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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Lembrais-vos como era a Nossa Escola Primária?

 No Dia Mundial do Professor, relembro a minha infância e a minha Escola Primária e presto homenagem a todos, os bons, Professores e Professoras. Uma palavra especial e com muito carinho à que foi a Minha Professora nos 4 anos da Escola Primária, a Professora Lurdes Carvalho. Um beijinho Srª Professora e muito, muito Obrigado!
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Na nossa Escola Primária, havia muita disciplina mas também muito espaço para o divertimento para as artes e para o desporto, talvez não muito organizado, mas acima de tudo tínhamos tempo para brincar. A escola era governada internamente pela Professora, sem ver “estranhos” a intrometerem-se sem saberem do que estavam a falar e sem conhecerem as realidades locais, como hoje em dia fazem os iluminados sentados nas poltronas dos gabinetes na capital, convencidos de que sabem do que estão a falar.
Na sala de aula e aparentemente, não se distinguiam as crianças mais abastadas das que tinham no seio dos seus agregados familiares mais dificuldades económicas. Todos vestiam a bata branca. Na escola só havia rapazes. As raparigas iam para a escola do Loreto…
As diferenças verificavam-se nos pormenores.
Não me lembra de ter passado fome dia nenhum. No almoço de Domingo, tínhamos quase sempre bife ou frango assado com batatas fritas. O bife era pequenino, é certo, mas era um bife. Se as finanças familiares estavam mais em baixo, umas batatas fritas e uns ovos estrelados sabiam pela vida. Mas eu compreendia que não podia ter “coisas” que uma minoria de colegas ao tempo possuía. Os meus Pais sempre me deram o que puderam e eu tinha a noção perfeita disso e nada pedia.
Afinal o que me faltava e que eu efectivamente precisasse? Nada, não me faltava nada. Talvez umas sapatilhas mas…com que dinheiro se compravam?
Na escola havia os “meninos bonitos” e os outros.
Lembra-me de uma camisola de lã azul escura que a minha mãe costurou e que estava sempre impecavelmente lavada. Só me lembra daquela e, provavelmente, não teria outra. As unhas cortadas para não se ver o negro da terra entre elas, as orelhas lavadas. A minha Mãe lavava a camisola à noite para eu vestir de manhã. A camisola estava sempre lavada. A Senhora Professora inspeccionava as orelhas dos alunos todos os dias.
Mas será que algum dos meus colegas mais humildes tinha corta unhas? Claro que não. As famílias individualmente não tinham nem apoios de ordem económica nem de ordem psicológica e muito menos acesso à informação. A escola era um “bunker” para professores e alunos. A escola era um mundo à parte, mas respeitado.
As "carteiras" em madeira com o tampo que levantava, para em baixo se colocarem os livros que não estavam a ser utilizados e com o tinteiro de porcelana embutido, eram para um aluno. Ai do aluno que fosse visto a riscar ou a escrever no tampo da secretária. Ninguém escrevia, mas lá que os hieróglifos apareciam, lá isso apareciam. Os coraçõezinhos com as respectivas setas, as caricaturas da professora, mas sempre feitas nas secretárias dos outros colegas para defendermos o nosso território e nos ilibarmos de culpa. Faltava era a cor. Só havia lápis de carvão, giz e a caneta de tinta, mas já era uma evolução comparando com a pena de ganso do Fernando Pessoa.
Quando apareceram as primeiras esferográficas e passaram a ser permitidas na escola…aí sim…foi um apelo à actividade criativa nos tampos das secretárias e no interior das portas das casas de banho.
Na sala de aula, por cima do quadro negro de lousa e a ladear a cruz de Cristo crucificado, estavam sempre omnipresentes os quadros com as fotografias do Presidente da República e do Presidente do Conselho de Ministros.
A sala estava bem apetrechada. Mapas do mundo, mapas de Portugal Continental Insular e Ultramarino, com os rios bem marcados, os caminhos-de-ferro, os montes e as serras. Tínhamos de saber tudo de cor e salteado.
Só não tínhamos o Magalhães…
Eu era um bom aluno. Uma vez, na terceira classe errei uma conta. A Profª Lurdes não esteve “pelos ajustes” e o puxão de orelhas foi tão forte, que me deixou as ditas cujas negras. Lembra-me de ter chorado com as dores. Quando cheguei a casa ouvi o inevitável “bem feita”, devias ter levado mais.
Os “papás” não tinham, ao tempo, a pretensão de substituir os Professores na sua missão e muito menos consideravam a escola um depósito onde podiam deixar os filhos para poderem “andar a laurear o queijo”. A escola era considerada e respeitada por toda a sociedade.
Foi na escola primária que em mim despertou o gosto pela representação, pelo teatro e que ainda hoje me acompanha. A escola não vivia na penumbra e não era tão macabra como alguns ainda hoje pensam. Apesar de vivermos num regime ditatorial que se quis, por puro egoísmo e falta de visão, isolar do mundo e passar cinco décadas a olhar para o próprio umbigo, os intervenientes no terreno iam fazendo os possíveis com a imaginação que tão bem caracteriza o povo português.

HM

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