Tartaranhão-caçador. Still de vídeo/Gonçalo Mota. |
Ninho de tartaranhão-caçador com ovos. Fotografia Palombar. |
O primeiro ninho de tartaranhão-caçador foi identificado no dia 21 de maio, o segundo no dia 2 de junho e o terceiro no dia 9 de junho. A identificação dos locais de nidificação foi possível devido ao conhecimento, por parte dos técnicos da Palombar, sobre os comportamentos da espécie e os seus habitats preferenciais de nidificação. Após a identificação e localização exata dos ninhos, a Palombar contactou os proprietários dos terrenos agrícolas onde estes se encontravam, os quais, sensibilizados para a importância da espécie e para a necessidade de proteger a biodiversidade, mostraram total disponibilidade para colaborar com a organização nas medidas de proteção a serem implementadas.
Após a autorização dada pelos proprietários rurais, os técnicos da Palombar procederam à instalação de uma vedação para criar um perímetro de segurança e proteção à volta dos ninhos, os quais foram circunscritos por uma rede de malha metálica para evitar a sua destruição e/ou perturbações em consequência das atividades realizadas nos terrenos agrícolas, nomeadamente a ceifa de cereais, gramíneas e leguminosas, que normalmente ocorre no período de nidificação da espécie. A instalação da vedação ao redor dos ninhos foi realizada seguindo as orientações do "Manual de Proteção para os Ninhos de Tartaranhão-caçador (Circus pygargus) em Meios Agrícolas", 2011, Mãe d’Água, Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas/Universidade de Évora e Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.
A organização pretende também desenvolver um trabalho de maior proximidade com os gestores, proprietários e trabalhadores agrícolas da região de Trás-os-Montes, mais especificamente no Planalto Mirandês, em prol da conservação do tartaranhão-caçador.
Ninho de tartaranhão-caçador com estrutura de proteção. Fotografia Palombar. |
O tartaranhão-caçador é uma espécie estepária que faz os seus ninhos no solo, na grande maioria das vezes, em terrenos cultivados, habitualmente culturas cerealíferas, arvenses e forrageiras. A destruição involuntária dos seus ninhos, ovos e crias por parte de máquinas agrícolas durante a atividade da ceifa, a qual ocorre num período temporal que coincide com a época de nidificação da espécie, entre finais de abril e meados de maio (postura dos ovos) e posterior fase de maturação das crias, constitui uma das principais ameaças ao seu sucesso reprodutor e sobrevivência.
Os proprietários de terrenos e trabalhadores agrícolas têm, desta forma, um papel absolutamente fundamental a desempenhar na proteção e conservação desta ave de rapina. A sua colaboração é imprescindível para que as organizações de conservação da natureza possam executar as medidas que asseguram a sua proteção. A sensibilização e o conhecimento desta espécie e dos seus comportamentos por parte da comunidade, em geral, e dos proprietários e trabalhadores agrícolas, em particular, é igualmente essencial para o sucesso das medidas conservacionistas implementadas no terreno.
A conservação das populações de tartaranhão-caçador promove o equilíbrio dos ecossistemas e beneficia diretamente os agricultores e as suas culturas, pois esta espécie é predadora de pequenos mamíferos roedores e insetos consumidores de sementes e vegetais diversos e contribui para travar o aumento excessivo das suas populações.
Foi o contacto e a colaboração estabelecidos com o proprietário rural e agricultor Emanuel Gonçalo, com o trabalhador agrícola Nelson Preto Jorge e com a Associação dos Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa, proprietária de um dos terrenos, e os seus contributos fundamentais que permitiram à Palombar implementar os procedimentos necessários para proteger os três ninhos de tartaranhão-caçador identificados, possibilitando, assim, assegurar o sucesso reprodutor da espécie e contribuir para o potencial aumento da sua população.
Emanuel Gonçalo colaborou com a Palombar e autorizou a instalação das estruturas de proteção dos ninhos no seu terreno. Fotografia Palombar. |
A ausência de um censo de âmbito nacional desta espécie não tem permitido ter uma perceção mais precisa sobre a sua dinâmica populacional nos últimos anos ao nível de todo o território. Contudo, sabe-se de declínios dramáticos do tartaranhão-caçador nalgumas zonas, nomeadamente em Campo Maior, onde a espécie sofreu uma forte redução, associada à intensificação da agricultura. O grande decréscimo da cerealicultura extensiva, habitat de que depende a larga maioria dos seus efetivos, é considerado um dos principais responsáveis pela redução das suas populações.
Na vizinha Espanha, de acordo com dados do último censo realizado em 2017 e publicado em 2019, entre 2006 e 2017, as populações de tartaranhão-caçador diminuíram 23%, segundo a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife).
Tartaranhão-caçador: o exímio predador
O tartaranhão-caçador ou águia-caçadeira, a mais pequena das águias europeias, é uma espécie exímia na arte da caça e da predação e não é por acaso que os adjetivos “caçador” e “caçadeira” integram os seus nomes comuns. Esta rapina apresenta movimentos ágeis, rápidos, silenciosos e precisos e tem, por isso, uma grande habilidade para caçar presas vivas de pequenas dimensões. O tartaranhão-caçador é uma espécie nidificante estival, pelo que só está presente no território nacional a partir de meados de março até setembro. Esta espécie passa o inverno em África.
Tartaranhão-caçador. Fotografia Palombar. |
O seu habitat de eleição são áreas predominantemente desarborizadas, com solos secos ou húmidos e associadas a zonas agrícolas, principalmente culturas cerealíferas, arvenses e forrageiras. Reproduz-se em zonas seminaturais caracterizados pela cerealicultura extensiva, embora se possa reproduzir também nos planaltos serranos do centro-leste e norte e ainda em zonas costeiras. Na região mediterrânica, estima-se que 90% dos casais nidificam no interior de searas.
O tartaranhão-caçador alimenta-se essencialmente de pequenas presas: aves, pequenos mamíferos, insetos e lagartos. Apesar de ser considerado um predador generalista, a sua dieta pode apresentar especificidade a nível local na seleção de presas.
Os principais fatores de ameaça para esta espécie são: atividade da ceifa, intensificação da agricultura, abandono agrícola, utilização de agroquímicos, florestação das terras agrícolas, expansão de cultivos lenhosos, perturbação provocada pelas atividades humanas, abate ilegal, pilhagem e destruição de ninhos, e aumento de predadores de ovos e crias.
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