OPINIÃO - Barroso da Fonte
Esta crónica virá a público 884 anos depois de Portugal nascer como reino independente. Esse acto fundacional teve a sua «Primeira Tarde Portuguesa» naquela tarde de 24 de Junho de 1128, nos campos de S. Mamede. Afonso Henriques, apenas com 17 anos de idade e já órfão de pai (o Conde D. Henrique), opôs-se aos intentos da Mãe (D. Teresa) que se deixara seduzir pelo conde Fernão Peres de Trava, que tudo fez para impedir que o Condado Portucalense deixasse de pertencer ao reino da Galiza. Esse sonho de transformar um condado galego em país livre e independente, nascera com o Conde D. Henrique ao casar com D. Teresa. Mas esta, quando já viúva, traiu o marido, não só no relacionamento amoroso, como na ideia que com ele havia partilhado no sentido de emancipar-se do reino. Ora D. Afonso Henriques que vinha sendo educado pelo aio Egas Moniz, embora apenas com 3 anos de idade, assimilou essa decisão. E, aos 17 anos de idade, mais propriamente no dia 24 de Junho, travou-se o embate decisivo. Do pleito saiu vencedor o futuro rei de Portugal e as suas tropas.
Muitas batalhas travou para concretizar o sonho de seu pai. O 24 de Junho foi o acto de lançamento da primeira pedra para a construção do edifício que «deu novos mundos ao mundo» e que hoje se resume à Diáspora da Lusofonia.
No último 10 de Junho, coincidente com um Domingo, quase passaram despercebidas as cerimónias invocativas dessa data. Alegando poupanças, as cerimónias oficiais ocorreram em Lisboa. Os discursos dos políticos, exaltaram a capital e bateram palmas aos bairros populares, como se Portugal fosse apenas Lisboa, com o Tejo aos pés. Alegaram que estava a despovoar-se e que era urgente investir na (re)-urbanização 0lissiponense. Os discursos políticos, os debates televisivos e as próprias reportagens televisionadas deram a entender que Portugal vive em crise profunda por causa da falta de investimento e da não candidatura aos fundos comunitários a favor da Lisboa.
O próprio presidente da Câmara de Lisboa no seu discurso oficial sublinhou ataques à governação nacional por descuidar essa candidatura.
Enquanto esta festança se fazia ao maior nível político, junto ao Monumento aos Combatentes, em Belém, aqueles que nesse dia nacional deveriam sem lembrados ao mundo da Lusofonia, foram, vergonhosamente silenciados pelos diversos canais de televisão e pelos mass media que desde há cerca de um mês outra coisa não fazem senão falarem de futebol e daqueles que pensam com os pés.
Esta inversão de valores causa tédio e desalenta quem gostaria de viver no País que Afonso Henriques fundou e que tem vindo a ser esquecido e trocado por filhos desse país, como Luís de Camões, Saramago e alguns mais que podem ter tido muita influência na odisseia Portuguesa mas que não têm o simbolismo que teve o Fundador.
O primeiro erro histórico está à vista de quem tem dois dedos de testa: para que teimar em fazer do dia 10 de Junho, o dia de Portugal, se antes de Camões morrer já Portugal existia há 500 anos?
Insistir no dia 10 de Junho como dia da Raça, celebrando os seus heróis, é um erro de palmatória. Do tamanho daquele que chama à Ponte sobre o Tejo, a Ponte 25 de Abril. Ora se o 10 de Junho foi uma data imposta pelo Estado Novo e se a esquerda tentou apagar os símbolos desses 48 anos de liberdade a menos, porque será que não faz aquilo que se impõe que é trocar o 10 pelo 24 de Junho, como o verdadeiro dia de Portugal?
O segundo erro histórico resulta do primeiro ao tentar manter o dia 1º de Dezembro como feriado Nacionalista, quando essa data de 1640 é recessa, ou seja: a restauração só pode dar-se em algo que já existe. Esse algo nasceu em 1128. E portanto erra por ignorância quem pretende corrigir um erro com outro um erro.
Sampaio da Nóvoa, no discurso oficial do 10 de Junho, invocou uma frase de Roosevelt proferida em 1941: «a democracia funda-se em coisas básicas e simples: igualdade de oportunidades; emprego para os que podem trabalhar; segurança para os que dela necessitam; fim dos privilégios para poucos; preservação das liberdades para todos. Bonita receita para mudar a lei dos privilégios e dos privilegiados».Quando incluem os políticos essa disciplina na Constituição da República para que os intentos do 25 de Abril se cumpram?
Atravessamos um tempo cujo calendário parece invertido de pernas para o ar. O melhor que a sociedade tinha para os concidadãos consistia na solidariedade, na confiança mútua, no respeito pelos outros.
O saber era meta invejável. O bem-estar daqueles que nos rodeavam era um estado de alma que confortava a comunidade a que se pertencia. A amizade era um tesouro. A esperança uma etapa existencial. A estabilidade, a segurança e a disciplina, dentro e fora da família, penhores da honradez, de dignidade e do orgulho em ser Português. Tudo se foi com o vento suão.
Barroso da Fonte
in:jornal.netbila.net
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