(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
A Flor da Ponte é um topónimo que sempre me intrigou! Vou dizer porquê.
É sabido que a casa de pasto do Sr. Joaquim se chamava a Taberna da Flor da Ponte. Mas reparem que a preposição + artigo (da) nos remete para uma situação de pertença. Assim presume-se que a Taberna estava num lugar previamente nomeado Flor da Ponte. A verdade é que sem uma certeza absoluta me parece que é o lugar que toma o nome da Taberna e não o contrário. Da linguagem da minha mãe sempre ouvi que o sítio era; Senhor dos Aflitos ou Ponte do Loreto, ao chegar às grades do Loreto e até à Ponte chamava -lhe Fora de Portas.
Bom, isto é um raciocínio meu, mas creio que o meu amigo Dr. Alexandre Rodrigues nos poderá elucidar. Fica para quando for ocasião.
Mas mesmo com risco de errar parece-me que o referencial primeiro é o vocábulo Ponte. Porquê? Flor é aqui adjetivo pois qualificará a beleza da Ponte, tendo a junção da contração (da) confirmado a denominação. O Senhor Joaquim ter-lhe-á juntado a designação Taberna e outra vez (da) por ser essa a forma mais correta de associar as duas entidades.
Como essa casa foi de certa forma famosa no seu tempo e foi lugar de lazer e sociabilização por largos anos, as pessoas começaram a chamar ao lugar o nome da Taberna e como o hábito faz o monge, o que mais sobrevive historicamente predomina sobre o efémero, resultando que se alterou a antiga designação de Ponte do Loreto que se tornou apenas nisso e não num lugar sem fronteira definida já que o perímetro é bastante largo sendo a nossa mente que o determina.
Quem estudar o caso nos arquivos da Câmara e compare datas que os documento contenham poderá fazer luz neste pormenor. Até lá continua a minha incerteza.
Ora, passo agora a contar as minhas aventuras por esses lados que em tempos idos foram palco de alguns momentos de alegria e de confraternização que ficaram na memória da garotada e até dos adultos da minha meninice.
Ponto 1) Chegada a Bragança da Volta a Portugal em Bicicleta.
Era verão e a euforia estava no auge. A caravana desde a cabeça do pelotão até ao carro-vassoura estava já na estrada e o calor fazia-se sentir, obrigando a um esforço titânico aos atletas que com denodo porfiavam por vencer o calor e a etapa cujo final estava marcado para a Flor da Ponte no final da Rua Alexandre Herculano em frente à Moagem do Loreto de Alexandre Afonso & C. Ltd. Havia uma faixa de pano fixada por dois cordões nos bordos, presos do lado dos Concelhos e do da Moagem. Tinha inscrita a palavra META e no passeio do lado da Moagem havia uma mesa para os cronometristas da etapa e juízes mais o encarregado de assinalar com a bandeira axadrezada o fim da etapa a todos os que a partir do vencedor se lhe seguissem. E aqui estava o inédito da etapa. O vencedor receberia o prémio correspondente e previamente combinado, mais os beijos das garçonetes, mas o último seria também considerado herói, pois para além de ter conseguido acabar a etapa e ter vencido o calor e a estrada era também um digno atleta que não foi vencido pela fadiga e desalento.
Assim a Comissão de Festas da Cidade decidiu presenteá-lo com um Presunto de alta qualidade de porco criado na Região Bragançana e que premiaria numa decisão inédita e de bom humor o primeiro a contar do fim a cortar a meta em Bragança.
A turma da Caleja, do Loreto, da Vila e de Além do Rio estava toda presente e delirante e o dia só acabou quando nas Verbenas à noite e em ambiente de apoteose foram entregues os prémios aos atletas primeiros classificados e se levantou o formoso presunto e se entregou ao atleta resiliente e lutador que passou por debaixo do pano esticado sobre a Rua Alexandre Herculano, em último do pelotão e justamente antes do famoso Carro Vassoura.
O vencedor da etapa foi Pedro Polainas da equipa do S.C.P., que creio veio a ser o vencedor final. O último, o que levou o presunto já não recordo o nome.
Com muita pena minha pois também devido à Pandemia não posso contactar os que estavam comigo no topo do muro que mostra as Armas dos doze Concelhos do Distrito de Bragança e me poderiam esclarecer nesta omissão imperdoável. Foi um dia intenso, no fim da Verbena e após um dia assim, cheguei a casa e caí na cama e já não me lembra mais o que se passou até ao despertar, sei apenas que não fui a tempo de ver a partida para a etapa seguinte.
Depois disto inventaram- se muitas histórias, incluindo a que dizia que o Pedro Polainas trazia um avanço considerável em relação ao seu mais direto perseguidor. Chegado ao Cimo das Cantarias, ainda não havia casas nesse ponto, para trás estava a Quinta do Cacete e Vale de Conde, deu-lhe vontade de "ir a campo" e deixou a estrada subiu o talude e deu folga à tripa. Calmamente subia o calção quando avista o seu perseguidor. Rapidamente se recompôs e tratou de dar ao pedal, resultando que ao cortar a meta, olhou para trás e o outro já o tinha quase filado.
Assim rezam os Anais do tempo belo da minha infância.
(Amanhã conto-vos outra estória passada na Flor da Ponte).
Bragança 06/04/2020
A. O. dos Santos
(Bombadas)
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