Oliveira Salazar com o Abade de Baçal no Museu Regional de Bragança |
A poucos anos do fim do século XIX, como já se referiu, a Câmara Municipal deliberou a criação de “um museu arqueológico em uma sala dos Paços do Concelho”, inaugurado em 14 de março de 1897.
Os patrimónios artístico e cultural – material e imaterial –, que se julgava ser necessário salvaguardar e "vivificar", mereciam a atenção de pessoas esclarecidas e das próprias autoridades. Havia diligências sérias para a sua valorização, resultantes da militância cívica de cidadãos intervenientes. A defesa e a salvaguarda estão inscritas no programa republicano. Implantado o novo regime, também se vai ficar, nestes campos, em certa medida, por generosas intenções. O decreto de 16 de junho de 1910, publicado já depois do 5 de Outubro, classifica como monumentos nacionais o Castelo de Bragança, os Antigos Paços Municipais, o Pelourinho, a Igreja do Castro de Avelãs e o Castro de Sacoias.
"É sob este dinamismo focalizado na perspetiva da importância do regional e do regionalismo na construção e vivência do nacional, que a I República, no domínio do património cultural – construído, folclórico e museístico –, se irá revelar como um forte catalisador do papel educativo do Estado. São domínios que merecem uma breve incursão.
Antes do 5 de Outubro, já Raul Teixeira solicitara os bons serviços do prestigiado arqueólogo e historiador de arte Manuel Monteiro para intervir, com a sua autoridade, no sentido de poderem vir a ser recuperados e restaurados os velhos Paços do Concelho. Para tal, era preciso evitar, num primeiro momento, que o edifício fosse cedido ao Ministério da Guerra. Pelo Jornal de Bragança de 30 de novembro, ficamos a conhecer a resposta do historiador, que telegrafa ao Governador Civil pedindo providências e solicitando a “interferência criação museu velho monumento". E ainda este comentário, feito pelo autor do artigo: "Ainda bem que Bragança tem a proteção de um considerado arqueólogo".
Do programa da visita do Rei D. Manuel constava, como se referiu, a "abordagem" do dossier relativo à Domus. Depois da revolução republicana, vão prosseguir, por iniciativa do poder municipal, as diligências para a reabilitação do monumento. Da sessão de 24 de outubro de 1910 – o assunto era considerado premente – saiu um ofício endereçado à comissão dos monumentos nacionais para lhe lembrar "o alto valor histórico dos antigos
Paços do Concelho".
As ações de restauro de maior fôlego – sob a tutela do Estado –, realizadas no Distrito, com especial incidência em Bragança, arrancam com a República, “mas já na parte final da vigência, e coincidem, genericamente, com a reestruturação dos serviços da Direção-Geral das Belas-Artes e, pouco depois, com a entrada em cena da DGEMN – Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais”.
O Abade de Baçal, Raul Teixeira e José Montanha tinham constituído em 1925, imediatamente antes do primeiro iniciar funções como diretor do Museu Regional, o Grupo dos Amigos dos Monumentos e Obras de Arte de Bragança.
A Domus acabou por ser restaurada graças à “teimosia” deste grupo. O restauro, sugerido em meados do século XIX – tendo existido, depois, um projeto inviabilizado de Adães Bermudes, em 1915, que estivera em Bragança para estudar as obras de reconstrução da Domus – foi executado, finalmente, segundo o plano do arquiteto Baltasar de Castro. As obras iniciaram-se em 1928 e a inauguração formal deu-se em 1932.
Este Grupo dos Amigos dos Monumentos vai desempenhar um papel fundamental na preservação e conservação do património bragançano e na organização e dinamização do museu, que até esse momento – 1925 –, só o era de nome, no dizer do Abade.
Das posições assumidas pelo bispo Alves Mariz – que declara ao clero, em circular de fevereiro de 1912, cismáticas as normas da Lei da Separação – resultam, para além do afastamento do prelado, a expropriação do Paço e do Seminário. O rés-do-chão do Paço vai albergar a recém-criada GNR – Guarda Nacional Republicana e outros organismos do Estado, e no primeiro andar vai instalar-se o Museu Regional, criado formalmente em 1915 a partir do antigo Museu Municipal, devido ao empenho do Abade de Baçal e de Raul Teixeira. Do edifício da Rua Direita passa para as instalações do antigo Paço Episcopal.
O Grupo dos Amigos foi essencial, pela sua atuação, para o grande salto que o Museu vai conhecer e para a notoriedade que adquire como instituição artística e cultural. A “estratégia” de atuação vai privilegiar a envolvência da comunidade. Nos anos de 1930, o coronel Salvador Nunes Teixeira, já Governador Civil, desempenhou um papel fundamental na obtenção de muitas obras de arte.
Raul Teixeira, Abade de Baçal e José António Montanha, os “amigos dos monumentos de Bragança” |
Em 1929, o comando militar do regimento de Infantaria n.º 10 foi autorizado a organizar o Museu Militar.
A iniciativa teria partido do comandante, coronel António José Teixeira.
A imprensa regional – que constitui um património particularmente valioso, como aliás se comprova pelo que temos visto – havia conhecido um notório desenvolvimento, sobretudo na capital do Distrito… Atrofia-se depois de 1926 e, em especial, com o Estado Novo. Não se dá bem com a falta de liberdade.
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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