Neste dia, deixamos um grito de alerta para o mundo e apelamos à ação: há um milhão de espécies em risco de extinção que não podem esperar. Se não houver uma revolução que altere a nosso modo de vida atual e trave as alterações climáticas, estas espécies vão mesmo extinguir-se. Elas e nós.
Águia-real. Fotografia | Pedro Rego |
De acordo com o relatório internacional divulgado pela Plataforma Intergovernamental de Política de Ciência sobre Biodiversidade e Serviços do Ecossistema (IPBES, na sigla em inglês), uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Ambiente, atualmente, existe um milhão de espécies em risco de desaparecer, num universo de oito milhões de plantas, insetos e outros animais.
O documento, apresentado no dia 6 de maio em Paris, França, por 145 cientistas de 50 países e que foi aprovado por 130 Estados, afirma perentoriamente que as atividades humanas e, consequentemente, as alterações climáticas, estão a ter um impacto brutal e sem precedentes na Natureza. Segundo referem os peritos, nunca a destruição da biodiversidade e dos ecossistemas foi tanta e tão rápida.
O estudo realizado mostra que a agricultura e a pesca são os maiores fatores de destruição dos ecossistemas, conseguindo uma taxa de extinção de espécies que é entre dezenas a centenas de vezes superior às médias dos últimos dez milhões de anos. Os efeitos das alterações climáticas causadas pela queima do carvão, petróleo e gás produzido pela indústria de combustíveis fósseis é outro fator determinante para a ameaça à biodiversidade e ao meio ambiente.
O relatório, que consiste na primeira Avaliação Global sobre o estado atual da Terra em termos de biodiversidade e sanidade, aponta também o caminho a seguir: só uma rápida e profunda transformação do sistema económico, social e financeiro poderá salvar-nos do colapso dos ecossistemas e do Planta Terra.
Fotografia | Roberto Covirno |
O alerta é claro: ou mudamos rapidamente o nosso sistema económico para um sistema que não tenha como meta o crescimento sem limites, ou os males provocados pela poluição, pela destruição de habitats e pelas emissões de carbono serão irreversíveis e afetarão todas as formas de vida na Terra.
O presidente do IPBES, Robert Watson, refere, num comunicado, que é possível começar a conservar, restaurar e usar a Natureza de forma sustentável, mas só se as sociedades estiverem preparadas para enfrentar os “interesses instalados” que parecem comprometidos a manter tudo como está.
“O relatório também nos diz que não é tarde de mais para fazer a diferença, mas somente se começarmos agora em todos os níveis, do local ao global”, frisa Robert Watson. A transformação tem de passar necessariamente por uma reorganização de todo o sistema que nos governa, “através de fatores tecnológicos, económicos e sociais, incluindo paradigmas, metas e valores”.
Em causa está uma nova forma de viver e estar no Planeta. E a mudança tem de começar imediatamente porque já perdemos demasiado tempo. Depois de décadas e décadas de alertas, dados, relatórios e estudos que apontam todos no mesmo sentido, agora, mais do que nunca, é urgente agir, e agir rapidamente.
Bosque |
O relatório em números: um alerta para a ação
Cenário global
• 75%: ambiente terrestre “severamente alterado” até hoje por ações humanas (ambientes marinhos 66%);
• 47%: redução dos indicadores globais de extensão e condição ótimas dos ecossistemas, esses indicadores continuam a diminuir num valor de pelo menos 4% por década;
• 28%: área terrestre global mantida e/ou gerida por Povos Indígenas, incluindo 40% de áreas oficialmente protegidas e 37% de todas as áreas terrestres remanescentes com intervenção humana muito reduzida;
• +/- 60 biliões: toneladas de recursos renováveis e não renováveis extraídos globalmente a cada ano, quase 100% desde 1980;
• 15%: aumento do consumo global de materiais per capita desde 1980;
• > 85%: percentagem de zonas húmidas existentes em 1700 que desapareceram em 2000, a perda de zonas húmidas é atualmente três vezes mais rápida, em termos percentuais, do que a perda de floresta.
Corvo. Fotografia | Pedro Rego |
Espécies, Populações e Variedades de Plantas e Animais
• 8 milhões: número total estimado de espécies animais e vegetais na Terra (incluindo 5,5 milhões de espécies de insetos);
• Dez a centenas de vezes: a medida em que a taxa atual de extinção de espécies a nível mundial é maior em comparação com a média dos últimos 10 milhões de anos, e o aumento da taxa está a acelerar;
• Até 1 milhão: espécies ameaçadas de extinção, muitas poderão estar extintas em apenas algumas décadas;
• > 500 000 (+/- 9%): parte dos 5,9 milhões de espécies terrestres estimadas no mundo com habitat insuficiente para sobrevivência a longo prazo se não houver restauração de habitats;
• > 40%: espécies de anfíbios ameaçadas de extinção;
• Quase 33%: corais formadores de recifes, tubarões e outras espécies relacionadas ameaçados de extinção e > 33% de mamíferos marinhos em risco de desaparecer;
• 25%: proporção média de espécies ameaçadas de extinção nos grupos terrestres, de água doce e vertebrados marinhos, invertebrados e plantas que foram avaliadas com dados suficientes;
• Pelo menos 680: espécies de vertebrados extintos devido a ações humanas desde o século XVI;
• +/- 10%: estimativa preliminar da proporção de espécies de insetos ameaçadas de extinção;
• > 20%: declínio na abundância média de espécies nativas na maioria dos principais biomas terrestres, principalmente desde 1900;
• +/- 560 (+/- 10%): raças domesticadas de mamíferos que foram extintas em 2016, com pelo menos mais 1 000 ameaçadas;
• 3,5%: raças domesticadas de aves extinta até 2016;
• 70%: aumento desde 1970 no número de espécies exóticas invasoras em 21 países com registos detalhados;
• 30%: redução na integridade do habitat terrestre global causada pela perda de habitat e deterioração;
• 47%: proporção de mamíferos terrestres não voadores e 23% de aves ameaçadas cujas distribuições podem já ter sido afetadas negativamente pelas mudanças climáticas;
• > 6: espécies de ungulados que provavelmente estariam extintas ou a sobreviver apenas em cativeiro se, atualmente, não existissem medidas de conservação.
Bosque de Carvalho Negral |
Florestas
• 45%: aumento da produção de madeira bruta desde 1970 (4 biliões de metros cúbicos em 2017);
• +/- 13 milhões: empregos na indústria florestal;
• 50%: expansão agrícola que ocorreu à custa da destruição de florestas;
• 50%: redução na taxa líquida de perda florestal desde os anos 90 (excluindo aqueles utilizados para extração de madeira ou agrícola);
• 68%: área florestal global atual comparada com o nível pré-industrial estimado;
• 7%: redução de florestas intactas (> 500 km2 sem pressão humana) de 2000-2013 em países desenvolvidos e em desenvolvimento;
• 290 milhões de hectares (+/- 6%): cobertura florestal nativa perdida de 1990-2015 devido ao desmatamento e extração de madeira;
• 110 milhões de hectares: aumento da área de florestas plantadas de 1990-2015;
• 10-15%: fornecimento global de madeira obtida pela silvicultura ilegal (até 50% em algumas áreas);
• > 2 biliões: pessoas que dependem de combustível de madeira para atender às suas necessidades de energia primária.
Parque Natural de Montesinho. Fotografia | Pedro Rego |
Alterações climáticas
• 1 grau Celsius: diferença média de temperatura global em 2017, em comparação com os níveis pré-industriais, aumento de cerca de +/- 0,2 (+/- 0,1) graus Celsius por década;
• > 3 mm: aumento médio anual do nível do mar nas últimas duas décadas;
• 16-21 cm: aumento da média global do nível do mar desde 1900;
• aumento de 100% desde 1980 nas emissões de gases de efeito estufa, elevando a temperatura média global em pelo menos 0,7 graus Celsius;
• 40%: aumento da pegada de carbono do turismo (para 4,5 Gt de dióxido de carbono) de 2009 a 2013;
• 8%: das emissões totais de gases de efeito estufa são provenientes do transporte e do consumo de alimentos relacionados com o turismo;
• 5%: percentagem estimada de espécies em risco de extinção com um aumento da temperatura de 2°C, essa percentagem sobe para 16%, se a temperatura aumentar 4,3°C;
• Mesmo que o aquecimento global seja de apenas 1,5 a 2ºC, a maioria das populações de espécies terrestres deverá sofrer uma redução drástica.
Consulte o Relatório AQUI e AQUI.
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