forçadas a sair, sendo esta uma realidade constrangedora", disse José Cordeiro, em entrevista à agência Lusa.
Na opinião do prelado, as pessoas deveriam poder optar por ficar ou emigrar, mas de forma livre, e não de modo "forçado". “Vergonha e arrependimento”: Papa Francisco escreve carta dura sobre abusos sexuais na Igreja Católica "Todos aqueles que têm responsabilidades sociais e políticas deverão repensar todo este problema.
Emigrar pode ser um direito, agora de forma forçada é outra coisa e por vezes quando menos esperam", vincou o prelado. "A emigração é um tema actual na nossa realidade, no território do Nordeste Transmontano tal como aconteceu nas décadas de 60 e 70 do século XX. É certo que as actuais gerações estão mais preparadas para o fenómeno da emigração" enfatizou o bispo diocesano.
Contudo, e para tentar contrariar a tendência de desertificação criada pela emigração, José Cordeiro, avançou que o distrito de Bragança tem 1% de imigrantes vindos, principalmente, de países da Europa de Leste que vêm para o território essencialmente para trabalhar na lavoura. "Em alguns concelhos do sul do distrito de Bragança, já temos uma presença significativa destas pessoas que escolheram este território para trabalhar e até mesmo para viver" observou.
Migrantes acolhidos aqui os estrangeiros só lamentam uma coisa: “Isso mesmo, o frio" O bispo diocesano lembrou que quando fez a visita pastoral ao concelho de Alfândega da Fé constatou que 20% dos alunos do 1.º ciclo eram de origem búlgara e de outras nacionalidades do Leste Europeu.
O clérigo aponta ainda como exemplo os cerca de dois mil alunos estrangeiros que estudam no Instituto Politécnico de Bragança (IPB). Quanto aos migrantes que vêm de territórios em conflito, algumas instituições de solidariedade social do distrito de Bragança já haviam demonstrado disponibilidade para os acolher, ao abrigo de protocolos com plataforma humanitárias nacionais e internacionais.
"A Santa Casa da Misericórdia de Bragança ainda acolhe dois migrantes. Contudo, estas pessoas não se fixam no nosso território porque procuram localidades onde já estão instalados alguns familiares e amigos", observou.
A vinda de pessoas que são obrigadas a abandonar os seus países de origem "é uma possibilidade real para ajudar a repovoar o território nordestino". "Esta é uma possibilidade que tem de ser bem articulada, e não pode ser feita de qualquer maneira, porque há pessoas que são provenientes de culturas e religiões muito diferente das nossas. Mas é possível e há já alguns casos de sucesso nas nossas terras", avançou o bispo.
Na diocese de Bragança-Miranda, foi criado o Serviço Diocesano das Migrações e Minorias Étnicas, que tem como missão ajudar quem chega a este território vindo de outros países. "As vezes, tratada a parte burocrática, as pessoas são deixadas aos cuidados de si mesmas e precisam de um organismo que as ajude a integrar-se na sociedade local ou a procurar trabalho", disse José Cordeiro.
Para os promotores deste serviço, é importante que quem chega ao Nordeste Transmontano seja acolhido. "É importante que as pessoas sejam reconhecidas e que se mantenha o respeito pela diferença de cada um", concluiu o bispo da diocese de Bragança-Miranda.
Agência Lusa
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