Quem o defende é Carlos Neto, investigador e professor da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, considerado um dos maiores especialistas mundiais na área da brincadeira e do jogo, bem como da sua importância para as crianças. “As crianças deviam estar a ter a possibilidade de brincar e a aprender de forma livre, adquirir conhecimentos, como, há trinta ou quarenta anos, fazíamos com os nossos amigos, numa dimensão informal, brincando muito na rua. Portanto, é preciso termos políticas públicas ousadas para tornar as cidades, famílias e escolas activas e não estar tudo preocupado com uma escola a tempo inteiro. É preciso que as crianças tenham tédio e frustração, que não seja tudo pronto e dado na hora, para que elas tenham resiliência e capacidade de adaptação”.
Declarações de Carlos Neto à margem de um seminário sobre questões ligadas aos maus-tratos a crianças e jovens, que decorreu em alfândega da Fé. O especialista defendeu que é preciso tomar medidas. “Temos que trabalhar todos em conjunto, em rede, para saber encontrar e diagnosticar essas crianças e jovens adolescentes que, hoje, estão numa situação de dificuldade de saúde mental, porque não têm expectativas, prazer na existência, dimensão de futuro e vivem com famílias destruturadas. É preciso, obviamente, ir buscar as memórias de infância, provavelmente os avós começarem a falar mais com os netos, para lhes mostrarem as experiências que fizeram na sua infância, e os pais fazerem também uma espécie de reabilitação para tentarem perceber que a educação dos seus filhos merece ser feita de outra maneira”.
Carlos Neto diz que se vive uma vida à pressa, de forma superficial, e que é preciso mudar rapidamente essa questão. “É preciso ganhar valores e ter objectivos e eles são construídos numa existência que tem de ter sentido, tem de se ter rumo. Para isso é preciso parar, pensar e voltar a começar de novo para uma nova existência porque esta leva-nos a situações dramáticas, muitas vezes de desinteresse, doença mental e de inquietação emocional”.
Carlos Neto esteve na semana passada em Alfândega da Fé.
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