Nasci na cidade medieval de Bragança, terra situada entre as montanhas, com habitações rústicas e monumentos ímpares. Nas calçadas de granito e basalto aprenderam os meus passos a conduzir o meu olhar para a torre do histórico castelo, bem no centro da cidadela. Era imensa vista cá de baixo. Tinha que crescer para poder atingir o topo, tinha que aprender a ler para poder chegar mais alto, mais longe e mais além.
Frequentei então a escola primária das Beatas, uma pequena escola de rústicas paredes, tão rústicas como a lousa onde aprendi a escrever, sob o olhar atento do professor Álvaro Moreira
Cresci, ao som do ruído dos primeiros automóveis, experimentei o rigor do inverno onde o rio gelava completamente, saboreei o bater da chuva nas telhas lá de casa, senti bem de perto o aroma de urzes e giestas, brinquei nos montões de areia que serviram para a construção do liceu, apaguei pela última vez a chama da candeia a petróleo e pela primeira vez liguei um interruptor eléctrico. Que claridade! Quando o desliguei tudo parecia mais escuro que no dia anterior ao apagar a candeia.
As letras e os números começaram a fazer então mais sentido. Poderia agora subir ao topo do castelo.
Subi então! Pude ver ao longe, o liceu onde estudaria, acabado de construir! Só tive que descer as escadas do castelo, para subir durante cinco anos, as escadas do Liceu Nacional de Bragança onde aprendi a ser homem, por entre uma revolução de cravos vermelhos, o gosto pela leitura, pela escrita e o júbilo pelo curso acabado, que me abriria as portas para o futuro. Reli Torga, Garrett e Florbela que me influenciaram para tanto gostar de poesia. Aprendi que ser poeta é ser mais alto, é ser maior, que o sonho comanda a vida, que o amor é fogo que arde sem se ver e que o poeta até pode ser um fingidor.
Pelas contingências da vida, deixei de viver na minha cidade entre as montanhas, para passar a usufruir do longínquo horizonte desta imensa planície ora verde ora branca, em terras do Canadá.
Edmonton é a cidade onde resido onde a diversidade de culturas consegue unificar-se em torno da troca de ideias, usos e costumes, formando uma sociedade muito peculiar...o lugar ideal para ajudar a preservar o que de melhor existe entre os povos- A PAZ.
É para isso que também aqui estou, e para continuar com a esperança de um dia poder voltar à terra que me viu nascer.
Eduardo Mesquita
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