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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Memórias do Sr. Vasconcelos e da Central Hidroelétrica de Bragança

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Pessoalmente, não posso contar grandes coisas da Central, exceto que, durante a minha meninice, era atribuída à Central uma importância que acabava por ser um passatempo pois o seu chefe, chamemos-lhe assim, deve ter sido das pessoas a quem se rogaram mais “pragas” de entre todos os que mandavam em algum sistema produtivo instalado na cidade.

O Senhor Vasconcelos era o alvo de toda a fúria recalcada nas profundezas mais profundas do batoco que todos os Bragançanos têm dentro de si.
Quando trovejava muito, especialmente da que era Trovoada de Carocedo, não havia um morador que não culpasse o Vasconcelos pelo facto de a luz se apagar. “Ó Maldito Vasconcelos, inda a trovoada não chegou, já apagou a luz”. “Raios partam o Vasconcelos! Ele, o ladrão, foi feito às escuras e quer que todos tenham olhos de gato”. “O gajo está a dormir! Quer lá saber se se apaga a luz, se continua acesa!”.
Estas eram só algumas poucas das culpas do Vasconcelos que nem sequer pertencia à família do Miguel que tão má fama arranjou só porque dormia com a rainha. 
Eu, miúdo, achava que o homem devia ser uma figura sinistra. Até que um dia conheci o Sr. Vasconcelos. Tão simples como isto: nas minhas incursões ao Fervença, na maré baixa, levava comigo um garoto do circo que estava estacionado no Toural. Andava comigo na Escola. O gajo queria conhecer a cidade e eu resolvi mostrar-lhe a Central. Íamos os dois a descer as escadas ao lado da casa do Francês, descendo para o rio, e encontro o tio Armando da Luz. 



A este, conhecia-o eu bem pois trazia sempre nos bolsos uns bonecos de borracha e, quando nos apanhava distraídos, tirava um e, apertando-o, fazia-o chiar para, assustando-nos, rir a bandeiras despregadas. 
Era o pai do Alberto Bucha e trabalhava na Central a reparar contadores. Assim que nos viu, puxou logo de um boneco, mas eu já estava de sobreaviso e o do circo já tinha tarimba para qualquer eventualidade, pelo que acabou o tio Armando, com um sorrisinho, por dizer: “Já vi que sois lafraus e tenho que vos assustar doutra maneira.” Seguimos com ele e entrámos na Central. 
“Olálá!” Disse o do circo, “Aqui há ferro-velho que dava para vender no sucateiro e fazer monim”. O Sr. Vasconcelos, que se encontrava ali, disse para o tio Armando: “Mas estes dois não deviam estar na Escola? ”Respondi que só tínhamos aula de tarde. Perguntei ao pai do Bucha quem era aquele e a resposta foi como um raio de fazer apagar as luzes todas da cidade. “É o chefe, o Sr. Vasconcelos!” respondeu. Balbuciei: ”Mas ele é como os outros, até usa fato e gravata!”
O tio Armando riu-se e perguntou: “ Então querias que o homem usasse cornichos e tivesse rabo como este?”, e puxou de um boneco de borracha do outro bolso e fez criiiiiiii. Aí o do circo pulou para a porta, pronto a pôr-se ao fresco. Eu fiquei e disse: “Mas eles rogam-lhe tantas pragas que eu pensei que era como o corcunda de Notre Dame.” 
O Sarrafo, que seguia com o olhos pregados em nós a conversa, desatou a rir o que fez sair o Sr. Vasconcelos de um pequeno gabinete para ver o que se passava. 
Contaram-lhe o sucedido e, olhando bem para mim, disse-me: “Sei que dizem mal de mim mas que até os garotos achem que eu sou alguém assim, desgosta-me bastante…..
”Ora eu já tinha visto o Sr. Vasconcelos lá para a Flor da Ponte, só não sabia que era o da Central. Fiquei a saber e pude apreender o que pode fazer um vilão e um herói. 
Remato apenas com o final que não foi muito feliz. Chegados à Escola, contámos a aventura. O Professor Fraga estranhou a algazarra dos outros ao saberem do caso, indagou, chamou o Orlando e o do Circo, que acho que se chamava Gaspar, pregou-nos dez reguadas, cinco em cada mão a cada um, que o consolaram a ele e nos desconsolaram a nós. 



Ainda hoje estou para saber a razão do feito mas, como essas levei algumas mais, não de professor mas de outros parvos armados em educadores.
Assim conheci o Senhor Vasconcelos que até sabia do ofício mas que lidava com material já obsoleto e se constituiu em mito dos meus tempos de menino.
Ressalvo que foi a partir daí um homem a quem sempre respeitei e do qual guardo uma memória agradável. 
Do tio Armando da Luz vos falarei noutra ocasião.




01/04/2018
A.O. dos Santos
(Bombadas)

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