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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O meu Menino Jesus por um dia

Eu não queria ir na procissão vestido de Menino Jesus… eu não queria mãe e as lágrimas eram tantas. A cabeleira era da imagem da Senhora das dores. A cruz foi o pai que a fez, ao serão, do arame que atava as relhas que se vendiam no nosso Soto. O menino Jesus da nossa Igreja emprestou-me por um dia a bola que representava o mundo e que me pesava tanto, como um dia me havia de pesar a própria vida.
E ali estava eu, por um dia, carregando uma cruz que não era minha… e trazendo nas mãos o mundo que eu não conhecia para além dos horizontes da Senhora da Serra.
- Meu rei, estás tão bonito! Meu menino Jesus! 
Dizia a Tia Sara enquanto limpava uma lágrima com a ponta do avental… como quem espera um milagre para a solidão da sua longa vida de criada da casa.
- Eu não quero ser o Menino Jesus! 
Ainda tentei uma fuga para a nossa horto… mas o chamamento do divino era mais forte e a mãe atenta não deixou que o Menino Jesus mais bonito da aldeia não fosse na procissão com o seu ar sofrido… percorrendo o longo caminho do Calvário que já então se adivinhava.
Olha mãe… mal tu sabias que a cruz seria tão pesada e que tantas vezes havia de cair nesta breve caminhada para o monte da crucificação… mal tu sabias mãe que me esperavam tantas partidas e breves chegadas… tanto luto… e uma longa quaresma para o teu Menino Jesus que envelhece.
Mas não fiques triste mãe… se a cruz me foi tão pesada… o mundo, na plenitude da vida, foi tão bonito e valeu a pena nem que só seja pela dádiva das tuas netas… das tuas bisnetas e da macieira da nossa horta que todos ao anos nos dá as maçãs mais doces, as mesmas que tu comias ao entardecer.
…desculpa mãe… estava a brincar… eu já quero ir na procissão!

Fernando Calado

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