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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

D. Carlos e o príncipe D. Luís Filipe: exéquias em Bragança (1908)

A notícia do regicídio ocorrido em Lisboa em 1 de fevereiro de 1908, que vitimou D. Carlos e o príncipe D. Luís Filipe, segundo nos informa a Gazeta de Bragança, começou a circular depois das nove horas da manhã de domingo, 2 de fevereiro, com “a rapidez das grandes catástrofes”. O trágico acontecimento, numa Cidade onde se mantinha uma “devoção pela Monarquia”, levantou um “protesto de indignação contra o revoltante atentado que nem um príncipe benquisto e alheio a erros da Ditadura poupou”.
Os corpos dos assassinos: Manuel Reis Buíça e Alfredo Costa
Chegada a notícia, iniciaram-se as manifestações fúnebres “que são do estilo” praticar-se em casos de luto nacional: toque de sinos durante três dias – “sinais lúgubres em todas as torres da Cidade”; bandeiras a meia-haste na Câmara, quartéis, liceu, consulado espanhol, Associação de Artistas e Bombeiros Voluntários; encerramento das repartições públicas; além do envio, por parte das mais variadas entidades, de mensagens de condolências para o novo monarca – D. Manuel II – e para a Rainha D. Amélia (1865-1951).
Entre 8 e 19 de fevereiro, foram realizadas cerimónias religiosas de sufrágio nas principais igrejas da Cidade: Igreja de São Francisco (dias 8 e 10); Igreja de São Bento (dias 8 e 13); Igreja da Misericórdia (dia 12); e Sé (dia 19).
No dia 8 rezaram-se duas missas, a primeira na Igreja de São Francisco, e a segunda na Igreja de São Bento.
A de São Francisco, com o templo “vestido de crepes”, teve início às 11 horas da manhã, e foi rezada pelo capelão do Exército de Infantaria n.º 10, António Augusto Teixeira, assistindo a este ato toda a guarnição militar da Cidade, funcionários públicos, associações e “muito povo”.
Terminada esta missa, deu-se início às 11 horas e meia, na Igreja de São Bento, à solenidade fúnebre mandada celebrar pela Superiora do Asilo do Duque de Bragança. A igreja, “que nas festas de gala prima sempre em beleza e encanto de ornamentação”, estava ornamentada de luto, vendo-se no centro uma essa, com uma “quantidade de lumes artisticamente dispostos por entre uma não menor profusão de plantas, produzindo um efeito tristemente belo”. Encimava a essa uma coroa real caída sobre uma almofada de veludo preto, “toda velada por um extenso véu preto”. Durante a cerimónia religiosa, ladearam a essa seis meninas asiladas vestidas de luto com velas acesas nas mãos, enquanto outras seis faziam guarda de honra ao altar-mor. Cantou a missa de Requiem o padre José Cardoso Figueira, acolitado pelos presbíteros Francisco Figueiredo Sarmento e Albino Augusto Frederico, e à estante os reverendos José Manuel Diegues, o cónego, abade da Sé, António dos Santos Ribeiro, e o cónego Firmino Alves de Oliveira.
No fim da missa, tomou o pluvial preto o chantre da Sé, Dr. Sebastião Luís Martins (1825 1911), que fez a absolvição, depois de cantado no coro pelas irmãs franciscanas o Libera me. A esta missa, onde a banda militar tocou o Stabat Mater de Gioachino Rossini, compareceu uma “assistência seleta”, o que levou o articulista a afirmar que “raríssima” tinha sido a Casa de Bragança que não estivesse representada. Toda a assistência poderia assinar mensagens de condolências, colocadas em duas mesas com pano preto, para serem enviadas ao Rei, Rainha e infante D. Afonso (1865-1920), duque do Porto.
A Mesa da Venerável Ordem Terceira de São Francisco mandou, no dia 10 de fevereiro, rezar uma missa na Igreja de São Francisco, “forrada de preto com muito gosto e arranjo”, sendo celebrante o reverendo D. Manuel António da Ressurreição Fernandes. No fim da missa, foi cantado o Libera-me.
No dia 12 de fevereiro rezaram-se duas missas na Igreja da Misericórdia. A primeira, às dez horas, foi da iniciativa da Irmandade da Santa e Real Casa da Misericórdia, tendo celebrado o capelão Crescêncio dos Anjos Pires. A esta, seguiu-se às onze horas a missa mandada rezar pela Associação de Artistas, oficiando o reverendo presbítero António dos Prazeres Rocha. A decoração da igreja, “totalmente preparada de luto”, foi da iniciativa do provedor Albino de Carvalho, dando-lhe “o seu gosto e aptidão artística já sobejamente conhecida”. No dia seguinte, novamente na Igreja de São Bento, a Academia da Escola Normal mandou celebrar uma missa pelo presbítero António dos Prazeres Rocha.
A cerimónia mais importante realizar-se-ia no dia 19 de fevereiro, na Sé, e foi presidida por D. José Alves de Mariz (1844-1912), bispo de Bragança entre 1885-1912. A igreja estava ornamentada de luto, sobressaindo no centro uma “elegante” essa cheia de castiçais de prata com velas acesas. D. José Alves de Mariz entrou na Sé, “processionalmente revestido de pluvial preto e mitra branca de linho”, e subiu ao solio, onde teve como assistentes os cónegos José de Oliveira e José Maria Ferreira, cantando a missa o cónego Dr. Manuel da Nóvoa, acolitado pelos reverendos Figueiredo e Amadeu Pereira. Finda a missa, fizeram as cinco absolvições rituais o chantre Dr. Sebastião Luís Martins (1.ª), o cónego tesoureiro-mor Manuel da Nóvoa (2.ª), o cónego José de Oliveira (3.ª), o cónego José Maria Ferreira (4.ª) e o Bispo de Bragança (5.ª). O acompanhamento musical foi o da capela da Sé, regida do cónego Firmino Alves de Oliveira. Estas exéquias tiveram grande  assistência, estando presentes todos os representantes oficiais, tanto civis como militares, várias pessoas “da primeira sociedade brigantina”, associações de classe e muito povo. Do lado de fora da Sé via-se uma guarda de honra, formada por um esquadrão de Cavalaria e um regimento de Infantaria, que no fim deu as descargas do regulamento.

Não se limitaram a Bragança as manifestações de pesar pela morte do monarca e do príncipe da Beira. Em circular enviada para todo o clero da Diocese, o Bispo de Bragança recomendou que se fizessem sufrágios por alma de D. Carlos e de D. Luís Filipe, alguns dos quais são noticiados pela Gazeta de Bragança. O mesmo jornal relataria as missas de sufrágio rezadas em 1 de fevereiro de 1909, na catedral, e a de 1 de fevereiro de 1910, na Igreja de São Francisco.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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