segunda-feira, 18 de julho de 2022

MORGADO - Parte I

Por: Luís Abel Carvalho
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Artur era do concelho de Carrazeda de Ansiães, da Fonte Longa, uma pequena aldeia (cerca de metade da área do Larinho), esquecida no meio de uma encosta, por entre montes e valados, a cerca de 5 Km de Carrazeda, com vista panorâmicas deslumbrantes. O pai era albardeiro e andava pelas aldeias do distrito de Bragança a fazer e a reparar as albardas, os cabrestos, as belfas, os atafais e os alforges. Artur acompanhava sempre o Pai e era especialista em fazer os “cornitchos” e enfeitar as belfas, os cabrestos E os atafais com berloques de lã, de cores variadas e garridas, enquanto o Pai dava forma e empalhava com palha de centeio a “massa “, a “testeira” e todo o corpo das albardas, assim como as belfas. Foi numa dessas idas ao Larinho, em que estiveram por lá três semanas seguidas sempre com trabalho, que Artur se apaixonou por Glorinha e que por sinal, dormiam num palheiro do pai dela, por caridade.
        Dessa vez tiveram muitas encomendas. Era a altura de renovar e melhorar o guarda-fatos dos burros e dos machos. Só o Nazário, feitor da Quintã, deu-lhes quatro belfas, duas albardas e dois atafais para fazerem de raiz e o Ti Trindade uma albarda e uma belfa para fazerem de novo e mais duas ou três belfas para repararem, entre outras muitas coisas de outros lavradores.
        Trabalhavam de manhã à noite, só descansando ao Domingo, do qual não perdiam a Santa Missinha.
        Também os burros e os machos tinham duas mudas de roupa: uma de andar todos os dias a trabalhar no campo e puxar ao carro (“andadeira”) e outra domingueira, a de “visitar a madrinha”, que era quando os seus donos iam às feiras ou visitar algum parente numa aldeia próxima. E era um fato completo: albarda, atafais, cabresto, cilha, manta e alforges. Normalmente aproveitavam as visitas familiares para lhes calçarem também umas botas novas. (Ferrá-los).
        Era uma questão de estatuto social, de orgulho e de dignidade. Os burros de então eram e representavam mais do que os automóveis modernos; eram “todo-terreno”, embora a velocidades mais modestas. Então naqueles carreiros estreitos e íngremes dos Boqueiros, das Fontelas ou dos “Ratchões”,em que só cabia uma pata de cada vez, até pareciam “top-models” na “passerelle”, tão elegantes que andavam.
        Quando Artur regressou a Fonte Longa, decidiu escrever uma carta de pedido de namoro à Glorinha. Pediu a um amigo que estudava no Porto que lhe arranjasse um bonito exemplar de pedido de namoro.
        - Olha. Aqui tens o que me pediste. Arranjei-te duas cartas; agora escolhes a que mais gostares. Só espero que consigas conquistar a rapariga, por que bem trabalho tive.
        - Bem hajas. S´a conquistar, combido-te p´ra padrinho de casamento. – Prometeu-lhe todo satisfeito.
        - E olha que eu aceito – disse o amigo sorrindo. 
        Artur agradeceu e foi de imediato para casa ler as cartas. Escolheu a segunda. No dia seguinte foi ter com o amigo:
        - Já ´scolhi uma. Agora só preciso que tu m´emprestes um tinteiro, uma caneta e papel.
        - Está bem. Anda comigo a minha casa. E já agora, levas também um mata-borrão – aconselhou-o o amigo enquanto lhe dava o necessário.
        - ´Stás rogado: s´ela m´aceitar, bais ser o meu padrinho.
        - Entendidos.
        Começou então a escrever devagar, com medo de se enganar e com tanto empenho e concentração na cópia, que ao fim de duas linhas já lhe doía a cabeça e os olhos e tinha de parar para começar mais tarde ou só no dia seguinte. Demorou seis dias na transcrição:
          
             “ Ex.mª. Menina Glorinha:
        Pouco dado às letras, quase não sei o que lhe hei-de dizer. Já várias vezes tentei escrever-lhe e sempre inutilizei as cartas por me parecerem falhas de interesse para a Menina Glorinha. Hoje, vencido o medo de lhe desagradar, ousei mandar esta missiva ao seu destino.
        Quase estou certo que ao abri-la, já deve desconfiar do que ela deve conter; no entanto, é preciso que eu lhe diga claramente o que pretendo de si, Menina Glorinha.
        Muito e muito lhe poderia dizer sobre o afecto que lhe consagro, mas para quê maçá-la com prosa sem beleza, sem outro mérito que o da sinceridade? Talvez ignore o que vão ser as minhas horas em que espero a resposta à minha pobre carta!
        Como eu tremo na ansiedade de receber a sua resposta! Ela irá trazer-me a esperança do Céu ou o desespero do inferno! Diz-me, porém, o coração, que a Menina Glorinha vai ter a suprema bondade de me escrever na volta do correio dando-me a boa nova de retribuir a afeição que lhe dedico.
        Já vai longa esta carta e pouco (tão-pouco!) lhe disse do que me vai na alma inquieta. Enquanto espero a sua carta, creia-me vivendo numa expectativa que me fará sofrer.

        Seu sincero admirador e apaixonado.
        Artur Gouveia.

        No fim, leu e releu a carta várias vezes. Dobrou-a com mil cuidados e meteu-a num envelope que o amigo do Porto também lhe tinha dado. Andou com ela no bolso interior da samarra quase três semanas, até que arranjou oportunidade de ir à feira dos oito, a Torre de Moncorvo. A feira de Moncorvo era o lugar central das actividades comerciais não só do concelho, como de todo o distrito de Bragança. Foi a primeira feira criada em Trás-os-Montes, em 1319 pelo Rei D. Dinis. Era o Shoping-Center de hoje, com um pouco mais de lama, mas com a mesma balbúrdia.
        Procurou, mas não viu Glorinha. Já desanimado e triste, acabou por encontrar na praça o Zé da Cruz, mais conhecido pelo “Bentas Largas”, de quem ficara muito amigo. A medo e com a voz embargada, lá puxou conversa de modo a ficar a saber que a Glorinha não tinha ido à feira.
        - Queres um cigarro? - Perguntou estendendo-lhe um maço de Definitivos.
        - Aceito.
        - Ó Zé da Cruz! – Começou titubeante. – Eu sei qu´a nossa amizade inda no tem munto tempo, mas no me lebas a mal se te pedir um grande fabor?
        - Bô?! Porqué qu ´abia de lubar?! Homessa!...Ped´à bontade.
         - Olha qu`é uma cousa munto séria e tens que me prometer que guardas segredo – disse Artur, como se fosse a coisa com a qual se salvaria o mundo.
         - Guardo. Dize.
         - Diz lá eu arda – pediu.
         - Ai, catantchos. Eu arda e morr´aqui ceguinho. - Bá, diz lá.
         - Tanho aqui uma carta a rogar namoro à Glorinha e tu és a única pessoa que la pode dar – disse quase a tremer.
         - Bô!!! – Disse o Zé numa gargalhada estridente. - Atão tu sabes ´screber?
         - Olhó arreguitchado! No sei munto, mas inda tchiguei andar no libro da treceira – disse com ar importante.
         - Ó despois deixastes os libros e fostes p´ralbardeiro.” Albardeiro: mete palha e tira dinheiro “ – atiçou-o na paródia.
         - Olha quem fala! Olhó pastor, à precura dum grand´amor, e isso le custa munta dor. Fal`ó despido do couratcho! `Stás munto guitcho! E logo tu, qu´és mais ´sperto do ca biqueira dum sóco. Se bem calhar nem lá tchigastes…
         - Eu? No passei da primeira. Apanhaba sempre a raposa! P´ra mim as letras sempre foram as obelhas.
         - Deixa-te lá mas é de tchabasquices e pega lá mas é a carta. – Disse Artur com ar sério, tirando-a do bolso “falso “ da samarra.
         - A mim já me tinha tcheirado a calquera cousa e inté tinha pensado: “ Hum…aqui há lobos na montanha”.
         - Aixe!! Bô?!! A sério? Oh... Bem mou finto.
         - À minha salbação…Juro por esta alma qu´heide entregar a Deus. Quando íamos dar a bolt`ó pobo, imbicabas sempre p´ra lá. E atão cando ela ia à aug`ó tanque, no tirabas os olhos dela.
         - Ó cum raio! Conho. E tu  atchas c´alguém mais s´aprecebeu?- Perguntou meio aflito.
         - No no sei.Qu´eu oubiss´alguma cousa,nunc´oubi nada. – sossegou-o o Zé. – Agora, quem anda d´olho nela, é o B´larmino d`Alzira .
         - Ó caratchos. Conho! Tu no mo digas nem a brincar, por alminha de quem lá tães. Esse inda tãe uns prédios bem bôs!
         - Ora bô, bô. Isso no adboga nada. O qué que bal´aquilo? Tirante um tchão que tem pró Prado…agor`ó resto são uns benairositos que no balem o fumo dum cigarro.
         - No inzageres, ó Zé. Inda tem muntas olibeiras e amendoeiras e uma boa binha pró Prado! E o catanudo tamãe é filho único c´mo ela!
         - E c´mo eu! - brincou .- Pois ´stá feito! Aquilo é só merouços e piçarros ladeirosos, lá p´ra longe. No conheces o dito: “ Diz-me o que tães e adonde”. E mais a mais, no atcho qu´a Glorinha ´steja intressada nele.É um basófias c´mó Pai.
         Artur acenou meia dúzia de vezes que não com a cabeça, cerrando os lábios em sinal de dúvida e respondeu:
         -  Pode até ser berdade, mas “negro é o carboeiro e branco o seu dinheiro”.- ia argumentando, arranjando razões a seu desfavor.
         - No t´apoquentes. Prédios já ela tem de sobejo. No t´esqueças qu` ó despois dos ricos, são os pais dela quem têm mais munto de tudo. Têm tchãos bôs,bôs amendoais e bôs olibais, alguns aqui à bolta do pobo. Bale mais o tapado de Santa Luzia do có resto todo do B´larmino.
         - “Casa em que caibas, roupa quanta bistas e terras quanto abistes”- voltou Artur à carga, parecendo auto-martirizar-se.
         - Mas agora tamãe passastes d´albardeiro p´ra doutor da mula ruça? – Brincou o Zé. - E atão, já qu´stás co essa lenga-lenga, tamãe te digo oitra : “ A olibeira do meu abô, a binha do meu pai e a figueira qu´eu plantei “. Intendestes?
         - Essa no na conheço! Mas atão, oube lá. Atchas que tenho impótezes?
         - Por i. As raparigas dão mais balor ós rapazes de fora, mesmo que sejam uns cunenas iguais a ti, do qu´ós da terra. Por isso é que se diz cá por cima:” Se fora bais casar, ou bais inganado ou bais inganar”.
         - Olhem só o penalbilhas! Pois sim. Agora tu bê lá, ó lapouço! No me deias cabo da carta.
         - Ora, ora. Tamãe era bem boa. Sou um home de palabra, catano – barafustou fingindo-se irritado.
         - Por bia das cousas, diz lá oitra bez eu arda.
         - Eu arda e morr´aqui ceguinho- repetiu e desta vez juntando os pés e cruzando os dedos atrás das costas.
         - Eu sei. Tamãe se no confiasse em ti, no ta daba, no é berdade? E além do mais, tamãe quero saber com que bara é que bareijo.
         - Descansa, qu´assim qu´abir a jeitos, já la dou. E agora bamos ó ´scondidinho buber um copo e quem paga és tu, porque eu ando c´más putas na Quaresma. – Acabou o Zé com as lamechices, deitando-lhe o braço pelo ombro.
         - Inté dois, carai.
         Desceram as escadinhas ao lado do Tribunal, mesmo em frente ao café Moreira e entraram na taberna.
         - Ó ti Lúcio! Bote cá dois cartilhos, fazendo o fabor- pediu o Zé, conhecido e familiarizado naquela farta e aconchegante casa.
         - E no petisquemos nada? – Perguntou Artur.
         - Tanho ali umas bogas de ´scabetche que ´stão munto boas.
         - Atão diga lá à Ti´Adilha que bote p´ra cá duas pratadas e ponha um litro dele – pediu o Zé, sabendo que não era ele que ia pagar.
         - Caratchos! ´Stão mesmo questosas – disse Artur.
         - Ora bô, bô ! Na bila no há quem faça petiscos milhor que a Ti´Adilha – disse o Zé em tom mais alto, para o Senhor Lúcio ouvir.
         Comeram bem e beberam melhor e Artur abriu o coração.
         - Sabes, Zé! Se co´a graça de Deus eu me casar co´a Glorinha,nunca mais hei-de arranjar mais ninhuma albarda. Nem as minhas, sequera…
         - E nem precisas… Co qu´ela tem? Ora bô bô!! E olha que no há-de tardar munto; a Mãe, coitada, óspois de lubar a ´scornada da baca, já pouco ou nada pode fazer. O que le bale é a Glorinha tratar do ganau porque o Pai, coitado, tamãe já ´stá um tchairel.
         Brindaram ao amor em geral e ao de Artur em particular. Saíram da taberna já animados e despediram-se à saída, já tocados pela pinga.
         - Tu bê lá, catano. No me deias conta da carta, caralhitchos.
         - Olha c´uma destas!! ´Stou bem encabado co´este melro.
         -  E olha! S´ela m´aceitar, juro-te p´elalminha da minha Santa Mãe, que Deus tem, que hás-de ser o meu padrinho de casamento– garantiu com ar sério e emocionado, fazendo algum esforço para se manter em equilíbrio.
         Ó caralhitchos! Lá tanho eu que bestir uma roupa noba.
        No tães nada. Só de caso percisares, arranjo-te uma fatiota.Bá...agora tanho qu´ir.Ó despois inda tanho qu´ir a pé de Carrazeda a Fonte longa.
        Quanto lebas inté tchigares lá?
        Cajo uma hora. É mais ou menos a mesma coisa do que daqui ó Larinho.
        Deram um forte abraço comovido e cada um foi para seu lado: Artur foi para a praça apanhar a “carreira” das três e meia para Carrazeda e o Zé foi para a estação a apanhar a automotora das quatro. Artur apanhou a velhinha Bedford, com a matrícula:” MN-78-27” de cor branca com uma lista azul claro no capôt até à porta. Os assentos eram de napa, cinzentos, com uma listas vermelhas. Em toda a largura as palavras:”Empreza Alfandeguense, Lda.” E no tejadilho: ”Serviços combinados com a CP”.
        Artur passou quase dois meses em desespero. Não havia resposta da Glorinha. Todos os dias ia ao correio. Foram dias e noites horríveis, só pensando nela, e o desgosto mergulhou-o numa enorme melancolia. Numa feira dos vinte e três foi a pé os cerca de 5 Km até Carrazeda e apanhou a inevitável velhinha Bedford até Torre de Moncorvo. Desceu até à “Cordoura”, junto aos tendeiros, a zona dos panos, das fazendas e do calçado. Antes, passara pela feira do gado, onde se vendiam e compravam as vacas, os bois, os machos e os burros, ficando no lado oposto a venda dos porcos e dos rebanhos. Para seu desespero não vislumbrava Glorinha. Estava já descorçoado e prestes a desistir quando finalmente a lobrigou debaixo de uma tenda. Estava com a Ermelinda do Nazário, rapariga da sua idade. Andavam a ver cortes e lenços da cabeça. Quando concluiu que estavam sozinhas, aproximou-se.
        - Olá meninas. Boas tardes.
        - Boas tardes – responderam ambas.
        - A menina Glorinha no s´importa que le dê uma palabrinha?
        - O que me quer? – perguntou corada.
         A Ermelinda fingindo-se interessada num corte de blusa, afastou-se.
        - A menina inda no tãe ninhuma resposta p´ra mim?
        - Resposta do quê? 
        - Da carta que le ´screbi e mandei p´ro Zé da Cruz.
        - Bô?! O Zé deu-m´uma carta, mas era dele, a pedir-me em namoro.
        - Ai o sorrelfas, que m´indrominou! Essa carta era minha; inganou-me o falmegas!
        - Quilhou-o e bem, o frosquinhas – disse Glorinha num sorriso. – Pois ele entregou-me aquela carta, eu li-a e c´mo no ´stou int´ressada num taininhas daqueles, no le dei resposta.
        - Ora bejam lá, o bentas largas, hã …?! Juro que tamãe o hei-de quilhar a ele.
        Artur notou que o equívoco a deixou lamentosa e aproveitou para jogar tudo. Há momentos na vida que decidem a nossa felicidade e o nosso futuro; temos que jogar forte e ser afoites no desconhecido. São esses momentos que ficam para a história da vida de um homem. O nosso problema é sermos todos muito civilizados! Todos temos uma conversa e um comportamento demasiadamente previsível; não abrimos os nossos corações com sinceridade total. É tudo muito calculado e socialmente correcto. Não temos a coragem de pisar o risco e de mijarmos fora do penico. - Há-de mas pagar, o penalbilhas. E j´agora, diga-me. E s´a Glorinha soubesse desde logo do princípio qu´a carta era minha, tinha-me respondido?
        Glorinha fez um silêncio calculado. Não podia fazer crer que as coisas eram assim tão simples na vida. Temos sempre que teatralizar um pouco – e aqui depende do talento de cada um. É como quando estamos a  repreender um filho de um acto, quando nós o fizemos mais do que uma vez e do qual já fomos também repreendidos pelos nosso pais. Mas a vida é assim, de simulação em simulação e de geração em geração, até à eternidade.
        - Talbez, quem sabe? – Respondeu enigmática, cheia de intenção.
        Estavam a jogar a maior cartada das sua vidas. Em suma, estava em causa a felicidade dos dois. Podiam não saber de economia, de equações diferenciais ou de matrizes, mas sabiam o mais importante: sabiam desde crianças de economia da vida; sabiam da vida em concreto, quais os problemas que tinham de enfrentar e de como resolvê-los no dia-a-dia, na vida real e não no computador, sentados a uma secretária.
       - Ora, bô bô. Isso assim no é de balha. Já perdemos tanto tempo co engano… Diga m´agora. Faça de conta qu´o Zé no nos tinha inganado. O qu`é que me respondia? – arrojou-se Artur.
       - No sei. Penso que sim. Bocê sabe qu´eu nunca tibe ninhum namoro e que tamãe simpatizei consigo.
       A partir daquele dia ficaram-se a namorar por carta e viam-se de vez em quando na feira dos oito ou dos vinte e três, em Moncorvo.
        Casaram depois de quase três anos de namoro e o Zé foi, efectivamente, o padrinho de casamento com um fato emprestado pelo noivo. A partir daí, Artur ficou a ser conhecido como “o da Glorinha do Morgado” e como sinal de objectividade e prática, o povo abreviou para “o da Morgado” e mais tarde apenas para “Morgado”. Já ninguém se lembrava que o nome dele era Artur dos Santos Gouveia. Já nem ele próprio!
       Nesse mesmo ano morreu o Pai da Glorinha e dois anos mais tarde morreu a Mãe, depois duma doença prolongada e sofrida. Não chegou a conhecer o primeiro neto; morreu numa quinta-feira às nove da manhã e o neto nasceu nesse mesmo dia às quatro da tarde. Glorinha não festejou o nascimento do seu primeiro filho e nem pôde ir ao funeral da Mãe. Dizem que tanta tristeza foi transmitida ao menino que na verdade, cresceu muito melancólico e triste.

Continua...

Fontes de Carvalho, Verão de 2017

Fontes de Carvalho
, pseudónimo de Luís Abel Carvalho, nasceu no Larinho, uma aldeia transmontana do Concelho de Torre de Moncorvo, Distrito de Bragança. É o filho do meio de três irmãos.
     Estudou em Moncorvo, Bragança e no Porto, onde se formou em Engenharia Geotécnia. É casado e Pai de três filhos.
    Viveu no Brasil, onde passou por momentos dolorosos e de terror, a nível económico e psicológico. Chegou a viver das vendas de artesanto nas ruas e a dormir debaixo de Viadutos.
      No ano de 1980 e 1981 foi Professor de Matemática em Angola, na Província de Kwanza Sul, em Wuaku-Kungo. Aí aprendeu a desmistificar certos mitos e viveu uma realidade muito diferente da propagandeada.
     Em Portugal deu aulas de Matemática em diversas cidades, nomeadamente em São Pedro da Cova, Ponte de Lima, Cascais (na Escola de Alcabideche, onde deu aulas aos presos da cadeia do Linhó), Alcácer do Sal, Escola Francisco Arruda e Luís de Gusmão, em Lisboa. Frequentou durante quatro anos, como trabalhador-estudante, o curso de Engenharia Rural, no Instituto Superior de Agronomia.
    Em 1995 fundou a empresa Bioprimática – Reciclagem de Consumíveis de Informática, onde trabalha até hoje como sócio-gerente.

Sem comentários:

Enviar um comentário