A tia Maria Zé de Ousilhão, (Vinhais) disse “agora madruga-se mais: o olho de boi (sol) lá para as 6 e pico começa a abrir e durante a tarde já faz derreter o sebo.”
Nestes dias os escritórios da terra têm muito movimento. A tia Carla, de Gralhós (Macedo de Cavaleiros), diz “quem não semeia não vai lá ver se nasce.”
Quem já anda de gadanha em punho, a segar os lameiros, é o nosso tio Rebelo, de Valpaços, pois, segundo ele, este é ano de muita erva.
No dia vinte e um de Maio foi quinta feira da Ascensão, dia da espiga. Dizem os de mais idade que era feriado, fazendo-se a festa à Primavera.
O povo, nos seus provérbios, diz que da Páscoa à Ascensão quarenta dias são e o vento que soprar na quinta feira da Ascensão soprará todo o Verão. Então, se o proverbio está certo, no Verão não será um incómodo .
A tia Bina, de Carrazedo de Montenegro (Valpaços), disse-nos mais uma vez que mantém a tradição, no dia da espiga, de fazer um ramo de três espigas e uma papoila e colocá-lo atrás da porta com o objectivo de trazer abundância à casa, alegria, saúde, sorte e afastar as trovoadas. Já a nossa tia Chanqueira, de Sendim (Miranda do Douro), diz que para os seus lados é típico nesses dias comer uma arrozada de pássaros .
Nestes últimos dias festejaram connosco os aniversários os irmãos Paulo Jorge (16) e Ana Luísa (22), de Bragança; Ilda Alves (61), Sarzeda (Bragança); Leopoldina Santos (46), Grijó (Bragança); Manuel Teixeira (75), Montezinho (Bragança); Maria Augusta (88), Caravela (Bragança); Aniceto Pires (70), Samil (Bragança); Fátima Ferreira (29), Edroso de Lomba (Vinhais); Luís Pereira (51) Gostei, (Bragança); Ângela Cabral (62) Bragança; Gil Lisboa( 44), Parada (Bragança) e também Maria da Assunção Carvalho (100), Alfaião (Bragança). Para todos muita saúde e paz que o resto a gente faz. É com muito gosto que vou dedicar esta página a mais uma centenária, com a ajuda do neto,Vítor Pereira e a filha Domicilia Pereira, embora ela fisicamente ainda esteja bem a memória já não ajuda.
Maria da Assunção Carvalho, mais conhecida por “tia Suca”, celebrou na passada segunda-feira, 19 de Maio, um século de existência. Nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, e foi baptizada na igreja de Sant’Anna. Mas, ainda numa tenra idade, com cerca de três anos, viajou de barco com os pais para a aldeia de Alfaião, freguesia do concelho de Bragança. A vida nem sempre foi um mar de rosas, Maria ficou órfã muito cedo, perdendo os pais pouco depois de ter chegado a Portugal. Não teve uma infância fácil, foi criada pelos tios na freguesia de Alfaião e desde muito nova começou a trabalhar como empregada doméstica na casa dum chefe da polícia.
A “Suca”, alcunha que lhe foi atribuída pelo pai pela beleza que lhe era característica, segundo a filha mais nova, vem da expressão brasileira “suco da beleza” que deu origem a um nome de sobremesa. Foi casada duas vezes,.No primeiro casamento passou por uma etapa complicada, ficou grávida do marido e ao oitavo mês de gravidez o marido de Maria faleceu, devido à doença do tifo. Sozinha, com um filho nos braços, passado um ano, conheceu um novo amor. Casou pela segunda vez e deste casamento resultaram oito filhos, sendo que dois morreram precocemente. A partir desse momento passou a viver da agricultura, trabalhando juntamente com o esposo, conhecido como o “foguete”, por ter uma elevada estatura física e ser magro. A Senhora Assunção sempre encarou a realidade com muita frontalidade e de forma bastante versátil, lidou com muita gente, teve gados de cabras, ovelhas, vacas e mulas, chegando também a vender peixes que o marido apanhava nos rios de Alfaião e ainda produzia vinho para comércio. Os filhos homens participaram na guerra colonial.
Depois da guerra, todos emigraram para França, incluindo as filhas, tendo apenas contacto com eles no Verão. Infelizmente, o marido já partiu há 31 anos. Para o genro, com quem mora há largos anos, “foi uma mulher muito corajosa, uma verdadeira guerreira, com a vida repleta de histórias para contar aos netos” Apesar da casa onde morou a maior parte do tempo ficar perto da escola básica da aldeia, nunca frequentou o ensino, porém era muito boa em matemática, não falhava uma conta, principalmente nos trocos.
Durante a vida acolheu e deu de comer a muitos pobres, nomeadamente a desconhecidos que, por vezes, apareciam na aldeia. Segundo a filha mais nova, “sempre foi uma pessoa cheia de energia, disposta a ajudar o próximo. Uma verdadeira fonte de inspiração”.
Uma das peripécias mais hilariantes da vida de Assunção foi que “uma vez vinha acompanhada pelo meu marido e trazia o burro à beira rio, com a carroça carregada de lenha e com alguns peixes que tínhamos pescado. Veio repentinamente uma rajada de vento, que empurrou o animal para a corrente do rio, onde andou tipo um barco mais de 100 metros… felizmente a história teve um final feliz e o animal conseguiu sair do rio”. Segundo a tia Suca, quem a ajudou a sair deste embaraço foi uma prece feita à Nossa Senhora da Veiga, santa de Alfaião.
No centenário, os bombeiros voluntários de Bragança e um grupo musical fizeram-lhe uma visita na casa onde vive há 26 anos, com a filha mais nova, para a felicitar pelos 100 anos. Maria da Assunção ainda deu um pezinho de dança com a filha com quem vive, com as devidas medidas profiláticas, coisa que adorava fazer quando era mais jovem. A filha mais velha afirma “que era a verdadeira rainha do baile, uma bailarina autêntica”.
A tia Suca, no momento, conta com sete filhos, 12 netos (tinha 13, mas infelizmente uma neta partiu com 33 anos, em 2006) e 14 bisnetos. O filho primogénito tem 78 anos e a mais nova conta 59 anos. A neta mais velha tem 50 anos e o neto mais novo tem 22 anos.
Tio João
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