quarta-feira, 20 de junho de 2012

Apresentação de "Falares de Mirandela" em Lisboa

Falares de Mirandela, apresentado em Lisboa
Foi um evento com muita dignidade, para isso muito contribuíram os três mirandelanses (e não só), Jorge Golias, Carlos Cordeiro e João Rocha. Não deixaram nada ao improviso, ensaiando as canções, as projecções, os poemas (que a esposa - Elsa - do Carlos Cordeiro tão bem declamaram) e até o protocolo foi levado a rigor. Poderia falar dos poetas/escritores presentes, dos distintos mirandelenses e amigos de Mirandela e outros transmontanos, mas, talvez, alguém fale disso.
Por isso, só vou referir a presença do Presidente do Município de Mirandela, António Branco, e esposa, que honraram e contribuíram para que o «Dia de Mirandela» tivesse mais dignidade e sucesso. Não se esqueceu de levar consigo vídeo de Mirandela, livros e revistas, alheiras das melhores de Mirandela, o melhor queijo de ovelha, o melhor azeite das oliveiras dos espaços urbanos mirandelenses e o bom vinho «Ferrador» de Vale de Salgueiro. Presidente que tão bem conhece o concelho e que tão bons resultados tem alcançado na promoção do Azeite de Trás-os-Montes. Jorge Lage
Da «Apresentação» de Jorge Golias retiramos alguns excertos:
[(…) “Falares de Mirandela”, é um livro que fazia falta e que vai fazer história. Em 185 páginas registam-se centenas de palavras e de Ditos Populares, que se perderiam na acelerada mudança linguística que se processa com a normalização dos diversos falares nacionais.
Patrocinado pela CMM(irandela), o seu então presidente, Dr. José Silvano, em Nota de Abertura, associa esta preservação da memória ao futuro da comunidade mirandelense: “um povo que não respeite e guarde as suas memórias é um povo que não tem futuro”.
Na verdade, as tradições, os usos e costumes, os festejos religiosos e pagãos e os falares locais constituem o cimento que molda o tecido social de uma comunidade e que nos garante a coesão social.
O escritor flaviense Manuel Carvalho Martins, o autor de “Por Aquas Flavias”, afirma no Prefácio que “A geografia léxica transmontana poderá situar-se em Mirandela, como epicentro da Terra Quente e da Terra Fria”. E mais adiante: “Esta recolha linguística é mais um valioso contributo para o conhecimento da nossa genuína cultura popular – expressão da sociedade com os seus transmontanismos, procurando descobrir as nossas raízes, o que somos e como somos…”. Carvalho Martins definiu ainda JL como um “arqueólogo da linguística”.
Homens de cultura, como A.M.Pires Cabral e Barroso da Fonte, já se referiram a esta obra com palavras altamente encomiásticas. Felizes as terras que têm filhos que as amam e delas tiram lições de vida substantiva. “Jorge Lage cada vez mais se revela um investigador predestinado para extrair da vulgaridade quotidiana, manancial de cultura popular . O linguarejar é uma ferramenta riquíssima, por diversificada e denotadora de um manancial de um léxico valioso e invisível”.
A estas sentenças de ilustres eruditos trasmontanos, eu vou juntando as minhas, de amador, atento e empenhado nas coisas da cultura, sobretudo nas que dizem respeito à minha terra.
(…)
É esta memória, sobretudo do mundo rural, que aqui se regista e que se ilustra com inúmeras notas de rodapé que, em alguns casos, constituem quase contos da vida rural mirandelense. Por isso o autor diz que este livro é um complemento do Mirandelês, este também apoiado pela CMM.
Jorge Lage é um mestre na arte de nos contar cenas da vida rural, com memória, com experiência de saber feito e com a sensibilidade que ilustra os seus escritos, cheios de pormenores de grande valia etnográfica, histórica e humana. (p.94 e 114, citar rodapés)
Esta obra vem na altura certa, antes que a memória nos traia e antes que, por efeitos da globalização, se percam estas marcas de identidade e um dia todos surjam a falar da mesma maneira.
Um urbano como eu surpreende-se com a valia científica e o talento da prática agrícola, com a partilha de tarefas Homem – Mulher, com o binómio Homem – máquina e com a magia da celebração dos ciclos da agricultura.
Este livro, para os mais velhos não trará grandes novidades, mas lhes recordará muitas palavras e ditos já meio esquecidos. Para os mais novos será uma fonte ilustrativa da idiossincrasia dos seus pais e avós, do seu jeito de comunicar, de fazer chalaça, mas também de educar. Fomos educados a ouvir, de manhã à noite, muitos destes ditos e provérbios, sendo alguns autênticas pérolas de saber popular.

Termino com palavras do próprio autor na sua Nota Explicativa: “Foi preciso que C(amilo)CB, A(quilino)R ou MT(orga) tivessem posto toda a energia na produção do texto literário, pincelado de ruralidade, para se começar a olhar, com alguma benevolência, para o sábio e sólido linguajar do nosso povo”.
Acrescento eu que CCB dizia mesmo que se os eruditos portugueses dessem a devida atenção ao falares rurais dos povos do Minho e de Trás-os-Montes teriam que mudar os dicionários. E se CCB tivesse lido A(quilino)R. bem lhe juntaria a Beira transmontana.
(...)


CTMAD em Lisboa 19 de Maio de 2012 – Dia de Mirandela]
(Jorge Sales Golias)

in:jornal.netbila.net

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